Norte-americanos no estrangeiro podem ser a peça decisiva no xadrez das eleições nos EUA
Com a aproximação das eleições presidenciais de novembro nos Estados Unidos, tanto os Democratas como os Republicanos estão a intensificar os seus esforços para alcançar os cerca de 9 milhões de cidadãos norte-americanos que vivem no estrangeiro. A votação destes eleitores, que residem fora do país por razões como trabalho, estudos ou serviço militar, pode vir a desempenhar um papel crucial num escrutínio que se prevê extremamente renhido.
Pela primeira vez num ciclo presidencial, os Democratas estão a investir de forma significativa numa campanha destinada a mobilizar os eleitores norte-americanos no estrangeiro. O Comité Nacional Democrata (DNC) e doadores privados estão a investir mais de 450 mil dólares numa operação de incentivo ao voto dirigida a cidadãos provenientes de estados decisivos que atualmente residem fora dos EUA, assinala o jornal Politico. Esta iniciativa inclui uma variedade de estratégias, como publicidade nos meios de comunicação tradicionais e nas redes sociais, outdoors no Canadá, envio de correspondência e a realização de eventos presenciais.
“Vamos alcançar todos os eleitores elegíveis”
“Vamos vencer esta eleição ao envolver todos os eleitores elegíveis, independentemente de onde vivem, e o nosso investimento demonstra o nosso compromisso em não deixar nada por fazer”, afirmou Abhi Rahman, diretor adjunto de comunicação do DNC.
Esta iniciativa de mobilização de eleitores no estrangeiro é uma extensão de um programa-piloto que foi testado em 2022. Os organizadores esperam atingir não apenas civis, mas também militares, estudantes universitários e trabalhadores de empresas privadas que residem temporariamente no estrangeiro. Segundo informações disponibilizadas, os boletins de voto para os americanos no exterior começarão a ser enviados a partir de sábado.
Republicanos também mobilizam eleitores no estrangeiro
Os Republicanos não estão a ficar para trás e têm igualmente investido em estratégias para alcançar os seus eleitores que vivem fora do país. O Comité Nacional Republicano (RNC) desenvolveu um website dedicado, intitulado “Republicans Overseas”, que fornece informações sobre como os eleitores no estrangeiro podem obter e enviar os seus boletins de voto.
“O RNC está a trabalhar em conjunto com a campanha de Trump para alcançar todos os eleitores elegíveis – incluindo os que estão no estrangeiro – para garantir uma vitória sem precedentes a 5 de novembro”, declarou a porta-voz do RNC, Anna Kelly, num comunicado.
Processos de voto variam conforme o estado de origem
O processo de votação para os eleitores que vivem no estrangeiro depende das regras do seu estado de origem. Enquanto alguns estados exigem o envio do boletim de voto impresso, outros permitem a entrega eletrónica. Há também variações em relação aos prazos, uma vez que certos estados exigem que o boletim seja entregue até ao dia da eleição, enquanto outros apenas requerem que seja carimbado até à data do escrutínio, explicou Bruce Heyman, ex-embaixador dos EUA no Canadá e co-coordenador da iniciativa “Americans Abroad” para os Democratas.
De acordo com a organização Democratas no Estrangeiro, aproximadamente 1,6 milhões de norte-americanos residentes no estrangeiro provêm de estados decisivos como o Arizona, Geórgia, Michigan, Nevada, Carolina do Norte, Pensilvânia e Wisconsin. Em 2020, a diferença de apenas 44 mil votos nesses estados foi o suficiente para garantir a vitória de Joe Biden.
Bruce Heyman sublinha ao mesmo jornal a importância do voto dos cidadãos no estrangeiro, referindo que, em 2016, muitos americanos residentes no Canadá, em particular os provenientes do Michigan, não participaram na eleição. Esta constatação, aliada aos resultados apertados dos outros estados decisivos, levou à conclusão de que os eleitores no estrangeiro poderiam ter um papel determinante no resultado final.
Heyman e a sua esposa, Vicki, conseguiram angariar 150 mil dólares para apoiar o projeto de mobilização de eleitores norte-americanos no estrangeiro, a que se somaram os 300 mil dólares já atribuídos pelo DNC.
O ex-embaixador destacou ainda que o número de americanos a viver fora do país aumentou desde o início da pandemia, o que poderá resultar num número de votos ainda mais significativo vindo do estrangeiro nas eleições de novembro.
A iniciativa Democratas no Estrangeiro conta com o apoio de figuras influentes do partido, incluindo a ex-presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, que recentemente participou numa campanha online para incentivar o voto dos norte-americanos no estrangeiro. Pelosi afirmou que os eleitores no estrangeiro podem “fazer a diferença” na eleição, numa mensagem publicada nas suas redes sociais.
Uma vantagem para os Democratas?
Questionado sobre a possibilidade de a campanha de educação eleitoral também incentivar os Republicanos a votarem, Bruce Heyman mostrou-se confiante de que a maioria dos votos no estrangeiro favorecerá os Democratas. “De todas as análises que fizemos e vimos, cerca de 80% dos americanos no estrangeiro votam nos Democratas”, afirmou. “Isso deve-se ao facto de se preocuparem com a política externa e a reputação da América no mundo, e estão muito apreensivos com um possível regresso de Trump”.
O esforço dos dois partidos para conquistar o voto dos cidadãos norte-americanos no estrangeiro revela a crescente consciência da importância destes eleitores, num contexto em que o resultado final da eleição pode depender de uma margem muito estreita. A participação destes eleitores poderá, assim, desempenhar um papel decisivo na escolha do próximo Presidente dos Estados Unidos.