“O meu trabalho é criar riqueza”, diz CEO da Casa de Investimentos

A casa de investimentos procura selecionar empresas com vantagens competitivas, rentabilidade acima da média, gestores capazes e balanços sólidos.

Emília Vieira é a CEO da Casa de Investimentos, instituição sediada em Braga que gere cerca de 173 milhões de euros. Em entrevista à Executive Digest, esta admiradora de Warren Buffett propõe a filosofia do investimento em valor como a opção certa para quem procura retornos atrativos, numa lógica de longo prazo.

Criou a Casa de Investimentos depois de 15 anos a trabalhar na Banca, em vários países!
É verdade, trabalhei durante 15 anos quase por todo o mundo e, a partir do momento em que nasceu a minha segunda filha, começou a ser mais difícil conciliar a carreira internacional e a vida pessoal. Também não queria que os meus filhos crescessem sem a mãe por perto. Após trabalhar com bancos na Suíça, Londres, Nova Iorque ou Tóquio fazia-me sentido criar o meu próprio negócio. Juntei dinheiro para criar algo em que verdadeiramente acreditava. Isto é, uma empresa que me permitiu fazer com o dinheiro dos clientes aquilo que gostava que fizessem com o meu se os lugares fossem trocados – é que apesar de dar formação em mercados financeiros para salas de mercados, equipas de contabilidade, risk managers, às vezes mudava de hotel duas a três vezes por semana e nem tinha tempo para gerir o meu dinheiro.

E quais são os principais objetivos?
O objetivo foi criar uma casa alicerçada em vários pilares: o primeiro é a filosofia de investimento em valor, testada pelo tempo, em ações de empresas que sejam boas empresas, negócios excecionais – comprar bem, a desconto, que é o que diz a filosofia de investimento em valor. Depois, alicerçar isto numa comunicação clara e absolutamente transparente. Alguém que abra uma conta na Casa de Investimentos não vai ouvir dizer que terá uma rentabilidade positiva imediata ou nesse ano. No curto prazo não sabemos, mas sabemos que a quatro, cinco, 10 anos as rentabilidades serão muito positivas e que hoje é uma altura excecional para investir. No curto prazo não fazemos ideia e qualquer coisa pode acontecer nos mercados financeiros. É fundamental comunicar o que corre bem e o que corre mal e, de preferência, o que corre mal de uma forma muito mais clara e rápida para as pessoas perceberem que nunca vamos acertar em tudo ou fazer tudo bem. Mas na maior parte do tempo, e se apanha uma boa fatia da variação de mercado, vai ser muito compensador.

Qual é o outro pilar?
Os outros pilares são alicerçar as nossas decisões em conhecimento e transmissão desse conhecimento aos nossos clientes. É fundamental melhorar a literacia financeira dos aforradores para que possam tomar decisões no seu melhor interesse. Queremos que os nossos clientes percebam a filosofia, o que fazemos, como seleccionamos e porque faz sentido investir a longo prazo.

É seguidora dos ensinamentos de Warren Buffett. Porquê?
Porque é uma filosofia em que não se conhecem escândalos, intuitiva, que minimiza riscos. Se percebermos bem os negócios em que vamos investir, se têm vantagens competitivas e permitem ganhar retornos acima da média dos concorrentes, então, se selecionarmos um conjunto diversificado de negócios e os mantivermos nos bons e maus momentos é como uma viagem de avião. Claro que há turbulência, mas se assegurarmos que o avião tem uma boa manutenção, é seguro e tem um bom piloto, vamos chegar sãos e salvos ao destino.

Costuma ir às reuniões de Omaha?
A última vez que estive lá foi em 2018. É um bocadinho como uma peregrinação, quase como uma espécie de agradecimento a dois senhores que ao longo de décadas criaram imensa riqueza e passaram imenso conhecimento para todos nós. Há cerca de 60 perguntas que são feitas entre os jornalistas, assistência, etc. Um médico do Illinois pediu a palavra para dizer: “Thank you Mr. Buffett for making my grandchildren very rich”. Começou a investir a conselho da mulher, teve o cuidado de ser paciente e foi reforçando o investimento ao longo dos tempos. A seguir questionou-o porque não investiram na Amazon ou na Google. Warren Buffett respondeu que era um negócio que não entendiam bem.

Alguma vez sentiu dificuldade em lidar com os clientes e convencê-los a investir? Como é ser uma mulher neste mundo da alta finança?
Há 30 anos podia ser mais difícil, mas não acho que a principal discriminação no meu trabalho seja entre ser homem ou mulher. A grande discriminação no mundo do trabalho é sobretudo na idade. Fico perturbada como se dispensam pessoas com 55 ou 60 anos, que têm experiência e conhecimento acumulado.

Quais as maiores dificuldades que encontra na sua carreira?
Procuramos ter uma relação muito justa com os clientes. Temos de mostrar que compensa trabalhar connosco. Todos nós temos dois vieses tremendos: um grande apetite por lucro rápido e, em segundo, um grande conforto em agir com o “cardume”, a tendência em seguir a multidão. Para investidores pacientes, investir numa carteira diversificada de ações a longo prazo é uma enorme vantagem. Só assim é possível beneficiar das maravilhas do juro composto. As ações, são a classe de ativos que produziu os melhores retornos nos últimos 120 anos. Por isso mesmo, podem capitalizar de forma extraordinária a poupança. O problema é que uma boa parte dos investidores com o seu temperamento, interrompe este processo de capitalização.

Mas há clientes difíceis de convencer?
A nossa história pessoal influencia muito a forma como investimos. O que vimos em Portugal nas últimas décadas? Vimos o que se passou com a PT, BES, Banif. As pessoas têm más histórias, perderam dinheiro a investir em ações. É disso que se lembram. Além do mais, temos um défice muito grande de literacia financeira. Portugal vem outra vez na cauda da Europa num estudo de Janeiro deste ano. Precisamos de ensinar às pessoas o valor da poupança. Alguém nos disse que um dia o Estado nos pagava uma reforma e podíamos viver bem. Mas há cada vez mais pessoas a viver 100 anos. Então como é que as Seguranças Sociais podem aguentar uma demografia destas? Se quisermos ter a mesma qualidade de vida no período de reforma temos de começar a poupar mais cedo e investir melhor.

Como CEO da Casa de Investimentos, de  que forma é que gere as expectativas dos  clientes que estão a perder dinheiro?
Os clientes da Casa de Investimento sabem que estamos a criar riqueza a longo prazo. Um investidor/empreendedor com esta postura terá muito sucesso se se posicionar a longo prazo. Temos uma carteira de investimento absolutamente extraordinária a quatro, cinco, sete, oito ou 10 anos. A Google, a Visa, a Mastercard, a LVMH e a Airbus criaram muita riqueza, porque são negócios excecionais, com grandes vantagens competitivas, com gestores capazes e balanços sólidos. Hoje há o benefício de décadas de investigação.
Os mercados recuperam sempre. Como comunicamos com total transparência com os nossos clientes, gostamos de lhes dar informação sobre a evolução dos negócios em que estamos investidos e desta forma, distinguir o que é importante e o que é ruído. Mostramos que para terem rentabilidade acima da média é importante estar preparado para a volatilidade que as ações têm.

O que sente quando um cliente vende a carteira?
O meu trabalho é criar riqueza e não quero nunca que ninguém abra uma conta para perder dinheiro. O meu trabalho é que as pessoas invistam com segurança, invistam com risco limitado e consigam ficar mais ricas. É extraordinário ajudar as famílias a conquistar a sua independência financeira, a dar uma educação melhor aos filhos. Tive sorte, porque os meus pais e os meus avós ensinaram-me a poupar, éramos seis filhos. Os meus pais tinham dois talhos e apenas a escola primária. Tinham poupança nos bancos, mas canalizaram grande parte do que ganharam para a educação dos seus filhos e estamos muito gratos por isso. Acho que devemos sempre consumir menos do que aquilo que produzimos. O país tem de fomentar a poupança, as pessoas têm que ter melhores rendimentos e uma carga fiscal menor para poderem poupar mais.

A Emília é poupada?
Procuro ter uma vida equilibrada. Sim, sou poupada. Mas também sei que poupar é difícil porque não nos dá uma gratificação imediata. Se fizermos um bom jantar com amigos ou uma viagem sentimos logo esse benefício. Se pouparmos esse valor quando sentimos  essa recompensa?

A Casa de Investimentos não investe no mercado nacional. Porquê?
Neste momento procuramos investir em empresas que competem no mercado global, são líderes globais e nos permitem dar retorno aos investidores acima da média. Os nossos clientes já têm cá as suas casas, as suas empresas, seu emprego e faz muito mais sentido colocarem as suas poupanças nos 25 ou 30 melhores negócios do mundo.

O que deve ser feito para melhorar a literacia financeira dos portugueses?
Todos nós lidamos com dinheiro desde muito cedo na vida e tomamos decisões de consumo. E isso devia ser ensinado às crianças logo na escola. Mas não devemos deixar só o ónus no Estado. As empresas, os empresários e os gestores podem dar um contributo muito relevante para melhorar a literacia financeira dos seus colaboradores e aumentar o seu bem-estar a longo prazo. Podem fazê-lo através do nosso PPR, a que gostamos de chamar Plano de Poupança Rentável. Podem e devem fazê-lo através do nosso programe de Corporate Financial Welness com uma componente muito completa sobre poupança e investimento através de webinares, livros, artigos e, depois de serem clientes, através das cartas trimestrais que escrevemos a explicar os investimentos que fazemos e o comportamento dos mercados. Esta é uma solução muito eficiente do ponto de vista fiscal, quer para a empresa quer para o colaborador. Para simplificar o processo de adesão das empresas e dos seus colaboradores, criámos uma plataforma online, com o nome Save&Grow, onde todo o processo é digital, e sem qualquer carga burocrática para as empresas.
A poupança dá-nos liberdade para dar uma educação melhor aos filhos, comprar uma casa, fazer uma sabática de um ano, deixarmos liberdade para a reforma, etc. Dá-nos liberdade para tomar decisões. Queremos criar uma cultura de investimento em negócios para as pessoas terem acesso a melhor rentabilidade e em segurança. Tem volatilidade? Tem. É preciso ter uma visão temporal.

Como é o seu dia-a-dia de trabalho?
Coordeno a equipa de investimentos, que é uma equipa muito sólida, com bastante formação e empenhada. Tem o ADN de valor e o foco no longo prazo, na qualidade dos negócios. O nosso trabalho diário é ler, estudar, e ver o que estão a fazer os melhores investidores do mundo – o que vem de novo para
o mercado financeiro e estar sempre atualizado. Normalmente, começo a ler pelas 7h00 o FT, as principais notícias económicas, políticas, etc. Falo com clientes, videoconferências, faço apresentações da Casa e estudo. Tenho a sorte tremenda de fazer o que gosto.

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