Moldávia vota sim à adesão à União Europeia: triunfo pró-UE chega com margem estreita

A Moldávia votou a favor da adesão à União Europeia por uma margem estreita, em referendo que sofreu acusações de interferência russa.

A vitória apertada para as forças pró-UE é praticamente certa, com 99,2% dos votos contados até o final desta manhã: 50,3% dos eleitores moldavos apoiaram a mudança da constituição para incluir a filiação à UE, com 49,7% a opor-se à medida.

O triunfo do sim foi tremido, sendo que a campanha no não manteve a liderança até perto do fim: os moldavos residentes no país votaram contra a integração europeia, no entanto os votos das pessoas que vivem no exterior influenciaram o resultado.

Esta meia-noite, com mais de 90% dos votos contados e o “sim” com quase 10 pontos de diferença, a presidente pró-Ocidente Maia Sandu realizou uma conferência de imprensa de emergência na qual culpou a contagem antecipada por “forças estrangeiras” que usaram dinheiro e propaganda para influenciar o resultado.

No entanto, o apoio esmagador à adesão de centenas de milhares de moldavos que vivem em países europeus, mas também nos EUA e Canadá, fez diminuir a diferença.

Segundo Siegfried Mureșan, eurodeputado romeno que preside ao comité de ligação do Parlamento Europeu que trabalha na adesão da Moldávia à UE, salientou que a aprovação por pouco do referendo constitucional “representa uma vitória para o povo da República da Moldávia e uma derrota para a Rússia”. “Vou garantir que nós, como União Europeia, respeitaremos a vontade do povo moldavo expressa no referendo e forneceremos todo o apoio necessário ao processo de adesão à UE.”

A Moldávia candidatou-se à adesão à UE em março de 2022, tendo-lhe sido concedido o estatuto de país candidato em junho do mesmo ano. Em dezembro de 2023, os dirigentes da UE decidiram iniciar as negociações de adesão.

Nas eleições presidenciais de domingo, que ocorreram em simultâneo com o referendo, a atual presidente moldova, Maia Sandu, ficou em primeiro lugar (cerca de 42% dos votos) na primeira volta das eleições presidenciais, mas prepara-se para uma segunda volta difícil, em 03 de novembro, com o candidato pró-russo Alexander Stoianoglo (26% dos votos).

Rússia declarou hoje que os resultados das eleições presidenciais e do referendo sobre a adesão à União Europeia (UE), realizado domingo na Moldova, apresentam “anomalias” e levantam muitas questões.

“Foram observadas anomalias nos resultados da votação na Moldávia devido ao aumento de votos a favor da [Presidente moldava Maia] Sandu e da integração europeia”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, na sua conferência telefónica diária.

Peskov referiu-se à mudança nos resultados da votação à medida que a contagem estava a avançar, o que ampliou a vantagem de Sandu sobre o seu adversário mais próximo, o pró-russo Alexander Stoianoglo, e com uma viragem a favor do “sim” no referendo sobre a entrada da Moldova na UE.

“Os indicadores que vemos hoje, que estamos a acompanhar, e a dinâmica das suas mudanças, com certeza, levantam muitas questões”, sublinhou.

O porta-voz do Kremlin acrescentou que é “difícil explicar o ritmo do aumento mecânico dos votos a favor de Sandu e a favor dos participantes no referendo que defendem a orientação pró União Europeia”.

“Qualquer observador que tenha a mínima compreensão da essência dos processos políticos pode detetar estas anomalias com o aumento destes votos”, insistiu.

Peskov pediu também a Maia Sandu que apresentasse provas de interferência estrangeira nos processos eleitorais, que denunciou na noite de domingo.

Após o início do escrutínio, que dava inicialmente uma clara vitória aos adversários da entrada da Moldova na União Europeia, Sandu denunciou a fraude.

“Temos provas e informações de que um grupo criminoso pretendia comprar 300 mil votos. Esta é uma fraude sem precedentes cujo objetivo é comprometer a democracia. O seu objetivo é semear o medo e o pânico na sociedade”, afirmou a Presidente numa brevíssima aparição perante os meios de comunicação social.

Sandu sublinhou que “hoje, tal como nos últimos meses, a liberdade e a democracia na Moldova estão sob ataques sem precedentes”.

“Grupos criminosos, associados a forças estrangeiras, atacaram o nosso país com mentiras e propaganda (…). Não deixaremos de defender a liberdade e a democracia. Aguardaremos os resultados definitivos e voltaremos com soluções”, acrescentou.

O porta-voz do Kremlin indicou que se trata de uma “acusação bastante grave”, pelo que “deveriam ser apresentadas algumas provas ao público”.

Também a Comissão Europeia denunciou hoje uma “interferência e intimidação sem precedentes”, por parte da Rússia, no referendo.

“Estivemos a acompanhar de muito perto as votações [de domingo], o referendo e as eleições presidenciais na Moldova. A Moldova é um parceiro muito importante da UE e é de assinalar que esta votação teve lugar sob uma interferência e intimidação sem precedentes por parte da Rússia e dos seus representantes, com o objetivo de desestabilizar os processos democráticos na República da Moldova”, reagiu o porta-voz do executivo comunitário para os Negócios Estrangeiros, Peter Stano.

“Estamos agora a aguardar o anúncio final dos resultados oficiais de ambas as votações e o anúncio dos observadores eleitorais da Comissão Central de Eleições, o que deverá acontecer esta tarde, e, depois disso, apresentaremos a nossa reação oficial”, acrescentou, falando na conferência de imprensa da Comissão Europeia, em Bruxelas.

“Obviamente que, no que toca à adesão da Moldova [à UE], continuamos a apoiar plenamente as suas ambições, as suas aspirações e os seus esforços”, garantiu Peter Stano.

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