Número de pessoas sem-abrigo em Portugal aumentou 78% em quatro anos

Há cada vez mais pessoas a viver nas ruas, em tendas e cartões. Os dados oficiais mais recentes apontam para 10.773 pessoas sem-abrigo em Portugal, o que representa um aumento de 78% em quatro anos. Em 2018 eram 6.044.

Os números podem, no entanto, ser ainda mais expressivos, dado que a contabilidade oficial reporta a 31 de dezembro de 2022 e os últimos tempos foram de uma subida galopante, adianta o jornal ‘Expresso’ na sua mais recente edição.

“O número aumentou bastante e foi transversal, de portugueses a estrangeiros, de jovens a idosos. Só este ano registamos mais cerca de 25%, essencialmente devido ao agravamento das condições de vida, à imigração e ao aumento do consumo de droga”, adiantou ao mesmo jornal, Renata Alves, diretora-geral da Comunidade Vida e Paz.

“Em Lisboa nunca se viram tantas tendas. E o fenómeno dos sem-abrigo mudou. Antes, eram essencialmente homens com problemas de saúde mental ou dependência. Agora o perfil é muito variado. E há famílias inteiras sem casa”, confirma Rita Valadas, presidente da Cáritas, ao Expresso.

“Devíamos assumir todos que falhámos. Gastam-se milhões de euros e as pessoas continuam na rua ou numa porta giratória dependentes de uma lógica de caridade. Há mais de dez mil sem-abrigo e o PRR não tem um tostão para lhes dar casa. O único dinheiro que existe é para respostas de emergência e temporárias. Continuamos a falhar na resolução do problema”, critica Américo Nave, diretor da Associação Crescer.

Segundo Renata Alves, da Comunidade Vida e Paz, as respostas que existem não chegam para todas as pessoas atualmente a viver na rua. “Os centros de acolhimento estão cheios. Temos uma unidade para 40 pessoas sempre lotada. E as instituições estão a atravessar muitas dificuldades pela subida de custos, ausência de apoios e descida de donativos.”

“A situação está muito agressiva. As respostas não estavam dimensionadas para um problema desta magnitude”, corrobora Rita Valadas, da Cáritas.

Na passada terça-feira, Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, Marcelo Rebelo de Sousa pediu novas abordagens e modelos de ação no combate à pobreza, alegando que o país não se pode conformar com quase dois milhões de pobres.

Na mensagem publicada no `site´ da Presidência, o chefe de Estado assinala os “passos positivos” na identificação das causas, no diagnóstico dos problemas e no avanço de uma Estratégia Nacional de Combate à Pobreza publicada em 2021, com “ambição de se concretizar até 2030”, mas salienta que “são necessárias mais do que medidas ou apoios avulsos que, sem a devida monitorização e avaliação, nunca se constituirão como estratégicos”.

“É, pois, importante, que esta data sirva para reforçar o alerta face às novas realidades que têm agravado as condições de pobreza, exigindo novas abordagens e modelos de ação para o seu combate”, alerta o Presidente da República.

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