NFT: investimento ou colecionismo?

Nos últimos tempos surgiu uma nova tendência que está a atrair a atenção de investidores interessados em criptoactivos. Chama-se NFT e chegou ao mercado financeiro em 2014, através de obras de arte digitais, embora só agora comece a estar em evidência. A sigla NFT designa “non fungible token”, um activo não fungível, ou seja, que não pode ser substituído por outro equivalente e de igual valor. Para melhor se perceber o que isto significa, a melhor comparação é mesmo a bitcoin ou qualquer outra criptomoeda, ou seja, activos fungíveis que podem ser trocados por outros de valor exactamente igual. Uma bitcoin será sempre uma bitcoin, mesmo que a troquemos por outra. O mesmo não se aplica a uma obra de arte digital em NFT. É este o ponto que está a criar uma bolha em torno dos NFT, activos que estão a ser negociados sob a forma de imagens digitais e cujo valor pode ascender a largos milhares de euros, dada a sua autenticidade e momento favorável do mercado. E é também este momento que está a impulsionar a crescente popularidade dos NFT, que, embora já estejam connosco há alguns anos, só agora estão a dar que falar. O primeiro NFT surgiu em 2014 pelas mãos do artista Kevin McCoy e pelo empreendedor Anil Dash, durante um evento que decorreu no Museu de Arte Contemporânea de Nova Iorque. Com o nome “Quantum”, esta foi a primeira obra de arte a ser associada a um certificado NFT. Poucos anos depois, foi leiloada na internet, com uma primeira licitação no valor de 140 mil dólares no dia seguinte à colocação.

Desde então, muitas outras imagens têm vindo a ser associadas a certificados NFT e não se trata, necessariamente, de obras de arte. Muitos dos exemplos disponíveis são imagens que se tornaram populares através de inúmeros memes na internet e que agora valem centenas ou milhares de euros. Assim, onde a bitcoin se tornou a resposta digital à moeda conforme a conhecíamos, os NFT estão a transformar-se no equivalente digital aos coleccionáveis, mantendo o estatuto de autenticidade e de exclusividade que, até agora, só o mundo físico podia oferecer.

Como funciona?

Tradicionalmente, as obras de arte têm valor não necessariamente por uma questão qualitativa, dado que este é um critério subjectivo, mas pelo facto de serem únicas. O famoso quadro de Mona Lisa já foi duplicado em diferentes suportes milhares de vezes, mas apenas o original tem valor, e esse valor él-he atribuído pelo facto de ser único. Esta realidade dificilmente poderia ser transposta para o mundo digital, dada a facilidade com que são feitas cópias exactas, sem que seja possível distinguir o original da cópia. É aí que entram os NFT, que mais não são do que certificados de propriedade, associados a uma imagem, vídeo ou música, e que podem ser transaccionados. Um dos aspectos mais interessantes dos NFT é o facto de qualquer pessoa poder criar e transaccionar um destes criptoactivos.

A partir do momento em que se é detentor de uma peça digital passível de ser transforma- da num NFT, é necessário recorrer a uma das plataformas disponíveis para registar a obra na blockchain (Ethereum), sendo que este registo implica que se tenha uma carteira de criptomoedas que suporte tokens, bem como um pagamento pelos recursos da blockchain que serão consumidos. Apesar desta facilidade na criação de um NFT, não significa que este terá valor no mercado. Esse valor depende de critérios subjectivos, como a qualidade da obra, o seu significado, o seu suporte (imagem, vídeo, áudio) e, principalmente, a promoção que lhe é feita. No fundo, os NFT terão o valor que os consumidores lhe atribuírem. Se for um conteúdo viral poderá valer milhares de euros; se for “apenas” uma obra com qualidade, mas total- mente desconhecida, este valor poderá ter de ser “conquistado” durante algum tempo.

Alguns casos de NFT correspondem já a marcas de grande visibilidade ou a trabalhos gráficos de muita popularidade na internet. Em 2019 a Nike, por exemplo, patenteou um sistema de blockchain chamado CryptoKicks, através do qual a marca consegue verificar a autenticidade dos ténis. Outro exemplo ainda mais evidente de NFT na sua forma mais habitual vem da Panini, que aproveitou a lógica do seu negócio de cromos para criar figuras únicas, ligadas ao mundo do desporto, que podem ser compradas no seu próprio website. Mas há também exemplos completamente diferentes, vindos de desconhecidos que conseguiram tornar os seus trabalhos virais na internet. Um dos NFT mais conhecidos do mundo é o meme do Nyan Cat, que já tem 10 anos de publicação online.

Originalmente, o conhecido gif de um gato desenhado em 8 bits com um corpo de PopTart (um biscoito recheado popular nos Estados Unidos) e um rasto de arco-íris a navegar no espaço em loop infinito foi criado por brincadeira pelo ilustrador Chris Torres. No entanto, o desenho tornou-se viral na internet: foram feitos inúmeros memes, jogos e, por fim, o respectivo NFT, que foi vendido em Fevereiro por 590 mil dólares. É claro que existem milhares de cópias do Nyan Cat na internet, mas só o NFT garante a autenticidade do original, criado por Chris Torres. É isso que os investidores parecem dispostos a pagar. Um outro recurso associado aos NFT, embora facultativo, é a possibilidade do seu criador ganhar uma percentagem de cada revenda do seu trabalho. Ou seja, se um NFT já vendido mudar novamente de mãos, o seu criador continuará a receber uma parte da receita. Este recurso é particularmente útil, porque a qualquer momento a popularidade de um destes activos pode disparar, tornando o seu valor ainda mais alto do que era quando foi vendido pela primeira vez.

Riscos 

Não é difícil perceber que um criptoactivo com estas características está sujeito a uma elevada volatilidade, tanto do próprio NFT, como do mercado. Do lado de quem vende, este é um momento em que alguns poderão ganhar muito dinheiro de um momento para o outro; já do lado de quem compra, é necessário compreender os riscos e pensar nesse investimento em termos de médio ou longo prazo. Alguns especialistas indicam 3% como a percentagem máxima de património que deve ser investido em NFT. No entanto, nem sempre uma lógica de investimento é o que move os entusiastas dos NFT, ao contrário do que acontece, por exemplo, com as criptomoedas. É por isso que grandes marcas e celebridades como a Marvel e Wayne Gretzky, por exemplo, estão a lançar NFT que parecem mais direccionados para os coleccionadores tradicionais do que propriamente para investidores, até porque, no que diz respeito ao valor destes criptoactivos, as opiniões dividem-se: alguns defendem que tendem a valorizar, enquanto outros defendem que este mercado chegará a um ponto que perderá o seu valor.

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