O chefe da energia da UE enfrenta um dilema para reduzir custos (e dependência da Rússia)… Mas falta dinheiro e recursos

Dan Jørgensen, ex-ministro do clima da Dinamarca, encontra-se no centro das atenções enquanto candidato ao cargo de novo comissário da energia da União Europeia. Jørgensen tem como missão resolver a crise energética que afeta os Estados-membros. No entanto, os recursos para concretizar as suas promessas parecem limitados, uma questão que levanta dúvidas entre os eurodeputados e especialistas em energia.

Jørgensen destacou esta semana a importância de investir em infraestruturas energéticas, nomeadamente no reforço das redes de energia entre países da UE, e acelerar o licenciamento de fontes de energia alternativas e de baixo custo. Contudo, as iniciativas que propõe exigem investimentos significativos, algo que não pode garantir numa UE empenhada em controlar os seus gastos e promover a iniciativa privada.

“Os preços da energia serão um tema prioritário”, afirmou a eurodeputada dinamarquesa Sigrid Friis, do grupo centrista Renovar a Europa, uma das responsáveis pela avaliação de Jørgensen. “Mas a origem dos fundos para estas reformas é uma das maiores questões” que o candidato precisa esclarecer.

A tarefa de Jørgensen é complexa, especialmente porque enfrenta uma directiva dupla: reduzir os custos de energia e romper de forma definitiva com o fornecimento energético da Rússia. Esta última meta implica cortar o acesso a combustíveis russos, muitas vezes mais baratos, tornando ainda mais difícil alcançar o objetivo de preços baixos para consumidores e indústrias europeias.

Cortes nos preços e desafios de implementação

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que poderá tornar-se chefe direta de Jørgensen, aposta numa visão otimista para o seu próximo mandato. Von der Leyen acredita que o investimento em energias renováveis não só será positivo para o planeta, mas também para a economia da UE, defendendo que a redução dos preços energéticos passará por uma infraestrutura renovável mais robusta e uma adaptação da economia europeia a fontes sustentáveis.

Para alguns eurodeputados, como o holandês Tom Berendsen, do Partido Popular Europeu, a UE precisa de mostrar resultados concretos nesta área para restaurar a confiança do público nas políticas verdes. Segundo Berendsen, para que cidadãos e indústrias apoiem a transição energética, é essencial garantir que todos consigam pagar as suas contas. Ele sugere uma expansão significativa da interligação entre redes energéticas, mencionando a lei TEN-E, que visa facilitar estas ligações, mas sublinha que o orçamento disponível para tais projetos ainda é insuficiente.

Este é um dos pontos críticos nos preparativos de Jørgensen, que, de acordo com notas de reunião obtidas pelo Politico, reconhece que o orçamento atual do Fundo para a Conexão da Europa é insuficiente para financiar as infraestruturas necessárias.

A aposta no hidrogénio verde e os desafios da transição

A produção de energia a partir do vento e do sol, embora fundamental para a transição, não tem sido suficiente para substituir completamente os combustíveis fósseis, especialmente nas indústrias pesadas. Para este setor, o “hidrogénio verde” surge como uma solução alternativa, embora ainda cara e limitada em volume. Raphael Hanoteaux, especialista do think tank E3G, acredita que Jørgensen terá um papel fundamental na promoção da indústria do hidrogénio, apesar dos desafios financeiros e logísticos que se avizinham. “Se a implementação não for bem-sucedida, o impacto nos preços será significativo”, afirmou Hanoteaux, sublinhando que o custo elevado e a disponibilidade limitada deste combustível exigem uma abordagem estratégica e bem financiada.

Energia nuclear: o papel da UE numa opção controversa

Jørgensen terá ainda que gerir o delicado tema da energia nuclear, que divide os Estados-membros. Embora anteriormente tenha mostrado reservas em relação à inclusão da energia nuclear nos programas verdes da UE, o dinamarquês deverá agora alinhar-se com a posição pró-nuclear de Bruxelas, que vê nesta fonte uma forma de reduzir custos e diversificar a matriz energética da UE. No entanto, os pequenos reatores modulares, promovidos como solução mais acessível e rápida de implementar, encontram resistência em diversos Estados-membros, que não desejam alocar fundos europeus para esta tecnologia.

A dependência energética da Rússia e o desafio de cortar laços

Uma das promessas de Jørgensen é apresentar um plano para a eliminação gradual de todo o fornecimento energético proveniente da Rússia. Esta medida incluiria o gás natural liquefeito (GNL) russo, que permanece uma fonte controversa e financeiramente atrativa para alguns países da UE. Segundo Tom Marzec-Manser, analista de gás da firma de inteligência ICIS, o custo de substituir o GNL russo por alternativas de outros fornecedores será elevado, uma vez que os contratos de longo prazo existentes com Moscovo ainda são financeiramente vantajosos para várias nações, particularmente na Europa Oriental.

A Hungria, por exemplo, tem resistido aos apelos de Bruxelas para limitar as importações de GNL russo, argumentando que a sua segurança energética depende do acesso a combustíveis fósseis a preços competitivos. Marzec-Manser salienta ainda que, embora as sanções tenham limitado a capacidade de reexportação do GNL russo, a medida não diminuiu substancialmente a sua entrada na Europa.

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