México faz história com primeira Presidente. Mas como está a lista do poder feminino no mundo?

No dia 1 de outubro de 2024, o México testemunhou um marco histórico com a tomada de posse da sua primeira presidente, Claudia Sheinbaum. Emocionada, Sheinbaum foi saudada por cerca de 400.000 pessoas na principal praça de Cidade do México, o Zócalo, com gritos entusiasmados de “Presidente, presidente!”. Este evento simboliza mais do que uma vitória pessoal; reflete uma longa luta das mulheres pelo reconhecimento e participação nos mais altos níveis de decisão política, tanto no México como em todo o mundo.

Embora as mulheres representem quase metade da população mundial, a sua presença em cargos de liderança política é ainda muito limitada. Segundo dados da ONU, existem atualmente 195 países reconhecidos, dos quais apenas 29 são liderados por uma mulher. Mais de 80 nações já tiveram, em algum momento, uma mulher à frente do governo ou como chefe de Estado, mas a igualdade de género ao mais alto nível de liderança ainda está longe de ser uma realidade. De acordo com as Nações Unidas, ao ritmo atual, a plena paridade de género na política global só será atingida dentro de 130 anos.

O longo caminho para o voto feminino

Até ao século XX, as mulheres estavam excluídas do direito ao voto e da participação na vida pública. A primeira vez que as mulheres puderam votar foi na Nova Zelândia, em 1893. Outros países seguiram esse exemplo, incluindo a Finlândia em 1906, a Noruega em 1913 e a Dinamarca em 1915. Em muitos países, o direito ao voto feminino foi conquistado de forma gradual e, em alguns casos, como nos Estados Unidos, inicialmente restrito a mulheres brancas. Só em 1967 é que as mulheres negras norte-americanas puderam exercer o direito ao voto sem restrições.

Este cenário não era exclusivo das democracias ocidentais. No continente africano, por exemplo, o direito ao voto feminino surgiu cedo em Zimbabué e no Quénia, em 1919, e na América Latina, o Uruguai foi o primeiro a permitir que as mulheres votassem em 1927.

No entanto, a conquista do voto não implicou automaticamente o acesso das mulheres a cargos de poder. Em alguns países, como o Vaticano, as mulheres ainda não podem participar na vida política, enquanto em outros, como a Arábia Saudita, só puderam votar pela primeira vez em 2015. Apesar das conquistas, a representação feminina nos parlamentos e governos permanece desigual, como alertou a União Interparlamentar (UIP) num relatório recente.

Um progresso lento e desigual

De acordo com uma análise provisória da UIP de meados de 2024, houve avanços limitados na representação feminina em parlamentos globais. Em 30 países que realizaram eleições parlamentares até agosto deste ano, a proporção de mulheres deputadas aumentou apenas 0,1%, atingindo um total de 27%. Este crescimento é muito inferior à média de 0,6% registada na última década, e a tendência tem desacelerado nos últimos anos, o que causa preocupação entre especialistas.

Os dados regionais também revelam disparidades significativas. Na América Latina e no Caribe, as mulheres ocupam 36% dos assentos parlamentares, enquanto na Europa e América do Norte esse número é de 33%. Em regiões como a África Subsariana, a percentagem desce para 27%, e na Ásia Oriental e Sudeste Asiático, é de 23%. As regiões com menor representação feminina nos parlamentos são a Ásia Central e Meridional (19%) e o Norte de África e Ásia Ocidental (18%).

Um mapa global do poder feminino

Entre os países que atualmente têm uma mulher como chefe de Estado ou de governo, destacam-se nomes como Halla Tómasdóttir, na Islândia, e Giorgia Meloni, primeira-ministra de Itália. Na América Latina, além de Sheinbaum no México, temos Dina Boluarte no Peru e Xiomara Castro nas Honduras.

Lista de países liderados por mulheres (Outubro de 2024):

País Nome Cargo Início Situação Atual
México Claudia Sheinbaum Presidente 1 de outubro de 2024 Em exercício
Sri Lanka Harini Amarasuriya Primeira Ministra 24 de setembro de 2024 Em exercício
Tailândia Paetongtarn Shinawatra Primeira Ministra 16 de agosto de 2024 Em exercício
Islândia Halla Tómasdóttir Presidente 1 de agosto de 2024 Em exercício
República Democrática do Congo Judith Suminwa Primeira Ministra 12 de junho de 2024 Em exercício
Macedónia do Norte Gordana Siljanovska-Davkova Presidente 12 de maio de 2024 Em exercício
Malta Myriam Spiteri Debono Presidente 4 de abril de 2024 Em exercício
Ilhas Marshall Hilda Heine Presidente 3 de janeiro de 2024 Em exercício
República Dominicana Sylvanie Burton Presidente 2 de outubro de 2023 Em exercício
Letónia Evika Siliņa Primeira Ministra 15 de setembro de 2023 Em exercício
Trindade e Tobago Christine Kangaloo Presidente 20 de março de 2023 Em exercício
Bósnia-Herzegovina Borjana Krišto Presidenta do Conselho de Ministros 25 de janeiro de 2023 Em exercício
Eslovénia Nataša Pirc Musar Presidente 23 de dezembro de 2022 Em exercício
Peru Dina Boluarte Presidente 7 de dezembro de 2022 Em exercício
Itália Giorgia Meloni Primeira Ministra 22 de outubro de 2022 Em exercício
Índia Droupadi Murmu Presidente 25 de julho de 2022 Em exercício
Honduras Xiomara Castro Presidente 27 de janeiro de 2022 Em exercício
Barbados Sandra Mason Presidente 30 de novembro de 2021 Em exercício
Samoa Fiamē Naomi Mataʻafa Primeira Ministra 24 de maio de 2021 Em exercício
Kosovo Vjosa Osmani Presidente 4 de abril de 2021 Em exercício
Tanzânia Samia Suluhu Hassan Presidente 19 de março de 2021 Em exercício
Moldávia Maia Sandu Presidente 24 de dezembro de 2020 Em exercício
Lituânia Ingrida Šimonytė Primeira Ministra 11 de dezembro de 2020 Em exercício
Togo Victoire Tomegah Dogbé Primeira Ministra 28 de setembro de 2020 Em exercício
Grécia Katerina Sakellaropoulou Presidente 13 de março de 2020 Em exercício
Dinamarca Mette Frederiksen Primeira Ministra 27 de junho de 2019 Em exercício
Geórgia Salome Zourabichvili Presidente 16 de dezembro de 2018 Em exercício
Etiópia Sahle-Work Zewde Presidente 25 de outubro de 2018 Em exercício
Barbados Mia Mottley Primeira Ministra 25 de maio de 2018 Em exercício

América Latina e o poder feminino

A eleição de Claudia Sheinbaum coloca o México no restrito grupo de países latino-americanos que já foram liderados por mulheres. Antes dela, sete líderes eleitas marcaram a história da região: Violeta Chamorro (Nicarágua), Mireya Moscoso (Panamá), Michelle Bachelet (Chile), Cristina Kirchner (Argentina), Laura Chinchilla (Costa Rica), Dilma Rousseff (Brasil) e Xiomara Castro (Honduras).

Além das presidentes eleitas, outras sete mulheres na América Latina ascenderam ao poder de forma interina, como Isabel Perón na Argentina e Rosalía Arteaga no Equador, que governou por apenas dois dias. Dina Boluarte, atual presidenta do Peru, assumiu o cargo após a destituição de Pedro Castillo, e Lidia Gueiler Tejada foi presidenta interina da Bolívia entre 1979 e 1980.

O número de mulheres no poder é ainda pequeno, mas crescente. No entanto, como sublinha Nuria Varela, ex-diretora do gabinete do primeiro Ministério da Igualdade em Espanha, o poder nunca foi concebido para incluir as mulheres. “As estruturas de poder não foram feitas para nós. Precisamos de mudar a estratégia, trabalhar em equipa e construir redes de apoio mútuo”, afirmou Varela em entrevista ao El País.

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