Novo sistema de prescrição de receitas está a deixar médicos de família desesperados: utentes são obrigados a voltar ao centro de saúde devido a correções constantes
O sistema PEM (Prescrição Eletrónica de Medicamentos) está a deixar os médicos de família ‘desesperados’: as correções permanentes das receitas, fruto das novas regras da prescrição e da dispensa de medicamentos para doenças crónicas na farmácia, obrigam mesmo os utentes a contactar o centro de saúde. Para minorar o problema, foi publicada uma exceção para que o utente possa levantar os fármacos mesmo que a posologia esteja errada.
Os clínicos queixam-se que as posologias dos medicamentos pré-definidas na PEM não correspondem às necessidades. “Há um desconhecimento quase completo da prática clínica”, acusou Hugo Cadavez, dirigente do Sindicato Independente dos Médicos, em declarações ao ‘Jornal de Notícias’.
Nuno Jacinto, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, partilha a opinião. “Isto foi feito sem ouvir as nossas sugestões e necessidades e não veio avaliar nada o trabalho dos médicos de família. Demoramos muito mais tempo a passar uma receita.” Por último, André Biscaia, presidente da Associação nacional de USF, salientou que a plataforma, ao não assumir o histórico do paciente, “obriga a refazer tudo”. “Os médicos passaram dias a refazer tudo, com risco de erros, e atrasaram as consultas”, criticou.
Apesar das melhorias das últimas semanas, devido às sessões de formação aos médicos, as dificuldades persistem. Nas farmácias, os farmacêuticos não poupam nas explicações aos utentes – até à publicação da exceção, se as receitas não tivessem a posologia correta (número de comprimidos e duração do tratamento), os doentes só podiam levar duas embalagens, sendo obrigados a pedir uma correção da prescrição ao médico.
“Há doentes que só estão a levar medicação para 14 dias. Isto está a acontecer com frequência, por exemplo, com injeções subcutâneas”, referiu ao jornal diário Cecília Alves de Sousa, farmacêutica-adjunta da Farmácia do Lago, no Porto, garantindo que faltou um período de adaptação às novas regras.
“Têm sido identificadas algumas oportunidades de melhoria ao nível da prescrição e da dispensa de determinados medicamentos, sobretudo dada a especificidade de algumas apresentações farmacêuticas”, reconheceu a Associação Nacional de Farmácias (ANF).