“O inverno mais difícil até agora”: Rússia prepara ataques a instalações de energia nuclear para ‘gelar’ Ucrânia
A Ucrânia deve enfrentar este ano o seu inverno mais rigoroso desde o início da invasão russa, uma vez que Moscovo planeia cortar o seu fornecimento de energia nuclear já depois de ter bombardeado metade da capacidade do seu setor de geração de eletricidade. Por enquanto, referiu a publicação ‘Kiev Independent’, a Rússia não está a atacar diretamente as centrais mas tem mirado cada vez a infraestrutura próxima, como subestações com equipamentos cruciais como transformadores e linhas de energia que ligam as centrais nucleares à rede.
“Estamos num mundo onde a Ucrânia tem um déficit de infraestrutura funcional. Este será o inverno mais difícil até agora”, avisou o economista-chefe da Agência Internacional de Energia (AIE), Tim Gould – se os ataques russos desconectarem com sucesso todas as centrais de energia da rede, a única fonte de energia estável da Ucrânia acabará, apontou o analista de energia Wojciech Jakobik, de Varsóvia. “A energia nuclear é uma capacidade de carga básica, que é insubstituível por energias renováveis, outras fontes e, especialmente, não por importações de energia”, apontou. “Com uma capacidade nuclear menor, a Ucrânia terá menos flexibilidade e menos capacidade de estabilizar a geração de energia.”
Kiev perdeu 9 gigawatts de geração de energia, incluindo oito centrais térmicas e cinco hidroelétricas, devido a ataques russos neste ano. Conforme as autoridades procuram consertar os seus ativos danificados, o exército russo prepara-se para atacar a infraestrutura nuclear ucraniana, alertou o Ministério da Energia ao ‘Kiev Independent’, o que ‘congelaria’ os ucranianos e causaria uma crise humanitária se a Ucrânia não conseguir consertar e proteger rapidamente a sua infraestrutura.
Após a ocupação da central nuclear de Zaporizhia em 2022, a Ucrânia depende fortemente de três centrais nucleares que permanecem sob controlo do Governo – são a tábua de salvação do país, fornecendo 60% da sua energia. A empresa nuclear estatal da Ucrânia, Energoatom, garantiu que todas as suas unidades de energia estão prontas para operar em “capacidade máxima” durante a estação de aquecimento, sendo que foi conectada uma unidade de energia nuclear reformada de um gigawatt à rede no passado dia 1 – anunciou igualmente planos para construir fortificações adicionais para proteger as centrais de ataques.
Sem energia estável, os ucranianos enfrentarão outra rodada de apagões semelhantes aos do verão, que podem durar até 8 horas por dia, indicou o think tank DiXi Group, sediado em Kiev. No entanto, as temperaturas brutalmente frias do inverno durante quedas de energia congelarão canos, cortando o acesso dos ucranianos à água e ao aquecimento, e podem levar a outra onda de refugiados, apontou a agência de refugiados da ONU (ACNUR).
Durante os primeiros meses da invasão, a Ucrânia dependia de diferentes instalações dentro do seu enorme setor de energia para sobreviver aos ataques iniciais à infraestrutura energética e até conseguiu exportar eletricidade para a UE. Mas isso mudou este ano depois de os ataques russos terem destruído 50% dos seus ativos de energia – agora, Kiev ficou sem opções e mudou de exportar para importar 2 gigawatts de eletricidade dos seus vizinhos europeus.
“O déficit de fornecimento de eletricidade pode ser de até 6 gigawatts. Isso é o equivalente ao pico da procura na Dinamarca”, salientou Gould.
A energia nuclear é a base restante para a estabilidade energética da Ucrânia, o que a torna o principal alvo dos ataques russos – o Governo ucraniano procura descentralizar a rede elétrica o mais rápido possível, mas é improvável que isso aconteça até ao inverno. “Provavelmente ninguém poderia imaginar que os russos mirariam diretamente os locais de energia nuclear, pois isso é uma séria ameaça à segurança nuclear. Mas não podemos excluir tal cenário.”
Um desastre nuclear ameaçaria toda a Europa, disse o Ministério da Energia, acrescentando que a comunidade global deve unir-se para evitar uma catástrofe. “[A Rússia] está a usar terrorismo energético contra a Ucrânia. Não se pode ter certeza sobre o que a Rússia está a fazer”, concluiu o analista de energia.