Moçambique entre os países onde se agravou perseguição aos cristãos

Moçambique é um dos países onde a perseguição aos cristãos se intensificou desde junho de 2022, registando-se um aumento dos relatos de ataques de jihadistas contra comunidades cristãs, aponta o relatório “Perseguidos e Esquecidos?”, da Fundação AIS.

O relatório, que hoje será apresentado em Lisboa, no auditório do MUDE (Museu do Design), pelo jurista e docente universitário Jorge Bacelar Gouveia, dá conta de que, neste país lusófono, 2024 “assistiu a um recrudescimento dos ataques do autoproclamado Estado Islâmico (…), na província de Cabo Delgado, no Nordeste do país”.

O Bispo de Pemba, António Juliasse, aponta, citado no relatório, “a pobreza endémica e a falta de educação” como “os motores da insurreição islamista, e não a religião”.

No entanto, outra fonte diocesana indica que “desde julho deste ano, parece que o Estado Islâmico assumiu o controlo” dos insurgentes e “a situação é mais sensível do que no ano passado, porque agora os cristãos começam a ser visados e a guerra está a assumir uma dimensão mais religiosa”.

O relatório “Perseguidos e Esquecidos?” analisa os desafios que os cristãos enfrentam em 18 países, onde sofrem problemas que vão desde o assédio à detenção, deslocação forçada ou assassinato e compreende o período entre agosto de 2022 e junho deste ano.

No documento é apontado um aumento da violência e/ou opressão sobre os cristãos na maioria dos 18 países escrutinados, embora se reconheça que, em muitos casos, esses problemas abrangeram apenas regiões específicas e não o total do país.

Assim, registou-se um agravamento na perseguição aos cristãos na Nicarágua, Burquina Fasso, Nigéria, Moçambique, Iraque, Irão, Paquistão, Índia, China, Sudão e Eritreia. Por sua vez, registou-se uma melhoria ligeira no Vietname e a manutenção da situação em Mianmar, Síria, Egito, Turquia, Arábia Saudita e Coreia do Norte.

Como uma das principais conclusões, o relatório da Fundação AIS reconhece que “o epicentro da violência militante islamista deslocou-se do Médio Oriente para África”, onde se registou uma “intensificação da perseguição dos cristãos como inimigos do Estado e/ou da comunidade local”.

Nessas zonas, “os intervenientes estatais e não estatais utilizaram cada vez mais como arma a legislação existente e nova legislação que criminaliza atos considerados desrespeitosos para com a religião do Estado como forma de oprimir os cristãos e outros grupos religiosos minoritários” e assistiu-se a um incremento da “ameaça às crianças cristãs, especialmente as raparigas”.

Entretanto, a Fundação AIS recorda que em 2024, quase 50% do mundo terá participado em eleições, desde logo os Estados Unidos da América, a França ou o Reino Unido, sublinhando que “durante anos, os governos têm sido criticados por, na melhor das hipóteses, se limitarem a falar da necessidade de tomar medidas contra a perseguição dos cristãos e de outras minorias religiosas”.

Neste contexto, também antecipa que “é pouco provável que os governos recentemente (re)eleitos tomem medidas para pôr termo à perseguição, porque têm outras prioridades em termos de assuntos internacionais”.

No entanto, avisa que “ignorar a situação dos cristãos é ignorar os sinais de alarme, pois onde quer que aqueles sejam perseguidos, o direito à liberdade religiosa para todos é posto em causa”.

“Onde quer que os cristãos sejam assediados ou presos, detidos ou discriminados, torturados ou assassinados, os governos cometem ou toleram abusos também contra outros”.

A Fundação AIS depende diretamente da Santa Sé e ajuda os Cristãos onde quer que eles se encontrem perseguidos, refugiados ou ameaçados.

Foi fundada em 1947, pelo P. Werenfried van Straaten, inspirado na mensagem de Fátima, sendo em Portugal dirigida atualmente por Catarina Martins de Bettencourt.

Ao final da tarde de hoje, após o lançamento do relatório, será iluminado de vermelho a estátua de D. José I, na Praça do Comércio, em Lisboa, e o monumento ao Cristo Rei, em Almada, lembrando as situações de perseguição religiosa, em particular dos cristãos, que se verificam em muitos países. Outros monumentos nacionais, um pouco por todo o país, vão ficar iluminados de vermelho durante esta semana.

O gesto é repetido em mais de 20 países, “para lembrar que a perseguição religiosa não é uma coisa do passado, mas sim uma realidade bem cruel dos dias de hoje”, frisa a Fundação AIS.

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