O perfil dos jovens eleitores: têm “grande tendência para a abstenção ou uma atração pelo abismo”, revelam especialistas

Tudo… ou nada. Os jovens em Portugal têm uma “grande tendência para a abstenção”, revelou esta quinta-feira Luís Paixão Martins. “Os poucos que ligam à política acabam por se ligar a partidos que trazem inovação e que são causas”, frisou o consultor de comunicação, em declarações ao ‘Diário de Notícias’, lembrando o caso de “há 20 anos, com o Bloco de Esquerda” e agora com o Chega. Ou seja, os eleitores mais novos trazem consigo “uma certa atração pelo abismo”.

Pedro Magalhães, cientista político no ISCTE, salientou que “a probabilidade de tencionar votar Chega diminui com a idade”. “Entre os mais jovens de todos, é mais provável que declarem tencionar votar na AD ou no Chega do que no PS. Depois, a forte relação entre idade e a intenção de voto na AD e no PS impõe-se, com o segundo a ultrapassar a primeira por volta dos 50 e poucos anos”, revelou o estudo do especialista.

As sondagens apontam para uma subida do Chega no panorama político nacional. No entanto, as eleições só chegam dentro de menos de dois meses. “Sendo um estudo de intenções de voto fora do período eleitoral, ele tem pouca aplicação normalmente no período eleitoral. Ou seja, as diferenças são muito grandes porque nos estudos fora do período eleitoral, mais de 70% do potencial de inquiridos não aceita responder”, explicou Luís Paixão Martins, salientando que, fora dos períodos eleitorais, “os partidos mais moderados conseguem ter menos intenções de voto por não serem causas”.

A Iniciativa Liberal é uma das incógnitas do ato eleitoral de 10 de março, até porque é necessário levar em linha de conta o nível de instrução como um novo elemento sociodemográfico, referiu José Almeida Ribeiro, responsável técnico da empresa de sondagens Aximage. “A IL dirige-se a uma faixa de eleitorado com níveis de escolaridade elevados. Dirige-se à elite intelectual e à elite social dos países onde existem movimentos com as características da nossa Iniciativa Liberal. E atraem eleitores com elevados níveis de instrução”.

O género é também um fator a ter em consideração quando o que está em causa é a tendência de voto. No estudo de Pedro Magalhães, “há apenas duas opções onde aparecem diferenças significativas entre homens e mulheres. Na opção pelo Chega, claramente mais frequente entre os homens do que entre as mulheres; e na opção ‘Não sei’ – os chamados ‘indecisos’ -, mais frequentemente escolhida por mulheres do que por homens”. Há uma justificação, apontou José Almeida Ribeiro. “O Chega é um partido que está à revelia do processo de modernização das sociedades. E as primeiras pessoas a perceberem-se nisso são precisamente as mulheres. Portanto, eles não têm um discurso que incorpora esta realidade social em que hoje vivemos, de aprofundamento, felizmente, da igualdade de género, da igualdade entre homens e mulheres”.