Morreu Celeste Caeiro, a mulher que distribuiu cravos aos soldados e deu côr ao 25 de Abril

Celeste Martins Caeiro, conhecida como “Celeste dos Cravos” e figura incontornável do 25 de Abril de 1974, morreu esta sexta-feira, deixando um legado profundamente enraizado na memória coletiva de Portugal. O Partido Comunista Português (PCP), em comunicado, manifestou o seu pesar pela morte da militante comunista, descrevendo-a como “uma mulher trabalhadora, de convicções fortes, que enfrentou uma vida de dificuldades com perseverança”.

Nascida em Lisboa, a 2 de maio de 1933, Celeste Caeiro cresceu numa família humilde e passou grande parte da sua vida na capital. A sua história cruzou-se de forma inesquecível com a Revolução dos Cravos, simbolizando a aliança entre o povo e o Movimento das Forças Armadas (MFA), que derrubou o regime fascista.

O dia em que os cravos mudaram a história

Na manhã do dia 25 de abril de 1974, Celeste preparava-se para mais um dia de trabalho num restaurante na Rua Braancamp, em Lisboa. Segundo as suas palavras, partilhadas em inúmeras entrevistas ao longo dos anos, o restaurante comemorava o seu aniversário nesse dia e o gerente tinha comprado cravos vermelhos e brancos para distribuir aos clientes. Contudo, perante a incerteza dos acontecimentos daquela manhã, o patrão decidiu não abrir o estabelecimento e permitiu que os empregados levassem as flores para casa.

Em vez de regressar a casa, Celeste apanhou o metro para o Rossio e dirigiu-se ao Chiado, onde se deparou com veículos militares nas ruas. Intrigada, aproximou-se de um soldado e perguntou o que se passava. “Nós vamos para o Carmo para deter o Marcelo Caetano. Isto é uma revolução!”, respondeu-lhe o militar.

Sem cigarros ou comida para oferecer aos soldados, Celeste entregou-lhes as flores que trazia consigo, dizendo: “Se quiser tome, um cravo oferece-se a qualquer pessoa.” Foi nesse momento que o gesto simples de colocar cravos vermelhos nos canos das espingardas se tornou no símbolo da revolução pacífica.

Uma vida marcada pela liberdade

Ao longo das horas que se seguiram, Celeste continuou a distribuir cravos pelos soldados que encontrava, desde o Chiado até à Igreja dos Mártires. Emocionada, recordou que “os cravos estavam nas espingardas e elas assim não podiam disparar”.

O gesto espontâneo de Celeste projetou a Revolução dos Cravos internacionalmente, simbolizando a luta pela liberdade e a resistência ao regime autoritário.

Um legado imortal

O PCP, no seu comunicado, destacou a generosidade e a afabilidade de Celeste Caeiro, lembrando que a sua figura estará para sempre associada à história e à memória do 25 de Abril. “A camarada Celeste ficará para sempre na história da liberdade no nosso país”, sublinha o partido.

Celeste Caeiro dedicou grande parte da sua vida a partilhar a sua experiência e a inspirar gerações futuras, visitando escolas e instituições para contar a história daquele dia inesquecível.

A morte de Celeste deixa Portugal mais pobre, mas o seu legado de coragem e esperança perdurará como um exemplo de que gestos simples podem mudar o rumo da história.

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