Nova era a caminho? Ucrânia prepara-se para mudanças com promessas de Trump de “acabar com as guerras”
Diante da possibilidade (praticamente confirmada) de Donald Trump ser reeleito presidente dos Estados Unidos, a Ucrânia reage com uma mistura de apreensão e determinação, perante a promessa do candidato de “acabar com guerras”. Em Kyiv, as autoridades reconhecem a necessidade de reforçar laços com outros aliados ocidentais, uma vez que enfrentam o risco de perder o seu principal apoio financeiro e militar contra a invasão russa.
Após quase três anos de conflito intenso com a Rússia, a Ucrânia depende fortemente dos Estados Unidos como principal financiador do seu esforço de guerra. No entanto, Trump prometeu reiteradamente pôr fim ao conflito na Ucrânia num único dia e suspender toda a ajuda a Kyiv, caso seja eleito. Com o retorno do apoio norte-coreano à Rússia, através do envio de milhares de soldados, e uma ofensiva renovada no leste, a Ucrânia avalia os riscos de uma mudança na política americana.
Em reação à possibilidade de um governo liderado por Trump, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, fez uma declaração pragmática nas redes sociais esta quarta-feira. Zelensky recordou um “excelente encontro” que teve com Trump em setembro, elogiando o compromisso do republicano com a abordagem de “paz através da força” nos assuntos internacionais. Porém, numa nota cautelosa, destacou: “Confiamos no apoio bipartidário contínuo dos Estados Unidos para a Ucrânia.”
Durante a campanha eleitoral americana, o governo ucraniano reafirmou constantemente o apoio bipartidário em Washington, mas a possibilidade de uma vitória de Trump cria tensões em Kyiv. Em 2023, o Partido Republicano bloqueou a assistência financeira à Ucrânia durante mais de nove meses, uma paragem que obrigou Kyiv a esgotar uma parte considerável do seu orçamento de guerra, resultando na perda de alguns dos seus soldados mais experientes.
As reações das autoridades ucranianas são de firmeza, embora reconheçam a incerteza sobre o que esperar de uma nova administração Trump. “Vamos ter de viver no mundo de Trump agora”, afirmou Tymofiy Mylovanov, presidente da Escola de Economia de Kyiv, numa publicação nas redes sociais. “Estou muito cético quanto ao fim da guerra em 24 horas, como ele prometeu. Mas, de uma coisa é certa: não ficaremos entediados.”
A imprevisibilidade das declarações de Trump deixa os ucranianos apreensivos. O republicano, ao longo dos anos, afirmou ter uma boa relação com o presidente russo, Vladimir Putin, e chegou a descrever Zelensky como “o maior vendedor da história”. No entanto, Trump também declarou que teria avisado Putin de que os EUA bombeariam Moscovo se a Rússia tentasse invadir a Ucrânia.
Oleksandr Merezhko, presidente do comité de relações exteriores do parlamento ucraniano, mostrou-se cautelosamente otimista. Em declarações ao Politico, indicou que uma nova presidência de Trump exigirá uma mudança de abordagem por parte da Ucrânia. “Não acredito que a presidência dele seja má para a Ucrânia — pode ser difícil, desafiante, mas não necessariamente má”, afirmou Merezhko. Ele destacou o lado pragmático de Trump, descrevendo-o como um “homem de negócios” que “pensa em termos de custos e benefícios”, o que implica que Kyiv terá de intensificar os esforços para o convencer a manter o apoio ao país.
Com uma possível viragem na política externa americana, a Ucrânia procura reforçar o seu apoio entre outras potências ocidentais para sustentar a resistência contra a Rússia. As próximas semanas serão decisivas para Kyiv, pois a eleição nos EUA poderá alterar significativamente o apoio militar e financeiro que é essencial para o esforço de guerra ucraniano.
A reação em Kyiv é de adaptação estratégica perante uma nova realidade, com as autoridades a sublinharem que o apoio americano, independente de quem esteja no poder, continua a ser vital para a Ucrânia. Ao mesmo tempo, Zelensky e outros responsáveis ucranianos apelam ao apoio contínuo de aliados na União Europeia e na NATO, antevendo um cenário em que terão de depender mais do apoio conjunto do Ocidente para assegurar a sua sobrevivência.