Moratórias: ‘Fitch’ aponta para 7,26 mil milhões de euros que se podem transformar em crédito malparado

Desde o fim das moratórias, a 30 de setembro, vários bancos, como a Caixa Geral de Depósitos, têm relatado uma situação “tranquila” com a maior parte dos seus devedores.

A agência de rating ´Fitch’ transformou esta expressão em percentagens e anunciou, citada pelo Jornal de Negócios, que “a expectativa é que entre 10% e 20% do ‘stock’ total de moratórias ao longo do período completo de suspensão de pagamentos se possam transformar em crédito malparado”, explica ao Negócios Rafael Quina, responsável da Fitch, no âmbito de um webinar realizado pela agência de notação na sexta-feira sobre o sistema bancário português.

De acordo com o diretor da Fitch, isto tem de ser considerado “num contexto em que os bancos já foram classificando algumas dessas exposições enquanto ‘stage 3’ (crédito malparado) desde 2020”, sendo que, “atualmente, cerca de 7% a 8% dos créditos em moratórias estão neste patamar”, escreve a publicação ecnonómica do grupo Cofina.

A agência de ‘rating’ Fitch defendeu a semana passada que a gestão do período pós-moratórias será o “elefante na sala” dos bancos portugueses, considerando insuficientes as medidas do Governo de apoio à reestruturação de créditos.

Segundo analistas da Fitch, num encontro com jornalistas, a solução do Governo de apoio a créditos que ficam sem moratórias “chegou tarde”, o apoio envolvido é “moderado” e o acesso ao regime é complexo, pelo que a agência de ‘rating’ considera que “não tem a certeza se este apoio é um ‘game changer’ [se fará a diferença]” no período pós-moratórias.

Os bancos a operar em Portugal tinham, no final de agosto, 36,3 mil milhões de euros de créditos cobertos por moratórias (suspensão de capital e/ou juros). A grande maioria desses créditos tiveram de começar a ser pagos no final de setembro (quando acabaram as moratórias), nomeadamente créditos à habitação e créditos de empresas.

No caso de créditos de empresas dos setores mais afetados pela pandemia que tenham de ser reestruturados, o Estado vai garantir 25% do crédito, tendo disponibilizado uma linha de 1.000 milhões de euros. Esta medida tem levantado críticas quer das empresas quer da banca, nomeadamente por os créditos reestruturados serem marcados como uma reestruturação normal, com implicações tanto para empresas como para a banca.

Segundo o analista Rafael Quina, nos próximos trimestres o “elefante na sala” dos bancos será mesmo o modo como será gerido o fim das moratórias, após um período tão longo de tempo em que milhares de clientes não pagaram os empréstimos aos bancos.

Para a Fitch, os bancos mais vulneráveis, em termos de capital e de ativos problemáticos, são o Novo Banco e o Montepio, enquanto BCP, Caixa Geral de Depósitos (CGD), BPI e Totta estão numa posição mais confortável.

Analisando o sistema bancário português, a Fitch considera que hoje os bancos estão mais resilientes face há alguns anos, e que têm um modelo de negócio mais rentável, mas que continuam muito sensíveis à evolução da taxa de juro, considerando ainda que o modelo de negócio é ainda muito tradicional e que deveriam diversificar mais as atividades.

A Fitch considera ainda que os bancos têm melhorado na eficiência, com CGD, BCP e Totta a reduzirem custos com funcionários, e sobre se irá continuará a saída de trabalhadores dos bancos afirmaram os analistas que essa é uma tendência comum à Europa e que se irá manter, ajudada pela digitalização do setor e mudança de hábitos dos clientes.

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