Monkeypox, pólio, hepatite aguda infantil: Por que razão há cada vez mais surtos de doenças pelo mundo?
O ano de 2022 está a ficar marcado pelo surgimento, e também regresso, de várias doenças, além da Covid-19.
Tivemos a misteriosa hepatite aguda infantil que afetou várias crianças nos Estados Unidos e na Europa e agora temos o surto de varíola dos macacos, ou monkeypox, com a Organização Mundial de Saúde (OMS) a revelar esta quarta-feira que o número total de casos confirmados a nível mundial já ultrapassou a marca dos 35 mil.
Ainda este ano, a meningite matou pelo menos uma dezena de pessoas no estado norte-americano da Florida, e pelo menos um bebé terá morrido no Connecticut devido a um vírus que infetou vários recém-nascidos em algumas localidades nos EUA.
E ainda na semana passada, as autoridades de saúde de Nova Iorque anunciaram que o vírus da poliomielite tinha regressado, depois de ter sido detetado em águas residuais nesse estado. A poliomielite foi também detetada em Londres, também em sistemas de gestão de águas residenciais, no início do ano.
Ao ‘Insider’, especialistas explicam que o ritmo de surgimento de surtos está a aumentar e que a causa reside não em um, mas em pelo menos sete fatores.
Um deles é a cada vez maior proximidade entre os humanos e animais, fazendo com que seja maior a probabilidade de transmissão de zoonoses – doenças de origem animal que podem ser passadas aos humanos.
Os dados apontam para que a Covid-19, o Ébola, o HIV, a MERS, a SARS, a influenza e a monkeypox tenham tido origem em animais. Os especialistas apontam que a desflorestação e o comércio ilegal de animais selvagens são alguns dos fatores que reduzem a distância entre os humanos e a vida selvagem e que podem aumentar os surtos de doenças.
Outro fator é a globalização. Um mundo profundamente interligado faz com que uma doença seja disseminada a nível global com relativa facilidade.
“Sempre que alguém entra num avião, existe um pequeno risco de estarem a levar consigo alguma coisa”, refere Eric Rubin, editor da revista científica ‘New England Journal of Medicine. “Quanto mais pessoas viajarem de avião, maior será o risco.”
A crise climática está também a potenciar o surgimento de surtos de doenças. Um estudo publicado este mês na revista Nature revela que a propagação da maior parte dos patógenos será intensificada pelo aquecimento global, e muitas deles podem já estar a beneficiar dessas alterações do clima.
Temperaturas mais elevadas fazem com que insetos, como mosquitos portadores de doenças, possam viajar até regiões onde antes era demasiado frio para sobreviverem.
Os especialistas apontam que outra causa do aumento de surtos de doenças se deve ao facto de os níveis de vacinação de crianças terem caído a pique em todo o mundo nas últimas décadas, o que a OMS considera ser “o mais declínio sustentado da vacinação infantil em cerce de 30 anos”.
Outra razão prende-se com o facto de durante vários anos os países desenvolvidos terem escolhido ignorar surtos me países mais pobres. Por exemplo, a monkeypox já afeta países em África há décadas, mas só agora os Estados mais ricos começam a prestar atenção a esta doença, quando se dissemina pelas ruas das suas cidades.
No início de agosto, Ibrahima Socé Fall, vice-Diretor-Geral para Emergências da OMS, afirmou que “temos trabalho sobre a varíola dos macacos em África há várias décadas, mas ninguém se interessou”, acrescentando que só quando o vírus começou a circular no hemisfério Norte é que a comunidade internacional decidiu reagir.
Os cientistas argumentam também que o aumento do surgimento de doenças poderá dever-se, em grande parte, ao facto de estarmos mais bem preparados para detetá-las, fruto das lições aprendidas com a pandemia de Covid-19.
Por último, alguns especialistas defendem que ainda é preciso perceber melhor de que forma a Covid-19 tem afetado dos nossos sistemas imunitários, e compreender com é que esses impactos poderão estar a tornar-nos mais vulneráveis a doenças que se pensavam pertencer ao passado ou que antes não tinham uma expressão significativa.