O Kremlin nunca foi tão rico: e graças a um parceiro estratégico dos Estados Unidos

A Rússia vai entrar no seu terceiro ano de guerra com a Ucrânia com mais dinheiro nos cofres do Kremlin do que nunca: o ano passado, houve um recorde de 37 mil milhões de dólares em vendas de petróleo bruto à Índia – parte desse petróleo foi refinado e depois exportado para os Estados Unidos como produtos petrolíferos, avaliados em mais de mil milhões de dólares.

Este fluxo de pagamentos, apontou a ‘CNN’, provém do facto de Nova Dehli ter aumentado em mais de 13 vezes os valores anteriores ao conflito, revelou um estudo do Centro de Investigação sobre Energia e Ar Limpo (CREA): ou seja, a Índia, um parceiro estratégico dos Estados Unidos, substituiu as compras de petróleo dos ocidentais.

Embora as vendas para a Índia não estejam sujeitas a sanções e sejam legítimas, um exame às rotas marítimas sugeriu que este enorme volume de remessas envolveu a chamada ‘frota sombra’ de petroleiros, especialmente criada por Moscovo para continuar a exportar petróleo e alimentar a máquina de guerra de Putin.

De acordo com o canal televisivo americano, no porto grego de Gythio, no início deste mês, dois petroleiros aproximaram-se para uma transferência navio-a-navio, com o objetivo de disfarçar a origem e destino final. Os dois navios partilham o facto de terem embarcado da Rússia semanas antes: um pertence a uma empresa indiana acusada de envolvimento em violações de sanções, o outro era pertença de um indivíduo sujeito a sanções separadas dos Estados Unidos.

“As transferências (às vezes) são feitas legalmente, mas também são usadas como uma tática ilícita para evitar sanções”, garantiu David Tannenbaum da ‘Pole Star Global’. “Está a adicionar-se várias camadas ao jogo dos navios enquanto eles tentam confundir as autoridades sobre a origem do petróleo e quem o compra no final das contas.” Todas as semanas, são feitas dezenas de transferências semelhantes no Golfo Laconiano, na Grécia, um ponto de passagem para o Canal de Suez e para os mercados asiáticos.

Os Estados Unidos lideraram uma coligação de países no final de 2022 que concordou com um “limite de preço”, comprometendo-se a não comprar petróleo russo acima de 60 dólares por barril. Essas nações também proibiram as suas companhias de navegação e seguradoras – intervenientes-chave no transporte marítimo global – de facilitar o comércio de petróleo russo acima desse preço.

“O limite de preço foi o verdadeiro gatilho para a criação da frota paralela”, sublinhou Viktor Katona, chefe de análise de petróleo bruto na ‘ Kpler’. “Quanto mais longas forem as cadeias de abastecimento, mais difícil será desembaraçar as transferências entre navios e mais difícil será determinar o custo real de um barril russo.”

A Windward, uma empresa de inteligência artificial marítima, analisou os movimentos marítimos globais e detetou 588 viagens diretas de petroleiros da Rússia para a Índia no ano passado – desses, houve mais de 200 viagens de navios da Rússia que realizavam uma transferência no Golfo da Lacónia para outro navio, que seguiu para a Índia.

A frota paralela permitiu à Rússia criar uma estrutura marítima paralela que pode resistir às mudanças táticas e ao foco das sanções ocidentais, com centenas de petroleiros de propriedade opaca, utilizando rotas complexas. De acordo com a ‘Windward’, esta frota cresceu para 1.800 navios no ano passado.

O impacto líquido das compras de petróleo bruto pela Índia tem sido o de enfraquecer a pressão que o presidente russo, Vladimir Putin, sente pelas sanções petrolíferas. As receitas da Rússia dispararam para um recorde de 320 mil milhões de dólares em 2023 e deverão crescer ainda mais – cerca de um terço do dinheiro foi gasto na guerra na Ucrânia no ano passado, segundo alguns analistas, e está prevista uma proporção maior para financiar o conflito em 2024.

Os fundos à disposição do Kremlin colocam Moscovo numa melhor posição para sustentar uma guerra prolongada do que Kiev, que está a lutar para manter o fluxo desesperadamente necessário de dinheiro ocidental.

Apesar das receitas em novos máximos históricos em 2023, Moscovo ainda não equilibrou as contas, garantiu o economista da RAND, Howard Shatz. “Apesar do salto nas receitas, o défice orçamental federal atingiu o seu terceiro maior… maior apenas em 2022 e 2020”, explicou. “Os impostos sobre a produção interna e as importações são elevados e eficazes, o que significa que estão a tributar a sua própria população para pagar esta guerra.

De acordo com a ‘CREA’, os EUA foram o maior comprador de produtos refinados da Índia feitos a partir de petróleo bruto russo no ano passado, no valor de 1,3 mil milhões de dólares entre o início de dezembro de 2022, quando o limite de preço foi introduzido, e o final de 2023. Mas se se juntarem os aliados dos EUA,, que também estão a impor sanções contra a Rússia, esteve valor sobe para 9,1 mil milhões de dólares em 2023, um aumento de 44% em relação ao ano anterior.

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