Níveis de metano estão num novo máximo de 800 mil anos, alertam cientistas. Sexta extinção está mais perto
As emissões globais de metano atingiram o valor mais elevado em 800 mil anos, alertou um estudo de cientistas da Universidade de Stanford, no Estados Unidos: de acordo com a publicação ‘SciTechDaily’, se o problema não for resolvido haverá consequências terríveis.
O metano é um dos gases de efeito estufa (GEE) mais potentes. Embora tenha uma vida mais curta na atmosfera do que o dióxido de carbono, o metano aquece o planeta quase 90 vezes mais rápido num período de 20 anos. As suas fontes primárias incluem agricultura, combustíveis fósseis e decomposição de resíduos em aterros sanitários. Apesar da crescente consciência global sobre a necessidade de lidar com as emissões de metano, estas aumentaram em 61 milhões de toneladas anualmente – cerca de 20% — nas últimas duas décadas.
A maior parte desse crescimento veio da mineração de carvão, produção de petróleo e gás, criação de gado e ovelhas e decomposição de resíduos. “Somente a União Europeia e possivelmente a Austrália parecem ter diminuído as emissões de metano de atividades humanas nas últimas duas décadas”, referiu Marielle Saunois, da Université Paris-Saclay, em França, e principal autora do artigo ‘Earth System Science Data’. “Os maiores aumentos regionais vieram da China e do Sudeste Asiático.”
Em 2020, o ano mais recente para o qual há dados completos disponíveis, 65% das emissões globais de metano – quase 400 milhões de toneladas – vieram de atividades humanas: a agricultura e os resíduos sozinhos contribuíram com quase o dobro de metano do que a indústria de combustíveis fósseis.
O estudo da Universidade de Stanford coincide com outros recentes que têm alertado que as emissões estão a um nível recorde: a Agência Internacional de Energia (AIE) relatou em abril último que as emissões de metano estão em níveis históricos, enquanto cientistas da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA (NOAA) relataram que todos os três GEE mais perigosos – dióxido de carbono (CO₂), metano (CH₄) e óxido nitroso (N₂O) – estão em níveis recordes.
O orçamento global de metano está esgotado, garantiram os cientistas de Stanford. “As nossas melhores estimativas para emissões antropogénicas [causadas pelo homem] de metano em 2020, o último ano para o qual há dados completos disponíveis, são de 372 toneladas [345-409] e 392 toneladas [368-409] de orçamento global de metano para métodos de baixo para cima e de cima para baixo, respetivamente”, salientaram os cientistas.
“As maiores fontes de emissões são: pântanos e águas doces interiores, agricultura e resíduos, e produção e uso de combustíveis fósseis. As emissões antropogénicas diretas de estimativas de cima para baixo agora compreendem ∼65% das emissões globais. Quando são incluídas as emissões antropogénicas indiretas, como as de represas e reservatórios, o total é mais de dois terços antropogénicos.”
O Acordo de Paris não estabeleceu limites específicos para o metano, mas reconheceu a importância de reduzir todos os GEE, particularmente o metano, devido ao seu impacto significativo no aquecimento de curto prazo. O esforço foi ‘encapsulado’ no Global Methane Pledge, lançado em 2021, que visa uma redução de 30% nas emissões de metano até 2030 em comparação aos níveis de 2020 – isso não aconteceu. As emissões de metano aumentaram dramaticamente desde 2015, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE).
Metano impulsiona a sexta extinção
O nível de emissões de metano significa que o limite de 1,5°C será completamente perdido e coloca o mundo no caminho para um aquecimento devastador de 3°C até o final do século, de acordo com os membros do Global Carbon Project em Stanford – estudos têm apontado que um quarto das espécies do mundo ou mais morrerão se as temperaturas subirem mais de 3°C devido a mudanças no ecossistema, no que foi apelidado do sexto evento de extinção causado pelo homem no mundo.
“Estudos mostraram que com um aumento de 1,5 graus nas temperaturas globais, o risco de extinção de animais e plantas aumenta em 4% – mas com um aumento de 3 graus, esse risco aumenta para até 26%”, precisou Caroline Müller, professora da Universidade de Bielefeld, na Alemanha.
Cerca de um milhão de espécies animais e vegetais estão agora ameaçadas de extinção, alertou a Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistémicos (IPBES). O alerta também chegou da ONU. “A biodiversidade forma a teia da vida da qual dependemos para tantas coisas – alimentos, água, remédios, um clima estável, crescimento económico, entre outros. Mais de metade do PIB global depende da natureza. Mais de mil milhões de pessoas dependem das florestas para a sua subsistência. e a terra e o oceano absorvem mais de metade de todas as emissões de carbono”, alertaram as Nações Unidas. “Mas a natureza está em crise. Até um milhão de espécies estão ameaçadas de extinção, muitas em décadas. Ecossistemas insubstituíveis como partes da floresta amazónica estão a transformar-se de sumidouros de carbono em fontes de carbono devido ao desmatamento. E 8% das zonas húmidas, como pântanos salgados e manguezais, que absorvem grandes quantidades de carbono, desapareceram.”
Apesar do compromisso global de mais de 150 países de reduzir as emissões de metano em 30% nesta década, as emissões aumentaram a uma taxa sem precedentes nos últimos cinco anos, ameaçando os esforços internacionais para conter as mudanças climáticas. “A tendência não pode continuar se quisermos manter um clima habitável”, sustentaram os autores do estudo, liderados pelo cientista da Universidade de Stanford Rob Jackson, na ‘Environmental Research Letters’. Os dados, publicados juntamente com um artigo na ‘Earth System Science Data’, mostraram que as concentrações atmosféricas de metano estão agora mais de 2,6 vezes maiores do que os níveis pré-industriais – o mais alto que já estiveram em pelo menos 800 mil anos.