Ministra da Saúde admite “situação preocupante no Amadora-Sintra” e vai reunir com administração do hospital
A ministra da Saúde, Ana Paula Martins, anunciou esta terça-feira que irá deslocar-se ao Hospital Amadora-Sintra amanhã para se reunir com o conselho de administração e discutir os problemas críticos que afetam o serviço de cirurgia geral. Esta visita acontece numa altura em que o hospital enfrenta uma grave crise de recursos humanos, tendo perdido recentemente dez médicos e estando em risco de perder a capacidade de formar novos cirurgiões.
No âmbito das discussões sobre o Orçamento do Estado para a Saúde em 2025, a ministra foi questionada sobre a situação no Amadora-Sintra. “A situação que se está a viver no Hospital Amadora-Sintra é uma situação preocupante”, admitiu Ana Paula Martins. “Amanhã estarei numa reunião, no hospital, para ver o que podemos fazer para apoiar o conselho de administração”, declarou a ministra.
Crise de liderança e saída de médicos
O diretor do serviço de cirurgia geral, que já apresentou a sua demissão, deverá deixar o cargo no final do ano, enquanto outro cirurgião submeteu também o seu pedido de saída, o que poderá reduzir o número de especialistas a apenas seis. A origem deste problema remonta ao regresso de um ex-diretor do serviço e de um outro cirurgião, ambos críticos das práticas do hospital desde janeiro de 2023, quando denunciaram alegadas más práticas. No entanto, uma perícia conduzida pela Ordem dos Médicos concluiu que “não foram encontrados indícios de má prática generalizada ou violação das ‘leges artis’ nos casos denunciados”.
Durante a audição parlamentar, centrada principalmente na situação do INEM, a ministra foi também questionada sobre a estratégia de recursos humanos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e a política de contratações. O ministro das Finanças anunciou recentemente uma “regra de um para um” nas contratações para a função pública, o que também se aplica ao setor da saúde. Em resposta, Ana Paula Martins afirmou que as últimas projeções da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) indicam a possibilidade de realizar “330 novas contratações em 2025, podendo ir até 7 mil até 2026”.
De acordo com a ministra, “este ano, só no caso dos médicos, já foi feita a contratação de 886 médicos especialistas”, embora tenha reconhecido que o processo de contratação de médicos de família não foi tão ágil quanto o desejado. Em relação aos enfermeiros, sublinhou que existe capacidade para contratar mais profissionais, mas as Unidades Locais de Saúde enfrentam dificuldades em atrair candidatos para o inverno, que se prevê desafiante. “Acredito que, com a nova tabela salarial [mais 160 milhões de euros entre 2025 e 2027], a carreira possa tornar-se mais atrativa”, afirmou.
Novo Hospital do Seixal em espera
Questionada sobre o Hospital do Seixal, cujo concurso para construção ainda não foi lançado, a ministra da Saúde manifestou otimismo quanto ao lançamento do processo no próximo ano. Contudo, Ana Paula Martins destacou a necessidade de um planeamento conjunto com as autarquias e presidentes dos conselhos de administração da península de Setúbal. Segundo a ministra, “não há um plano funcional do hospital com uma carteira de serviços em rede com os restantes hospitais dessa área”. Comprometeu-se a dar início a este processo de coordenação em 2025.
O Governo tem como objetivo garantir médico de família a mais 200 mil pessoas até ao final deste ano. Ana Paula Martins explicou que esta meta resulta de um trabalho em parceria com associações e sindicatos médicos na revisão das listas de utentes e indicadores de desempenho. “Nas unidades de saúde familiar modelo B, não temos nenhum médico com dois mil utentes na lista. Temos listas com 1500 utentes ou 1900 unidades ponderadas”, explicou, destacando que muitos médicos de família ainda não têm listas completas e que, com a reorganização, será possível atingir o objetivo na região de Lisboa e Vale do Tejo.
Relativamente aos serviços de urgência hospitalar, a ministra sublinhou que o Governo não pretende encerrá-los, embora tenha deixado em aberto a possibilidade de uma concentração de serviços em áreas mais carenciadas. “Não queremos encerrar urgências. Estou a falar de Lisboa e Vale do Tejo, mas não posso excluir a possibilidade de, nomeadamente em zonas muito carenciadas, poder ter de concentrar urgências”, clarificou.
O Ministério da Saúde anunciou ainda um reforço na resposta aos tratamentos de procriação medicamente assistida, com a extensão dos horários de atendimento para facilitar a participação dos dadores nos centros. Uma nova portaria foi também apresentada para aumentar a comparticipação dos medicamentos para estes tratamentos, elevando-a de 69% para 90%. No caso da endometriose, a comparticipação dos medicamentos também aumentará para 69%. O impacto financeiro destas medidas foi estimado em 3,6 milhões de euros.