O dilema da NATO com as ilhas suecas e finlandesas do Báltico que Putin tem “debaixo de olho”

O Mar Báltico, por vezes apelidado jocosamente de “Lago da NATO” por alguns oficiais ocidentais, tem sido um ponto de tensão constante entre a Rússia e os seus adversários estrangeiros. Agora, com o conflito na Ucrânia e receios de que o Kremlin “está de olho” nas ilhas suecas e finlandesas no Báltico, pode verificar-se uma escalada neste potencial novo ‘palco’ de conflito e a Nato enfrenta um sério dilema.

Quase totalmente rodeado por países da NATO, após a adesão da Finlândia e da Suécia à aliança transatlântica, o Mar Báltico é uma via vital para a frota da Rússia neste mar, que opera a partir dos portos estratégicos de São Petersburgo e Kaliningrado, além de ser uma rota de transporte marítimo de cerca de 160 mil milhões de dólares anuais.

Com o Presidente Vladimir Putin e os seus aliados a ameaçarem retaliar contra os novos membros da NATO por abandonarem décadas de neutralidade, o Mar Báltico está a emergir como um campo de batalha crucial nos esforços do Ocidente para conter Moscovo.

Qualquer conflito futuro na região — seja híbrido ou convencional — pode depender do controlo de algumas ilhas pouco defendidas, que alguns observadores consideram ser uma vulnerabilidade significativa na defesa do norte da NATO.

As Ilhas Åland, da Finlândia, e Gotland, da Suécia, estão localizadas no centro do Mar Báltico, com as primeiras situadas quase à mesma distância dos dois países e a última de frente para as costas da Letónia e Lituânia a leste, ao longo da rota marítima de Kaliningrado a São Petersburgo.

Em resposta à anexação da Crimeia pela Rússia e ao incentivo à rebelião no leste da Ucrânia, a Suécia reintroduziu tropas permanentes em Gotland em 2016 e tem vindo a aumentar gradualmente a sua presença militar na ilha. Este reforço pode servir de modelo para Helsínquia, embora os líderes finlandeses tenham sido cautelosos até agora.

Uma sondagem de 2022 da emissora Yle revelou que 58% dos finlandeses apoiariam uma presença militar no arquipélago autónomo de 7.000 ilhas, que já fez parte dos impérios sueco e russo. Apenas 16% se opuseram à medida, com os restantes 28% incertos.

As preocupações de segurança em Åland antecedem a guerra da Rússia na Ucrânia, mas a invasão e a adesão da Finlândia à NATO reavivaram esta questão delicada.

“Pode perguntar aos sobreviventes de Mariupol como é possível defender algo tão distante”, disse Charly Salonius-Pasternak, do Instituto Finlandês de Assuntos Internacionais, à Yle no ano passado, defendendo o envio de forças para o arquipélago para uma defesa mais próxima, recorda a Newsweek.

Pekka Toveri, antigo chefe da inteligência finlandesa e major-general do exército, atualmente membro do parlamento pelo Partido da Coligação Nacional, afirmou que acabar com a desmilitarização de Åland “facilitaria a nossa reação quando necessário e aumentaria a segurança dos habitantes de Åland e do resto de nós, se a situação piorar”.

No entanto, a Bloomberg relatou recentemente que os 30.000 residentes das Ilhas Åland não partilham necessariamente da mesma urgência dos seus compatriotas. “Não diria que estamos com medo, mas estamos alertas”, disse Katrin Sjogren, líder do governo de Åland, à Bloomberg. “Em momentos como estes, torna-se mais importante do que nunca procurar soluções que tragam a paz de volta.”

Apesar disso, o consulado russo na capital das ilhas, Mariehamn, tem sido um foco de ação local. Mais de 50.000 finlandeses assinaram uma petição para fechar a instalação, mas o parlamento e o governo recusaram-se a fazê-lo até agora.

O novo Presidente finlandês, Alexander Stubb, foi cauteloso quando questionado sobre o assunto durante as eleições deste ano. “A questão da desmilitarização de Åland não pode ser simplificada numa resposta de sim ou não”, afirmou durante um debate com o oponente Pekka Haavisto.

“Durante o nosso processo de adesão à NATO, o estatuto de Åland não representou qualquer problema para os nossos aliados, e a Finlândia não tem necessidade imediata de fazer disso um problema. Questões como esta não são resolvidas seguindo tendências atuais, mas através de consideração cuidadosa e em estreita cooperação com os nossos parceiros ocidentais.”

“Claro, podemos discutir a remoção do estatuto desmilitarizado de Åland, mas esses debates devem ser conduzidos com calma, em colaboração com os residentes de Åland e os nossos aliados”, acrescentou.

Os vizinhos ocidentais da Finlândia têm sido mais decisivos. O novo regimento de Gotland foi destacado em 2018, com cerca de 400 tropas, um batalhão mecanizado com veículos blindados CV90 e tanques Leopard 2, e um batalhão anfíbio da Guarda Nacional. Os sistemas de defesa aérea foram reativados em 2021.

O ataque da Rússia à Ucrânia em 2022 resultou no reforço da guarnição em Gotland, com o governo a comprometer cerca de 160 milhões de dólares para melhorar a infraestrutura militar na ilha.

A adesão da Suécia à NATO tornou a questão de Gotland ainda mais relevante. “Estou certo de que Putin tem ambos os olhos em Gotland”, disse Micael Bydén, comandante supremo das forças armadas suecas, à rede editorial alemã RND. “O objetivo de Putin é ganhar o controlo do Mar Báltico.”

“Se a Rússia tomar o controlo e fechar o Mar Báltico, isso teria um impacto enorme nas nossas vidas — na Suécia e em todos os outros países que fazem fronteira com o Mar Báltico. Não podemos permitir isso,” acrescentou Bydén.

“O Mar Báltico não deve tornar-se o recreio de Putin, onde ele aterroriza os membros da NATO”, concluiu.

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