O ‘dilema-sanduíche’ da Moldávia. O país esmagado entre a UE e a Rússia está preparado para fazer uma escolha?

Moldávia, uma pequena ex-república soviética situada entre a Roménia e a Ucrânia, enfrenta neste domingo um momento decisivo para o seu futuro geopolítico. O país, com uma população de cerca de 2,5 milhões de habitantes, irá às urnas para eleger o novo presidente e decidir, através de um referendo, se deseja alterar a sua Constituição para facilitar a adesão à União Europeia (UE).

Apesar das suas aspirações europeias, a Moldávia permanece profundamente dividida entre duas forças opostas: o Ocidente e a Rússia. Kamil Całus, analista do Centro para Estudos Orientais (OSW) em Varsóvia e autor de um livro sobre as relações entre Moldávia e a União Europeia, a “Moldávia pode ser definida como um país dividido entre o Ocidente e o Oriente”. A dependência económica de Moscovo, a presença de uma significativa minoria russófona, representando entre 20% e 30% da população, e a existência da região separatista de Transnístria, onde estão estacionados cerca de 1.500 soldados russos, reforçam esta divisão.

Segundo Alexandru Flenchea, ex-vice-primeiro-ministro moldavo para a Reintegração, “a invasão russa da Ucrânia exacerbou as divisões internas, levando a uma polarização entre os que apoiam a integração europeia e os que se inclinam para uma postura mais neutra em relação à Rússia”. Flenchea afirmou ao jornal El Confidencial que “os políticos, e por extensão os eleitores, foram divididos em pró-europeus ou pró-russos, o que, por consequência, os torna anti-europeus”.

As eleições presidenciais, segundo as sondagens, são dominadas pela actual presidente Maia Sandu, uma figura pró-ocidental que lidera com cerca de 36,1% de apoio, de acordo com um estudo recente do Centro de Pesquisas Sociológicas e de Marketing (CBSAXA). Sandu, que busca um segundo mandato, enfrenta como principal opositor o ex-procurador-geral Alexandru Stoianoglo, apoiado pelo Partido Socialista (PSRM), liderado pelo ex-presidente Igor Dodon, um político com fortes ligações a Moscovo. Dodon, conhecido por criticar os direitos LGBTQI+ e a política europeia, tem utilizado as redes sociais para alertar que “se o partido no governo, Ação e Solidariedade (PAS), continuar no poder, não haverá nem país, nem igreja”.

Apesar da sua popularidade, Sandu enfrenta um desafio significativo com a inflação, que já lhe custou votos. Segundo Flenchea, a sua popularidade mantém-se devido à sua política externa, aos sucessos na integração europeia e à gestão da relação com a Ucrânia.

Referendo sobre adesão à União Europeia
Além das eleições presidenciais, os moldavos votarão num referendo sobre a possível adesão à União Europeia. A pergunta que estará nas urnas é clara: “Apoia a modificação da Constituição para a adesão da República da Moldávia à União Europeia?”. De acordo com as pesquisas do CBSAXA, o “Sim” à adesão à UE deverá obter cerca de 63% dos votos.

No entanto, há uma parte da população que vê a adesão europeia com desconfiança, associando-a à perda de valores tradicionais. Olesia, uma residente da Transnístria, que atualmente vive na Geórgia, afirmou: “Se me perguntassem se quero [aderir à UE], provavelmente diria que não. Estou contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a criação de filhos dessa forma”.

Josep Borrell, chefe da diplomacia europeia, alertou para a crescente campanha de desinformação russa, que visa explorar as divisões na sociedade moldava. Nas últimas semanas, surgiram relatos de subornos para influenciar o voto, com a polícia moldava a identificar transferências de mais de 15 milhões de dólares de fundos russos para as contas bancárias de mais de 130.000 cidadãos.

A desinformação e a polarização intensificaram-se após a invasão russa da Ucrânia, com muitos moldavos a optarem por uma postura neutralista, preferindo evitar o confronto tanto com a UE quanto com a Rússia. Segundo Flenchea, “não se pode dizer que todos os moldavos se tornaram pró-russos, mas há um segmento crescente de neutralistas que defendem que devemos ser amigos tanto do Oriente quanto do Ocidente”.

Moldávia começou a dar os primeiros passos rumo à integração europeia após a queda da União Soviética. Em 1994, o país assinou o Acordo de Associação e Cooperação com a UE, e, em 1995, tornou-se o primeiro país da ex-URSS, além dos Estados Bálticos, a ser aceito no Conselho da Europa. Ironia do destino, foi um governo comunista, liderado pelo Partido Comunista Moldavo, que, em 2005, após vencer as eleições, declarou o compromisso de Moldávia com uma maior integração europeia.

Nos dias que antecederam as eleições, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, visitou Chisinau, onde apresentou um “Plano de Crescimento Económico para Moldávia”, com a intenção de investir 1,8 mil milhões de euros no país nos próximos três anos. Esta visita sublinha a importância estratégica de Moldávia para a União Europeia, especialmente no contexto da guerra na Ucrânia e da crescente influência russa na região.

Com a decisão iminente nas urnas, o futuro de Moldávia está em jogo, e o país enfrenta o dilema entre abraçar a Europa ou manter laços com a Rússia, numa escolha que poderá definir o seu rumo geopolítico nos próximos anos.

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