Missão secreta para “recuperar o tesouro mais valioso da história” já está em marcha

A missão de recuperar o tesouro do galeão ‘San José’, considerado o mais valioso da história, acaba de começar oficialmente num local secreto nas profundezas do Mar do Caribe.

O ‘San José’, que afundou há mais de 300 anos, foi descoberto em 2015 pelo Governo colombiano, que manteve confidencial a sua localização exata para evitar saques. Segundo o ex-presidente colombiano Juan Manuel Santos, “é o tesouro mais valioso que se encontrou na história da humanidade”, estimado em cerca de 18 mil milhões de euros em moedas de ouro e prata, esmeraldas, peças de vidro e porcelana.

É uma das maiores aventuras arqueológicas de todos os tempos, sendo que a fase inicial da missão começou com a utilização de sensores remotos e robôs subaquáticos que irão gerar um inventário sistemático detalhado de todos os materiais arqueológicos do fundo do mar.

Este processo, de acordo com o jornal espanhol ‘El Confidencial’, é crucial para concluir estudos académicos e planear futuras escavações. Segundo o Instituto Colombiano de Antropologia e História (ICANH), esta tecnologia avançada permitirá uma avaliação precisa do local sem perturbar o valioso património cultural.

O navio ‘ARC Caribe’ partiu de Cartagena a 22 de abril último e desligou o seu sistema de identificação automática (AIS) para evitar ser detetado ao final de quatro dias de viagem, uma manobra arriscada dado o intenso tráfego na rota marítima onde está localizado o galeão, mas necessário para evitar piratas e saqueadores.

O exército de robôs e sensores subaquáticos transportados pela ‘ARC Caribe’ é vital não só para catalogar o valor económico do tesouro de metais preciosos, mas também para preservar o valor arqueológico dos destroços: neles estão incluídos sensores remotos não intrusivos e veículos operados remotamente (ROV) equipados com tecnologias de posicionamento acústico. Esses robôs subaquáticos descerão às profundezas para realizar tarefas como tirar imagens de alta resolução do naufrágio e identificar objetos valiosos.

As imagens obtidas ajudarão a construir um inventário preciso das descobertas arqueológicas que o ‘San José’ guarda. Esta fase preliminar é essencial para garantir que qualquer intervenção posterior no local seja respeitosa e mínima, evitando danos ao património cultural do naufrágio.

A polémica história do ‘San José’

A propriedade do galeão tem sido objeto de intensas disputas internacionais. Embora o naufrágio tenha sido encontrado em águas colombianas, Espanha afirma que o galeão pertencia à sua frota e, portanto, pertence-lhe. A empresa americana ‘Sea Search Armada’ (SSA) também reivindica uma participação, argumentando que localizou a área do naufrágio há 42 anos, exigindo 50% dos lucros. Por sua vez, as comunidades indígenas bolivianas reclamaram os tesouros, afirmando que podem ter sido explorados pelos seus antepassados.

A história do ‘galeão San José’ começa em 1698, quando foi lançado como parte da Marinha espanhola e da sua frota para o comércio de mercadorias através do Atlântico. Com 64 canhões, três mastros e três conveses, o galeão participou na Guerra da Sucessão Espanhola de 1701, desencadeada pela morte sem filhos de Carlos II.

Em junho de 1708, enquanto estava ancorado em águas colombianas, o ‘San José’ foi atacado por uma esquadra britânica liderada pelo comandante Charles Wager. Segundo artigo publicado no ‘Mariner’s Mirror’, o galeão espanhol explodiu repentinamente durante o ataque, resultando na morte de 600 tripulantes e deixando apenas 11 sobreviventes.

A magnitude do tesouro e a complexidade jurídica e cultural que envolve a sua recuperação fazem dele uma das últimas grandes descobertas de todos os tempos, comparável apenas a achados como o do túmulo de Tutancamon. Desta vez, porém, as autoridades colombianas não querem apenas recuperar a riqueza enterrada no fundo do mar, mas também respeitar a integridade do naufrágio, como observou o ministro da Cultura da Colômbia, Juan David Correa: “A história é o tesouro.”

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