O ‘Ebay dos rins’ (e não só): Este país é o único onde a venda de órgãos é legal e até apoiada pelo Estado

Quanto pagava por um rim? E por uma córnea, um fígado, um pulmão ou medula? Pode parecer surreal mas é neste formato de ‘leilão’ que funciona no Irão um mercado legal de venda de órgãos, sendo que é o único país do mundo onde tal acontece.

Perto de hospitais, em paredes, postes de eletricidade e noutros locais, multiplicam-se os cartazes a publicitar a venda de órgãos a quem pagar mais. As redes sociais servem também de plataforma para anunciar as vendas.

Neste caso, o Estado funciona como intermediário entre o doador e comprador, e o preço abrange parte do tratamento. A possibilidade da venda de órgãos foi aberta pelo Governo iraniano em 1997, com o objetivo de reduzir drasticamente a lista de espera para transplantes renais. Daí que há quem chame ao país o ‘Ebay dos rins’, comparando-o à plataforma onde se pode comprar (quase) tudo.

O preço de um rim normalmente fica entre os dois mil e os quatro mil euros, mas pode chegar aos 10 mil. Apenas pessoas com nacionalidade iraniana podem beneficiar da medida, e os dadores só podem ter, no máximo até 35 anos – quanto mais velho for, menor será o preço do órgão.

Um organismo governamental trata de mediar o acordo entre doadores e compradores, e parte do dinheiro é fornecida pelo Estado, como recompensa para o dador, assegurando também um ano de cobertura médica.

Outra parte do valor fica a cargo do comprador que, caso não tenha meios para chegar ao total exigido, pode recorrer a algumas fundações e associações de apoio.

No papel parece funcionar, dinheiro a troco de salvar vidas, evitando o tráfico ilegal de órgãos, mas a realidade é outra.

Contam-se, relata o ABC, múltiplos casos de jovens e famílias muito pobres que veem neste mercado legal de órgãos uma solução para conseguir algum dinheiro.

Também, faltam escrúpulos entre os doadores: há quem arranque os cartazes para pôs os seus, apague números de contacto ou cole anúncios por cima de outros.

A situação económica do país é frágil, segundo a Agência Iraniana do Trabalho, em 2021 95% da população ativa não tinha um emprego seguro e, desde 2020, que o preço dos bens alimentares aumentaram em média mais de 50%.

Várias ONGs denunciam aos mesmo jornal que há cada vez mais casos de quem venda órgãos para conseguir sobreviver.

A Iran internacional relata que está a crescer o número de pessoas que põem os órgãos a venda e fica cada vez mais difícil que Estado ou associações possam garantir os cuidados pré-operatórios aos dadores.

Por outro lado, segundo a revista Transplant International, o processo legal é muitas vezes evitado a favor de negócios paralelos mais lucrativos para os dadores.

Com os dadores sem apoio, desesperados por dinheiro e sem possibilidade de pagaram as consultas um ano após o transplante, nem de esperar que surja um comprador, o mercado negro, que a medida do Irão tentou combater, torna-se muito atrativo, até porque tem clientes estrangeiros, dispostos a pagar muito mais do que os valores praticados no país.

Também, alertam várias associações, há riscos acrescidos de burlas e esquemas para enganar compradores e dadores.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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