Novas regras de entrada de alimentos da UE no Reino Unido entram em vigor: qualidade dos produtos faz desconfiar consumidores

O Reino Unido vai mudar, a partir desta quarta-feira, as regras de verificação dos produtos da União Europeia e há receios que possa trazer escassez e aumento dos preços. A política pós-Brexit, conhecida como ‘Border Target Operating Model (BTOM)’, vai exigir documentação para muitos produtos alimentares, animais e vegetais – como ovos, carne, lacticínios e álcool.

No entanto, os exportadores da UE vão repercutir os custos dos novos processos nos consumidores do Reino Unido – ou podem mesmo vir a sair completamente do mercado, alertaram especialistas e associações comerciais, citadas pelo jornal britânico ‘Sky News’. “A mudança fundamental é enorme no abastecimento alimentar do país”, apontou Nigel Jenney, responsável do ‘Fresh Produce Consortium’. “Certamente esperaria ver aumentos de preços porque esses custos simplesmente não poderiam ser absorvidos pela indústria.”

O Reino Unido abandonou o mercado único há três anos mas tem vindo a adiar a imposição de controlos às importações da União Europeia – de acordo com as novas regras, muitos exportadores europeus terão de apresentar provas de que os seus produtos não representam um risco para o gado, o ambiente ou a saúde das pessoas. Vão ser introduzidos controlos físicos a 30 de abril e a partir de 31 de outubro vão ser exigidas mais declarações de segurança.

“Existe o risco de aumentos de preços, devido aos custos adicionais para os comerciantes na UE; existe o potencial para um aumento da contraflação… e o terceiro risco é a escassez”, alertou Marc Forgione, diretor-geral do Instituto de Exportação e Comércio Internacional (IEIT). “Há também uma preocupação de algumas empresas sediadas no Reino Unido de que os seus fornecedores na UE estão francamente a considerar que é demasiado complicado lidar com estas mudanças e pensam retirar-se do mercado.”

A indústria hortícola será a “maior utilizadora individual” dos novos postos de controlo fronteiriços, indicou James Barnes, presidente da ‘Horticultural Trades Association (HTA)’ – o processo de importação de uma petúnia dos Países Baixos já aumentou de 19 para 59 etapas e a associação alertou que a nova fronteira é um desastre “à espera de acontecer”. “Estamos profundamente preocupados que o momento e a implementação causem grandes problemas ao nosso setor”, lamentou.

O Governo britânico admitiu que os novos controlos custarão às empresas 386 milhões de euros em burocracia extra mas assegurou que continua “comprometido a entregar a fronteira mais avançada do mundo”. “As mudanças que estamos a introduzir ajudarão a manter o Reino Unido seguro, ao mesmo tempo que protegem as nossas cadeias de abastecimento alimentar e o nosso setor agrícola de surtos de doenças que causariam danos económicos significativos.”

Qualidade dos produtos aumenta preocupações entre os consumidores

As novas regras que exigem que os alimentos tenham rótulos que especifiquem “não adequados para a UE” estão a causar confusão e raiva entre os consumidores, muitos dos quais acreditam que os produtos que comem agora são produzidos de acordo com padrões mais baixos – a revolta

“Num mundo alimentar onde a rotulagem deixa muito a desejar e tem sido sujeita a muita política, o Governo introduzir um ‘não à UE’ é francamente estúpido”, referiu Tim Lang, professor emérito de política alimentar na City, University of London. “Envia sinais confusos e levanta uma questão compreensível: não é suficientemente bom? Por que não para a UE? Se não para a UE, quem? Outra pessoa? Padrões mais baixos ou mais elevados? A confusão das pessoas é totalmente compreensível.”

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