O banqueiro resiliente

*Este artigo foi publicado na edição impressa da Executive Digest em outubro de 2021

No dia em que fez 30 anos, António Horta Osório partiu o pulso numa partida de ténis e o médico disse-lhe que talvez nunca mais pudesse voltar a jogar. O gestor não desistiu. Aprendeu sozinho a escrever e a jogar ténis com a mão esquerda, recusando-se a ficar parado. Uma perseverança que já vem dos tempos de estudante, altura em refazia sempre os exames para melhorar nota, ainda que tivesse tido uma pontuação alta. «Acho que a vida é uma maratona e a resiliência é uma das características mais importantes», afirmou numa entrevista ao The Guardian.

Licenciado em Gestão e Administração de Empresas pela Universidade Católica foi o melhor aluno nesse ano de 1987. Habituado a situações de crise, o antigo líder do britânico Lloyds Banking Group assumiu o cargo em Abril deste ano no Credit Suisse, logo após o escândalo do colapso do “family office” [entidade de gestão e investimento do património de famílias com elevadas fortunas] Archegos Capital e da Greensill que provocaram um rombo nas contas da instituição financeira e na confiança de accionistas em torno desta entidade. A exigência é outra das imagens de marca, não só para si como para os colaboradores mais directos – por exemplo, no tempo do Santander fazia questão de visitar as centenas de agências espalhadas pelo país e apontar todas as falhas que detectava, o que deixava os gerentes dos balcões em “pânico”.

António Horta Osório iniciou a carreira no Citibank em 1987 na área de mercado de capitais, trabalhou depois na Goldman Sachs em Nova Iorque e em Londres em Corporate Finance. E em 1993 criou o Banco Santander de Negócios Portugal. Em 1996 iniciou as actividades de retalho do Santander no Brasil com a aquisição e posterior fusão de dois bancos locais. Um dos pontos mais importantes da sua carreira foi o acordo entre António Champalimaud, Santander e CGD que levou à criação do Santander Totta em 2000. Mais tarde, em 2006, António Horta Osório parte para Londres, para assumir a presidência executiva do Abbey National, um banco adquirido pelo Santander. O seu percurso ascendente leva-o a ser convidado para ocupar o cargo de administrador não executivo do Banco de Inglaterra, a título pessoal, desde Junho de 2009.

Foi também aqui que foi vítima de um episódio de “burn-out”, admitindo que “o processo de recuperação converteu-se numa cura de humildade”. António Horta Osório deixou o Lloyds como o maior banco digital do Reino Unido, com mais de 16 milhões de clientes digitais, e o único com uma plataforma integrada de produtos financeiros incluindo produtos bancários e de seguros, tendo ainda a maior base accionista do país, com mais de 2,4 milhões de accionistas.

Agora, deu um novo salto na carreira, numa época turbulenta. Chegou à sede do Credit Suisse, uma entidade com uma abordagem diferente, mas com grandes desafios pela frente. Nos últimos meses, o mercado tem apontado para uma fusão desta entidade com o seu rival directo, o também suíço UBS, embora alguns analistas considerem que esta operação tem poucas perspectivas de concretização. Assim, terá que enfrentar, como já fez no passado, a volatilidade dos mercados financeiros, e uma economia mundial afectada pela pandemia. Metódico na organização do tempo, coleccionador de arte e fã do tenista Rafael Nadal, António Horta Osório terá de usar a tenacidade do atleta espanhol para estar à altura dos desafios que se colocam a um dos maiores bancos do mundo.

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