O ‘mistério’ do desaparecimento da civilização de Tiwanaku, que dominou na América do Sul durante séculos

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A civilização de Tiwanaku, também conhecida como como Tiahuanaco, é amplamente reconhecida como a “cultura mãe” da América do Sul devido ao seu esplendor e influência que se estenderam por várias regiões, incluindo Peru, Chile, Argentina e Bolívia. Segundo a Unesco, “os vestígios de seus monumentos atestam a importância cultural e política de uma civilização que é claramente diferente das outras culturas pré-hispânicas da América”, no entanto, hoje são poucos os que conhecem ou já ouviram falar deste povo, muito provavelmente devido ao ‘mistério’ que envolve o seu desaparecimento.

Localizada estrategicamente cerca de 74 km a oeste de La Paz, nas proximidades do lago Titicaca, a cidade-estado de Tiwanaku serviu como o epicentro espiritual e político desta civilização entre os anos 400 d.C. e 900 d.C. Com uma extensão impressionante de 4 a 6 quilômetros quadrados, a cidade abrigava uma variedade de estruturas monumentais, incluindo pirâmides de pedra, palácios e residências para a elite. Além disso, as moradias se estendiam até as margens do lago, totalizando cerca de 20 quilômetros de área ocupada, como detalha o antropólogo Charles Stanish em entrevista à BBC Mundo.

Tecnologia e Inovação Surpreendentes de Tiwanaku
A civilização de Tiwanaku demonstrou um nível avançado de tecnologia e inovação para a sua época. A economia da metrópole era robusta, baseada principalmente no comércio e na agricultura. Tiwanaku contava com um complexo sistema de drenagem subterrânea e tecnologia de irrigação avançada que permitia adaptar-se às difíceis condições climáticas da região.

O sistema agrícola de Tiwanaku era composto por quase 50.000 campos conhecidos como sukakollos, que utilizavam técnicas de irrigação sofisticadas. A Unesco destaca que “estas inovações foram adotadas por civilizações posteriores e se estenderam até Cusco”. Além disso, os habitantes de Tiwanaku estabeleceram colónias numa área do tamanho da Califórnia, expandindo seu poder político e econômico através do comércio com diferentes regiões, conforme explicado por Stanish.

Imperialismo e Estrutura Social
A civilização de Tiwanaku exercia influência imperial sobre as regiões circundantes, comportando-se como um império clássico. Controlavam diversas áreas e estabeleciam relações comerciais, trazendo matérias-primas e produzindo produtos como cerâmica e tecidos.

A sociedade de Tiwanaku era hierárquica e estruturada, com uma realeza e elite conectada ao sacerdócio. Acredita-se que o povo de Tiwanaku falava uma forma ancestral da língua aimará, denominada jaqi. No entanto, apesar da sua grandiosidade e influência, a civilização de Tiwanaku desapareceu de forma misteriosa, e deixou muito poucas pistas sobre seu colapso.

O Enigma do Desaparecimento de Tiwanaku
O desaparecimento de Tiwanaku é um dos grandes enigmas da arqueologia e história antiga. Luis Miguel Callisaya, arqueólogo boliviano, afirma à BBC que “temos muitos mistérios para resolver, como o seu desaparecimento e a tecnologia que usaram para transportar pedras de mais de 140 toneladas”.

Existem diversas teorias que tentam explicar o colapso de Tiwanaku, desde crises ambientais, secas prolongadas, invasões externas até revoltas internas. Callisaya sugere que uma das evidências arqueológicas aponta para “uma oferenda para enviar uma mensagem pedindo chuva aos deuses” – ou seja, um grande período de seca terá resultado no colapso desta civilização.

A queda de Tiwanaku não foi um evento abrupto, mas sim um processo que ocorreu ao longo de pelo menos 200 anos. Bruce D. Owen, em seu estudo, sugere que houve “duas etapas da diáspora de Tiwanaku”, com grupos se dispersando e estabelecendo novas comunidades em diferentes regiões.

Dessa forma, a civilização de Tiwanaku, com sua rica história, inovações tecnológicas e influência imperial, deixou um legado duradouro que influenciou civilizações posteriores na América do Sul. No entanto, o mistério de seu colapso continua a intrigar os estudiosos e arqueólogos, tornando-se um fascinante enigma da história antiga.

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