Na Rússia, a mobilização militar geral já é vista como “inevitável”: incursão ucraniana em Kursk força Kremlin a chamar recrutas para a linha da frente

A ‘invasão ucraniana’ das regiões russas de Kursk e Belgorod colocou em cima da mesa a necessidade de aumentar o poderio do exército da Rússia: isso mesmo foi exigido pelos deputados russos, por altos comandantes militares, por analistas, que consideram “inevitável” empreender uma mobilização geral antes do final de 2024, que incorpore todos os homens entre os 18 e 60 anos, uma medida que o Kremlin tem procurado evitar dado o seu potencial caráter desestabilizador.

Recorde-se que Vladimir Putin decretou a “mobilização parcial dos reservistas” a 21 de setembro de 2022, com o objetivo de recrutar 300 mil soldados. No entanto, o número de soldados profissionais contratados foi insuficiente e tornou-se necessário recorrer a mercenários, sobretudo do grupo Wagner, e oferecer a exoneração de penas de prisão em troca de seis meses na frente. Foram também recrutados estrangeiros de países da Ásia Central e África, assim como do Bangladesh e Índia – aos imigrantes, sobretudo tadjiques, quirguizes e uzbeques, foi oferecida a nacionalidade russa em troca do alistamento nas Forças Armadas e do combate na Ucrânia.

Em setembro último, o antigo presidente russo, Dmitry Medvedev, salientou que além dos 300 mil mobilizados, foram recrutados por contrato mais 270 mil soldados: Putin salientou na altura não ser necessária uma mobilização geral, pois segundo as suas informações, “entre 1.000 e 1.500 russos assinam contratos voluntários diariamente para ingressar no exército”. Desde 2022, o número total de mobilizados na Rússia ascende a pelo menos 760 mil pessoas.

No entanto, de acordo com os serviços de Inteligência britânicos, num comunicado em junho último, “o número total de vítimas russas, mortos e feridos, desde o início da guerra em fevereiro de 2022 atingiu provavelmente 500 mil” – já o site independente russo ‘Mediazona’ estimou as vítimas mortais russas em pouco mais de 55 mil, embora destaque que o número mais provável de mortos ronde os 85 mil.

Há mais fatores que reduzem a capacidade das tropas russas: as deserções, cujo número exato é um mistério, e o êxodo de russos para o estrangeiro para evitar serem mobilizados. Segundo a Direção Geral de Informações do Ministério da Defesa da Ucrânia (GUR), terão sido 18 mil os soldados russos que desertaram. Já o número de pessoas, de acordo com o jornal russo ‘Novie Izvestia’, que abandonaram o seu país varia entre os 800 mil e um milhão de pessoas.

De acordo com as agências russas, está a ser pensado um procedimento para aumentar as fileiras do exército russo: a iniciativa parte do Supremo Tribunal da Rússia, através de um projeto de lei que permitirá que aqueles que concordam em ir para a frente na Ucrânia fiquem isentos de responsabilidade criminal antes do julgamento terminar e a sentença ser proferida.

Embora o Kremlin tenha repetido incessantemente que não enviaria para a guerra recrutas que prestassem serviço militar obrigatório, a verdade é que já começou a utilizá-los. E o pretexto é a incursão ucraniana em Kursk. Os propagandistas do Kremlin têm recordado que os jovens substitutos foram enviados para combater no Afeganistão e também na Chechénia – portanto, é mais do que válido usá-los agora para defender o território russo em Kursk e Belgorod.

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