“O 1143 não organiza crimes”: Mário Machado nega envolvimento do grupo nas agressões a migrantes no Porto

Mário Machado, porta-voz do grupo de extrema-direita 1143, garantiu hoje que nem ele nem o organismo que lidera tiveram qualquer envolvimento nas agressões a migrantes no Porto, na semana passada, contradizendo as informações veiculadas nos últimos dias pelas autoridades.

Nas redes sociais, foi divulgado um podcast no qual Mário Machado fala sobre o tema e reage às acusações. Nós não temos por norma fazer comunicados, [sobre] se temos ou não alguma coisa a ver [com episódios de violência], porque se o fizéssemos não tínhamos tempo para [levarmos a cabo] ações ou para a nossa vida pessoal. Todos os dias somos acusados, difamados e vilipendiados por milhares de pessoas, a esmagadora maioria ligada à extrema-esquerda” , começou por afirmar.

Mário Machado sublinhou que o grupo “respeita a Constituição”, “ainda que não concorde com ela”, e que nenhum dos seus elementos “comete crimes”.

“Nunca iremos cometer nenhum crime, muito menos em nome do grupo ou envolvendo o grupo”, assegurou, explicando que “conversas gravadas e intercetadas” pelas autoridades, em escutas, poderão provar isso mesmo.

“Vamos aguardar pacientemente. Agressões como estas acontecem contra portugueses todos os dias. Existem dezenas de policias atacados por imigrantes e ninguém quer saber. Se houve pessoas ligadas à extrema-direita, lamentamos, e lamentamos por estas pessoas e pelas suas famílias, porque o sistema vai ser implacável para quem tenha cometido este crime. São as primeiras vítimas a lamentar”, apontou ainda Mário Machado.

Recorde-se que Polícia de Segurança Pública (PSP) do Porto deteve um homem de 26 anos na madrugada da última sexta-feira e identificou posteriormente outros cinco indivíduos, todos suspeitos de terem perpetrado os ataques contra imigrantes nessa mesma noite, que foram atacados em casa. As autoridades associam estes indivíduos ao grupo 1143, de extrema-direita, que tem como porta-voz Mário Machado, e que no mês passado organizou uma manifestação no Porto intitulada “Menos Imigração, Mais Habitação”.

A informação é avançada por fontes da investigação ao Público, adiantando que há indícios de que pelo menos uma parte desses seis indivíduos esteve envolvida em dois ataques contra imigrantes na mesma noite.

O primeiro ataque ocorreu por volta das 0h40 no Campo 24 de Agosto, onde duas vítimas argelinas foram agredidas por um grupo de quatro a cinco portugueses munidos com tacos de basebol. No segundo ataque, por volta da 1h, na rua do Bonfim, um grupo de 10 a 15 elementos, alguns encapuzados, invadiu uma casa onde residiam imigrantes, a maioria argelinos, agredindo alguns deles com bastões, facas e paus. Duas vítimas necessitaram de tratamento hospitalar, sendo que um deles, um argelino de 28 anos, permanece internado devido a fraturas num braço e uma perna causadas durante a fuga.

Um terceiro incidente ocorreu por volta das 3h15 na zona da Batalha, onde um cidadão marroquino foi agredido por um grupo de oito homens que o ameaçaram com uma arma de fogo, segundo comunicado da PSP divulgado no sábado. O telemóvel da vítima também foi roubado.

Agentes da PSP detiveram posteriormente um português de 26 anos, residente em Gondomar, a quem foi apreendido um bastão extensível. O suspeito, com antecedentes criminais por agressão e furto, foi presente a um juiz de instrução na tarde de sexta-feira, que determinou a sua prisão preventiva, considerando que o mesmo estava a cumprir uma pena suspensa por crimes semelhantes.

Na madrugada de sexta-feira, os detidos foram conduzidos para as instalações da Divisão de Investigação Criminal da PSP, onde cinco indivíduos procuraram o suspeito detido anteriormente. Os suspeitos estavam nas imediações da esquadra em um carro cuja matrícula foi identificada como utilizada no primeiro ataque. A PSP procedeu à identificação dos cinco homens e realizou uma busca ao veículo, onde encontrou um gorro que correspondia às descrições feitas pelas vítimas do primeiro ataque.

Os casos, qualificados como crimes de ódio com base nos relatos das vítimas, foram investigados pela PSP até sábado, quando ganharam destaque nacional após uma manchete do Jornal de Notícias. A Polícia Judiciária do Porto solicitou a transferência dos processos, uma vez que existiam suspeitas de crimes de ódio, competência exclusiva da judiciária, de acordo com a legislação sobre organização da investigação criminal.

Uma fonte da Polícia Judiciária sublinha que as investigações estão em curso e que, neste momento, nenhuma linha de investigação está excluída, incluindo a possibilidade de o ataque à casa ter sido motivado por ajuste de contas com um dos residentes. No entanto, na PSP, há a convicção de que esses crimes tiveram motivação racista e não estão relacionados com a insatisfação na zona do Campo 24 de Agosto/Bonfim, atribuída a um suposto aumento de furtos e roubos cometidos por cidadãos magrebinos.

Ao Jornal de Notícias, as vítimas relatam não saber as motivações do ataque, mas que temem novos episódios de violência. “Nunca tivemos problemas com ninguém”, lamentam, relatando que o grupo de jovens que os veio a atacar, no Bonfim, rondou o prédio onde os migrantes viviam.

Segundo este mesmo diário, nenhuma das vítimas do ataque tinha ficha policial ou antecedentes criminais.

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