NATO está a perder a paciência com um dos seus membros. E não é a Hungria de Orbán

O Canadá vem ‘fugindo’ do seu compromisso com a NATO há uma década, mas poderá não ser capaz de resistir por muito mais tempo. Nos últimos anos, Ottawa tornou-se uma exceção na aliança: não conseguiu atingir as metas dos gastos militares domésticos, ficou aquém dos ‘benchmarks’ para financiar novos equipamentos e não tem planos para atingir essa meta.

É uma postura que tem frustrado aliados em todos os lugares — da Casa Branca aos corredores do Congresso e às capitais de toda a Europa.

Esta postura vai estar na mente dos membros quando se reunirem, a partir desta terça-feira, em Washington para a Cimeira da NATO, onde devem pressionar o Canadá para que forneça o dinheiro, ao mesmo tempo que alertam que a situação pode piorar muito se Donald Trump regressar à Casa Branca.

“O que está a acontecer agora é que todos estão a gastar mais. O facto de o Canadá nem o tentar tornou-se óbvio”, salienta Max Bergmann, ex-funcionário de controlo de armas do Departamento de Estados dos EUA, citado pelo jornal ‘POLTIICO’, que entrevistou meia dúzia de diplomatas de países da NATO e que estes deixaram claro que, quando se trata de gastos em Defesa, os aliados estão fartos.

“Eles continuarão a ser obstinados” porque não há nenhuma penalidade real por não atingir a meta da aliança, refere um funcionário do Congresso dos EUA. “Os europeus estão frustrados por estarem a ser criticados e o Canadá não está a sentir a mesma pressão de Washington.”

Um dos 12 membros fundadores da NATO, o Canadá prontamente assinou a promessa de 2014 de gastar 2% do PIB em defesa após a invasão da Crimeia por Vladimir Putin: este ano, 23 dos 32 membros atingirão a meta. Dois dos que resistiram foram o Canadá e a Bélgica, que não só não conseguiram atingir a meta de 2% como também a exigência de gastar 20% desse valor em novos equipamentos.

Ao contrário do Canadá, no entanto, a Bélgica diz que chegará lá até 2035. Quando chegará o Canadá? Não dizem.

O caso do Canadá é particularmente frustrante, garantem os diplomatas, por causa da aparente falta de urgência de Ottawa, apesar dos problemas significativos com o seu equipamento militar envelhecido e a sua economia forte – o seu exército é tão subfinanciado que metade do seu equipamento é considerado “indisponível e inutilizável”, de acordo com um relatório interno tornado público.

“O público canadiano não vê realmente a necessidade”, salienta Philippe Lagassé, presidente da Barton University na Carleton University do Canadá. “Se forçado a escolher entre gastos com Defesa, programas sociais ou redução de impostos, a Defesa sempre viria por último. Então não há ganho político em cumprir a promessa.”

A postura do Canadá levou mesmo um grupo bipartidário de 23 senadores dos EUA a tomar a medida extremamente rara de enviar uma carta ao primeiro-ministro Justin Trudeau em maio, dizendo que estavam “preocupados e profundamente dececionados com o facto de a projeção mais recente do Canadá indicar que o país não atingirá o seu compromisso de 2% nesta década”.

A aparente indiferença dos políticos do Canadá à situação ficou evidente em abril, quando o Governo de Trudeau lançou uma nova política de defesa que prevê apenas 1,7% até 2030. O relatório levou alguns na aliança a criticar Ottawa devido à forte economia do país, à ausência de dívida e à posição de liderança em diversas questões de segurança internacional. Uma postura que, referem, dá um mau exemplo para outros.

“Acho realmente que o que o Canadá está a fazer é tornar mais fácil para os países europeus irem devagar para atingir a meta”, denuncia um diplomata europeu.

Numa visita a Washington em maio último, o novo ministro da Defesa, Bill Blair, rejeitou as críticas de que o Canadá não tinha intenção de se juntar ao clube dos 2%. “Espero que quando regressarmos a Washington para a cimeira de julho, possamos tranquilizar os nossos aliados de que o Canadá entende as suas obrigações”, referiu. “Há mais a fazer. Vamos fazer mais, temos de fazer mais. Quero poder assegurar aos aliados que estamos a fazer o trabalho agora.”

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