Negócios de private equity na Saúde ultrapassaram os 80 mil milhões de euros em 2022, revela consultora

Os negócios no setor da Saúde mantêm-se resilientes, com 2022 a registar níveis quase recordes de transações na indústria, tanto em volume como em valor, revelou esta segunda-feira o ’12th Annual Global Healthcare Private Equity and M&A Report’, o relatório anual sobre capital de risco e fusões e aquisições da Bain & Company.

Apesar de uma desaceleração devido às forças macroeconómicas e geopolíticas no segundo semestre do ano, 2022 foi, mesmo assim, o segundo melhor ano de sempre nas transações da indústria da Saúde, devido em grande parte ao ritmo acelerado de investimentos no início do ano. O valor total reportado dos negócios de capital de risco no setor da Saúde (HCPT, da sigla em inglês) atingiu quase os 90 mil milhões de dólares (cerca de 82 mil milhões de euros), abaixo dos 151 mil milhões de dólares (139,2 m.M. de euros) em 2021, mas ainda mais de 10 m.M. acima do que no ano mais próximo. O relatório da Bain & Company mostra que o abundante capital disponível para o investimento e o potente histórico de retornos vão continuar a atrair fundos específicos para a saúde em 2023.

“O capital de risco na Saúde ganhou a reputação de ser à prova de recessões, superando tipicamente a atividade geral de private equity durante crises económicas”, afirmou Kara Murphy, codiretora de Healthcare Private Equity da Bain & Company. “Embora o ambiente seja resiliente, os investidores vão enfrentar desafios continuados mais à frente, já que as taxas de juro e os custos do trabalho continuam a subir e o crédito mantém-se limitado. À medida que os nossos clientes investem para oferecer melhores cuidados de saúde, vão precisar de se concentrar, de forma diferenciada, no planeamento da criação de valor em dilligence e pós-fecho.”

Olhando para 2023, os fundos estão a explorar novas fontes de capital, a procurar carve-outs, negócios public-to-private e a olhar para subsetores capazes de um desempenho diferenciado no atual ambiente de mercado. “A mudança está a chegar à medida que 2023 se vai desenrolando”, acrescentou Álvaro Pires, Senior Partner da Bain & Company em Lisboa. “Os investidores que já enfrentaram ciclos anteriores têm manuais especializados para esses tempos, aos quais vão poder adaptar a sua abordagem habitual. Isto inclui jogar com as tendências de longo prazo e ser criativo para fechar negócios no meio de restrições de capital e inflacionistas.”

Indústrias a seguir em 2023

· As biofarmacêuticas e as ciências da vida continuam atrativas. Seis dos 10 principais negócios realizados no ano passado foram em biofarmacêutica, ferramentas de ciências da vida e serviços relacionados. Dentro destes subsetores, mais de 600 acordos de aquisição de serviços de saúde foram executados nos últimos cinco anos em todo o mundo. Em 2023, a fasquia para fechar os negócios certos está alta, pois a disputa por estes ativos continua forte e as avaliações aumentaram, mesmo dentro do atual contexto macro. Os investidores aqui precisam de definir claramente as suas estratégias, cristalizando os sítios onde um fundo vai escolher jogar e o que é que dá a esse fundo o direito de vencer em face de uma possível desaceleração e mais além.

· Oportunidades de expansão em torno dos cuidados assentes em valor. As macrotendências sustentadas continuam a impulsionar a adoção de cuidados assentes em valor num espetro de modelos de cuidados de saúde. Embora a atividade de investimento permaneça focada nos cuidados primários e no Medicare Advantage, estão a expandir-se as oportunidades em outros segmentos pagadores e especializados. Os modelos facilitadores representam um caminho de investimento atrativo, com a adoção impulsionada pela necessidade de grupos tradicionalmente de comissão-por-serviço participarem em acordos baseados no risco.

Os providenciadores e os facilitadores dos cuidados de saúde assentes em valor que podem dobrar a curva de custos com modelos de cuidados diferenciados e análises avançadas estão posicionados para o sucesso.

É provável que isto acelere à medida que aumenta a regulamentação, os dados dos primeiros utilizadores são analisados e mais tecnologias de capacidade aprimorada inundam o mercado. A análise da Bain & Company sugere que os acordos de comissão-por-valor vão capturar de 15 a 20% da quota de mercado dos fornecedores tradicionais de FFS nos cuidados primários até 2030, promovendo mais investimentos neste campo.

· Adaptação aos avanços da IA. 2022 foi um ano monumental para a inteligência artificial generativa (IA), com novos serviços a surgir na geração de imagens e texto. A IA já está a acelerar a descoberta terapêutica, otimizando as cadeias de abastecimento e automatizando os back-offices de pagadores e fornecedores. As aplicações da IA generativa começam apenas a surgir. As partes interessadas estão atentas e prontas para se adaptarem quando for a hora certa.

· As TI da Saúde continuam a crescer. Apesar de os gastos em tecnologia de Saúde serem historicamente insuficientes, em 2022 o volume de compras em TI da Saúde (HCIT) foi o segundo maior de sempre. Com a TI do providenciador a manter-se o principal impulsionador, a TI biofarmacêutica e a TI do pagador estão a ganhar terreno. Dentro da TI biofarmacêutica, vemos o interesse por empresas que usam tecnologia de suporte à produtividade do fluxo de trabalho e de redução da duração dos ensaios clínicos. Os negócios de TI do pagador refletem o interesse contínuo em tecnologia focada nas funções administrativas do pagador.

Atuação regional: sinais crescentes de força e maturidade na APAC

O valor total dos negócios reportados na Ásia-Pacífico manteve o ritmo recorde de 2021. A atividade do setor de providenciadores permaneceu resiliente, em parte graças ao crescente mercado de transações na Índia, que representou 4 dos 10 principais negócios na região. Apesar da desaceleração da atividade na China, os grandes negócios no Japão, Índia, Coreia do Sul e Austrália representaram a maior parte da atividade de negócios na Ásia-Pacífico. Ao contrário da América do Norte e da Europa, a Ásia-Pacífico ficou marcada por um segundo semestre forte, com seis transações de um valor reportado de mil milhões de dólares ou mais.

Esta forte atividade regional é uma prova do amadurecimento destes mercados, com amplitude geográfica, oportunidades em todos os setores e dimensão de verificação que continuam a crescer. Olhando para o futuro, esperamos que o interesse dos investidores pelo capital de risco no setor da Saúde da Ásia-Pacífico permaneça forte, já que um conjunto emergente de ativos investíveis vai continuar a atrair o interesse dos grandes fundos.

A América do Norte ficou à frente de outras regiões em 2022 em termos do total de transações e valor reportado. Embora os volumes de transações tenham caído quase 25% face aos níveis históricos vistos em 2021, em 2022 representam, apesar disso, o segundo melhor ano de sempre. Na Europa, o total de negócios caiu cerca de 20% para os 92 em 2022, também fazendo de 2022 o segundo melhor ano de que há registo na região.

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