Misericórdias obrigadas a vender património e fechar salas de aulas para pagar salários aos funcionários e manter ajuda

As Misericórdias em Portugal estão obrigadas a vender património e a endividar-se para pagar salários e manter a ajuda a milhares de pessoas em todo o país, denunciou esta sexta-feira o jornal ‘Público’ – este verão, houve funcionários que apenas receberam metade do subsídio de férias (houve quem não recebesse nada) e há salas do pré-escolar que não voltam a abrir em setembro.

O caso da Santa Casa da Misericórdia de Constância é paradigmático: está sem verbas para pagar os subsídios de férias e há três anos que espera pelo apoio da Segurança Social. “Muitas pessoas pensam que as Misericórdias são ricas mas a verdade é que apenas são ricas em misericórdia para ajudar crianças, idosos ou os mais necessitados”, garantiu João França, provedor da Santa Casa da Misericórdia da Lousã, no distrito de Coimbra.

“Em 32 anos, já tive muitos altos e baixo mas consegui sempre ultrapassar. Agora é uma incerteza”, referiu, sublinhando que a instituição tem um prejuízo mensal de 20 mil euros e apenas conseguiu pagar metade do subsídio de férias dos funcionários. A culpa? “O descalabro financeiro, a pandemia e mais recentemente a inflação, que fez disparar os custos da energia, dos combustíveis e da alimentação”. O Estado não consegue dar o apoio necessário. “Fica muito aquém dos custos reais. Não chega a 30% do que gastamos com utentes ou crianças”, apontou João França, referindo que a comparticipação estatal para o pré-escolar não é revista desde 2008. “Não dá para aguentar. Vou acabar com isto e abrir uma creche”, revelou.

A União das Misericórdias Portuguesas garantiu que abordou “a problemática da sustentabilidade das Misericórdias no arranque das negociações com o Governo, reforçando a importância de ser feita uma atualização da comparticipação pública ajustada à realidade”. No entanto, são muitas as críticas sobre a atual direção da UMP, em particular sobre os gastos: mais concretamente, a compra pelo atual presidente da UMP, Manuel Lemos, de um Mercedes-Benz S400, de 116 mil euros, para se deslocar em serviço ou os 213 mil euros num rubrica do Relatório e Contas de 2022 denominada “subcontratos”.

A União das Misericórdias Portuguesas vai a votos em dezembro e a atual direção de Manuel Lemos enfrenta, pela primeira vez nos últimos 16 anos, uma lista opositora. Existem em Portugal 388 misericórdias, que apoiam diariamente mais de 165 mil pessoas em todo o país.