“O PS é oposição, não está obrigado a aprovar e sustentar o Governo”: Pedro Nuno responde a Montenegro e diz que não é bengala do PSD

Pedro Nuno Santos respondeu esta quarta-feira à “chantagem” de Luís Montenegro, na sequência do discurso de tomada de posse do presidente do PSD como primeiro-ministro, garantido que o PS “é oposição, e não está obrigado a aprovar e a sustentar um Governo que tem um programa com o qual o PS discorda”.

“Pudemos assistir a discurso sem ambição, sem visão, sem desígnio para Portugal, mais focado na oposição do que propriamente em Portugal. Foi uma tentativa de construir uma narrativa para usar numa eventual campanha eleitoral. Ontem em vez de um Governo de ação, assistimos a Governo da vitimização, do queixume, provavelmente o que vamos assistir nos próximos meses, de não os deixarem trabalhar ou fazer o que pretendem fazer”, considerou o líder socialista.

Pedro Nuno Santos, que salientou que não pôde estar presente na cerimónia de tomada de posse, sem contudo avançar o motivo, lembrou ainda que “é importante ter consciência que nas últimas eleições a diferença da AD para com o PS foi de 50 mil votos, menos dois deputados. A AD não se pode colocar numa posição fixa na Assembleia de República, à espera que o PS dê a maioria que o povo português não deu”.

O desafio lançado por Luís Montenegro foi interpretado no Largo do Rato como “uma chantagem sobre o PS, como se o PS estivesse obrigado a aprovar e sustentar um Governo que tem um programa com o qual o PS discorda. Se o ‘não é não’ é para levar a sério, o que eu disse na noite eleitoral é também para levar a sério”, sustentou o secretário-geral socialista.

“O PS será uma oposição responsável, votaremos a favor do que concordamos e contra o que discordamos”, prometeu. “O que nós assistimos, aliás interpretado por muitos da forma correta, porque o interpretámos da mesma maneira, foi um desafio e uma chantagem sobre o PS, como se o PS estivesse obrigado a viabilizar um Governo que tem um programa, ou que quer implementar um programa com o qual o PS discorda”, sustentou.

“Ontem o líder do Governo, num discurso típico da direita em Portugal, iniciou um discurso sobre que não há dinheiro, a propósito do debate sobre excedente orçamental. Não é o excedente orçamental que coloca pressão nesta governação, o que coloca pressão é o programa económico da AD. A teoria dos cofres cheios não veio do PS, veio de uma campanha eleitoral em que foi prometido tudo a todos. Foram prometidos mundos e fundos pela AD”, acusou Pedro Nuno Santos.

“Alertámos durante toda a campanha para esse irrealismo. Assistimos à preparação de que tudo aquilo que foi sendo prometido não se vá realizar”, referiu. “O PS será fiel às suas propostas e vai combater programa negativo da AD. O PS perdeu as eleições, fará o seu trabalho na oposição com a certeza de que não será bengala. O PS não tem receio de chantagens, é fiel e firme na defesa do que acredita.”

“Esperamos que a AD acompanhe as nossas iniciativas com as quais concordem. Por isso o nosso trabalho não é estar à espera de decidir como votar o que vem do Governo. Esperamos que nas propostas onde há consenso sejam aprovadas. Temos divergências de fundo em muitas matérias, estamos comprometidos com o nosso programa.

“Será muito difícil o PS aprovar o Orçamento do Estado”

Há matérias que dividem as duas forças políticas: a saúde e a descida do IRC para as empresas são dois exemplos, segundo apontou Pedro Nuno Santos. “As propostas da AD para a saúde são negativas”, frisou, considerando que baixar-se a taxa de IRC “são prioridades erradas”. “O Orçamento do Estado é um documento global e haverá medidas com as quais concordamos, outras discordamos. Haverá medidas que achamos que devem ser implementadas que não estão previstas. E por isso será muito difícil estar ao lado da AD na viabilização do OE”, referiu Pedro Nuno Santos.

“Não podemos encerrar o assunto ‘não é não’ do líder do AD. Toda a gente parte do princípio que é para levar a sério, mas que o que o líder do PS não é para ser levado a sério. É praticamente impossível [a aprovação]”, prometeu o líder socialista. “Luís Montenegro tem de encontrar solução de governabilidade, quem tem de encontrar soluções é a AD. Não é fazer reptos públicos ao PS.” “Tenho disponibilidade total de diálogo com a AD”, garantiu.

“Tivemos um programa, um ideário, e mais de 1,8 milhões de portugueses a votar PS. É neste quadro que vamos trabalhar mas no nosso papel de fazer oposição. O pior que pode acontecer ao país é um primeiro-ministro que em vez de focado num Governo de ação está a cumprir um papel de vitimização. Não fomos nós que quisemos governar nestas condições. Precisamos de um Governo que governe, não que esteja pronto para o combate com a oposição”, concluiu.

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