Novo estudo revela os melhores locais para sobreviver a uma guerra nuclear

As tensões entre os Estados Unidos e a Rússia continuam a crescer, à medida que a guerra na Ucrânia se aproxima do sexto mês, e alguns observadores argumentam que desde a Guerra Fria as relações entre Washington e Moscovo não estavam tão más.

Apesar de o cenário de uma guerra nuclear ser muito pouco provável, continua a ser possível, pois os dois países detêm cerca de 90% do total de armas nucleares em todo o mundo, e Moscovo já várias vezes ameaçou os Estados ocidentais com bombas atómicas, acusando-se de usarem a guerra na Ucrânia para ameaçar a Rússia.

Um estudo publicado esta semana na revista ‘Nature’ analisou vários cenários de guerras nucleares, desde um que gera menores impactos a nível global até o mais extremo, em que o mundo será atirado para um inverno nuclear e em que cinco mil milhões de pessoas morrerão devido à falta de alimentos. Esse cenário contempla um conflito nuclear entre os EUA, e seus aliados, e a Rússia.

Os cientistas indicam que, em caso de conflito nuclear, a fuligem gerada pelas detonações contaminaria os solos e os cursos de água e que seria disseminada a nível planetário quando essas partículas atingissem as camadas mais cimeiras da nossa atmosfera, espalhando por todos os países os impactos da guerra.

As partículas levariam também a um inverno nuclear, em que as temperaturas globais cairiam a pique, prejudicando fortemente a atividade agrícola e colocando em risco a segurança alimentar das populações humanas. Além disso, a guerra levaria também a profundas disrupções no comércio internacional, intensificando a insegurança alimentar e o risco de subnutrição e de fome.

Os investigadores concluem que, no pior cenário em que 150 milhões de toneladas de fuligem são geradas pela detonação das bombas nucleares, os países do mundo não serão afetados da mesma forma. Os modelos usados neste estudo preveem que a população do Reino Unido teria uma probabilidade de 90% de morrer de fome, mas apontam que a Austrália e a Nova Zelândia podem ser “portos de abrigo” para a população sobrevivente.

De acordo com os especialistas, esses dois países, bem como alguns países no centro de África, conseguirão manter acesso a fontes de bens alimentares agrícolas, pois são os que já cultivam culturas que conseguiriam resistir de melhor forma aos efeitos do inverno nuclear. E o segredo estará no trigo.

Num cenário em que o comércio internacional deixa de existir, “o trigo contribui para quase 50% da ingestão de calorias na Austrália”, avança o estudo, o que, no caso de uma guerra nuclear, será vital para a alimentação da população australiana, visto que a sua produção desse cereal seria menos afetada do que noutros países. Outro “santuário” seria a Nova Zelândia, que “experienciaria impactos menores do que noutros países”.

Contudo, os cientistas deixam um alerta: esse dois Estados do hemisfério Sul “veriam provavelmente um influxo de refugiados da Ásia e de outros países que enfrentem insegurança alimentar”. Assim, no pior cenário, a Austrália e a Nova Zelândia surgirão como os melhores locais para sobreviver num mundo pós-apocalíptico, com milhares de pessoas a tentarem chegar às costas desses dois países.

Alan Robock, um dos autores do estudo, salienta que, no caso de inverno nuclear, a Austrália e a Nova Zelândia “teriam suficiente capacidade de produção interna”, “mas podemos imaginar que existiriam flotilhas de refugiados famintos da Ásia a caminho de lá”.

As perdas de culturas seriam mais severas em países de latitudes médias-altas, como o Reino Unido, bem como em Estados fortemente dependentes de importações, como em África e no Médio Oriente.

Lili Xia, que também assina o estudo, afirma que “enquanto as armas nucleares existirem, podem ser usadas, e o mundo já chegou perto da guerra nuclear em diversas ocasiões”, e deixa um apelo: “Proibir as armas nucleares é a única solução a longo prazo”.

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