“Muitos líderes estão presos a modelos ultrapassados”, diz a especialista em cultura corporativa, Ozioma Egwuonwu

Especialista em cultura corporativa, Ozioma Egwuonwu já aconselhou governos, empresas e organizações sem fins lucrativos. Nesta entrevista à Executive Digest explica como os líderes empresariais se podem preparar para os desafios da próxima década, as competências necessárias e o que vai mudar no mundo do trabalho. 

Atendendo ao actual contexto geopolítico, que tipo de líderes serão necessários no futuro?
Escusado será dizer que quando olhamos para o futuro, vemos muitos desafios. Acredito que estes desafios fizeram surgir a necessidade de um certo tipo de líder que se destacará entre os demais para nos ajudar a enfrentar e a navegar no nosso caminho através destes desafios.
Chamo a estes líderes “Criadores de Futuro Visionários”. São os tipos de líderes que nos guiam para o futuro de que o nosso mundo precisa hoje. Os “Criadores de Futuro Visionários” são os líderes do futuro. São inspirados por uma visão superior de possibilidade e estão dispostos a desenvolver-se a si próprios, às suas equipas e às organizações que lideram para desempenharem papéis positivos na abordagem das grandes incógnitas que enfrentamos.
Os líderes do futuro serão chamados a olhar para além do “status quo” e paradigmas ultrapassados existentes e guiar-nos para uma nova forma de fazer negócios que seja mais consciente, competente, responsável e crie resultados benéficos para todos. Estes líderes estão conscientes de que têm uma tarefa especial a cumprir cada vez que lideram uma iniciativa ou projecto e estão à altura do desafio. Aproveitam a expansão das capacidades a nível individual e colectivo, incluem mais stakeholders nas suas considerações e adoptam uma abordagem dinâmica para se liderarem a si próprios e a outros.
Este estilo de liderança será consciente, responsável, intencional e dirigido por líderes e organizações que abraçam e activam um sentido de propósito transformador que muda a trajectória do que é possível no mundo dos negócios e para além dele.

Como podemos prepará-los para os desafios?
Não há forma de saber o que o futuro nos reserva, mas é importante que os líderes continuem a aperfeiçoar a sua capacidade de prestar atenção às tendências e aos sinais emergentes e a recolher conhecimentos que lhes permitam agir em conformidade. Há muitas formas de aumentarmos a nossa capacidade de ir ao encontro do futuro e de nos empenharmos vigorosamente no que parece estar para vir. Um dos principais métodos que temos à nossa disposição é desenvolver a previsão. Outra prática é experimentar pensar como um Ser do Futuro olharia para o mundo de hoje. O que precisa de mudar no seu negócio para criar o impacto desejado que vê ao olhar para o futuro? Podem surgir novos insights a partir desta experiência. importante ensinar aos líderes como aceder à sua imaginação. Muitos líderes estão presos a modelos que já existem e não tiveram acesso à sua própria criatividade. A capacidade de inovar começa com a imaginação.

De que capacidades necessitarão mais?
Acredito que o mais importante é que os líderes façam da aprendizagem e da melhoria das competências uma prática constante e infindável, para permanecerem significativamente empenhados no que é necessário para manter a sua organização relevante e bem-sucedida.
Uma das competências de que os líderes do futuro necessitarão mais é a resolução colaborativa de problemas. À medida que o nosso mundo se torna cada vez mais volátil, incerto, complexo e ambíguo, tornar-se-á cada vez mais importante para os líderes dominarem abordagens e técnicas de resolução de problemas que lhes permitam adaptar-se rapidamente a tudo o que possa surgir a qualquer momento e fazê-lo em concertação com as suas equipas, para não assumirem sozinhos a pressão de enfrentar os desafios, aprendendo a fazê-lo em colaboração com outros. Isto significa aprender a abraçar o que é estar numa relação dinâmica com os outros. O desenvolvimento desta capacidade apoiará a resiliência sob pressão.
É também importante reconhecer que a literacia de comunicação (verbal e não verbal), a empatia e as capacidades de ligação humana serão competências essenciais. Isto vai além de conseguir gerar vendas, implica desenvolver a capacidade de gerar empatia, atenção, compaixão que se manifesta em toda a organização. Estas competências são conhecidas como soft skills, mas, para mim, o que elas revelam é quais os líderes que são bons a serem humanos. Ser humano é e continuará a ser uma aptidão essencial de liderança.

Quais os principais desafios para os próximos 10 anos?
Há vários desafios que os líderes empresariais enfrentarão nos próximos 10 anos, incluindo incerteza económica global, emergência climática, mudanças demográficas, tecnologias disruptivas e conflitos ideológicos transcendentes.
Para enfrentarem estes desafios, líderes e organizações terão de ser proactivos – não passivos -, abraçar um propósito superior e tornar-se aquilo a que chamo “Solucionários” que abraçam sistemas de reflexão e que pensam holisticamente, porque cada desafio está ligado a uma oportunidade de impacto.
Vejo que um dos principais desafios para os líderes será enfrentar os desafios climáticos e culturais que já estão presentes e que continuarão a surgir. Isto significa aceitar o papel de poderosos agentes de transformação e ter a coragem de tomar decisões que sirvam a vida. Significa obter fontes de abastecimento sustentáveis e reduzir radicalmente as emissões de carbono. Significa criar locais de trabalho prósperos onde as pessoas possam fazer o seu melhor trabalho e tornar-se o seu melhor “eu”.
Em última análise, os maiores desafios que os líderes irão enfrentar é a criação de condições prósperas dentro das suas organizações e no mundo.

Qual o legado da pandemia no futuro do trabalho?
A pandemia teve, sem dúvida, um impacto no futuro do trabalho de muitas maneiras. Um legado fundamental que emerge da pandemia é que os líderes receberam um convite para reformular e reinventar o que é possível dentro e fora das suas organizações.  Isto terá sérias implicações para os resultados culturais e organizacionais do local de trabalho. As organizações terão de repensar políticas, estruturas, pessoal, o que incluirá horários de trabalho ainda mais flexíveis e oportunidades de trabalho remoto. A criação de narrativas culturais internas e a manutenção da coesão cultural serão postas à prova no meio de equipas distribuídas e híbridas. O que isto significará para a própria natureza da colaboração ainda está por ver, mas tecnologias como os quadros brancos digitais do Zoom e a realidade virtual são e continuarão a ser fundamentais para permitir que o trabalho seja feito a partir de qualquer parte do mundo.

Isso também implica uma mudança de mentalidade? De que forma?
Sim, o futuro do trabalho implica uma mudança de mentalidade porque a conjuntura do trabalho mudou radicalmente, de uma onde tudo estava centralizado em torno de um local para uma em que, agora, nos afastamos dessa noção e abraçamos o que significa estar distribuído e, em muitos aspectos, mais descentralizado. O significado do trabalho e o que dá significado ao trabalho continuará a transformar-se, à medida que aqueles que compõem a força de trabalho continuarão a desenvolver expectativas diferentes para o que se deseja dos seus líderes e organizações.
Será necessária a viragem para uma mentalidade que abrace a mudança sem fim. Conjuntos de mentes alinhadas com modelos operacionais e relacionais que criam locais de trabalho prósperos. Uma mentalidade de crescimento é essencial, mas há outras mentalidades que são essenciais. Duas que menciono frequentemente nas minhas palestras, e que ajudo líderes e organizações a desenvolver nas minhas formações e consultas, são a mentalidade de transformação e a mentalidade exponencial.
Uma mentalidade de transformação acredita que o poder de transformar as condições actuais está presente e disponível para cada um de nós como líderes e em todas as nossas organizações, e convida-nos a activar o poder de transformar as condições actuais em condições mais desejáveis. Uma mentalidade exponencial convida-nos a libertar o nosso apego a trajectórias de desenvolvimento linear e a abraçar a nossa capacidade de gerar resultados que emergem a um ritmo e de uma forma estonteante que nunca poderíamos ter imaginado. Crescimento, transformação e mentalidade exponencial – as três são essenciais para navegar no futuro
do trabalho. 

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