Mesmo com ajuda militar do Ocidente: Ucrânia corre grande risco de colapso das suas linhas de frente, garantem militares

Elon Musk deixou o aviso: embora Moscovo “não tenha chance” de conquistar toda a Ucrânia, “quanto mais tempo a guerra durar, mais território ganhará a Rússia até atingirem Dnipro, que é difícil superar”. “No entanto, se a guerra durar o suficiente, Odesa também cairá”, alertou.

As previsões do multimilionário, no entanto, não são muito diferentes das terríveis advertências feitas por Volodymyr Zelensky recentemente: de acordo com o presidente ucraniano, se o pacote de ajuda financeiro dos EUA não for aprovado em breve, as suas forças terão de “retroceder, recuar, passo a passo, em pequenos passos”, salientando que algumas grandes cidades podem correr o risco de cair.

Os avisos de Zelensky fazem parte de um amplo esforço diplomático para libertar a ajuda militar que Kiev carece por parte do Congresso dos Estados Unidos: mas, na verdade, mesmo que o pacote seja aprovado, pode não ser suficiente para evitar uma grande perturbação no campo de batalha, indicou esta quarta-feira o jornal ‘POLITICO’. Estes reveses podem muito bem reavivar a pressão ocidental para negociações que, nesta altura, favoreceriam a Rússia, deixando o Kremlin livre para reavivar o conflito num futuro à sua escolha.

Nesta altura, tudo depende de onde a Rússia decidirá lançar as suas forças na esperada ofensiva do verão – nas últimas semanas, os ataques russos com mísseis e drones aumentaram amplamente, tornando difícil adivinhar onde irá realizar o seu maior ataque. De acordo com oficiais militares ucranianos, salientou a publicação, o quadro militar é sombrio: há um grande risco de as linhas da frente entrarem em colapso onde quer que os generais russos decidam concentrar a sua ofensiva. Sobretudo devido às bombas aéreas guiadas que têm destruído posições ucranianas há semanas, a Rússia provavelmente será capaz “de penetrar na linha da frente e derrubá-la em algumas partes”, salientaram.

“Não há nada que possa ajudar a Ucrânia agora, porque não existem tecnologias capazes de compensar a Ucrânia pela grande massa de tropas que a Rússia provavelmente irá lançar contra nós. Não temos essas tecnologias e o Ocidente também não as tem em número suficiente”, indicou fonte militar, que garantiu que apenas a coragem e resiliência ucranianas, bem como os erros dos comandantes russos, podem agora alterar a dinâmica sombria.

No entanto, os altos oficiais ucranianos lembraram que confiar nos erros russos não é uma estratégia, garantindo que houve erros que prejudicaram a resistência da Ucrânia desde o início, tanto de Kiev como do Ocidente, a quem apontaram a lentidão do abastecimento e sistemas de armas chegaram tarde demais e em número insuficiente para fazer a diferença.

“Zaluzhny [comandante-chefe das Forças Armadas ucranianas substituído em fevereiro] costumava chamar isso de ‘Guerra de Uma Chance’”, salientou uma das fontes militares. “Com isso, ele quis dizer que os sistemas de armas se tornaram redundantes muito rapidamente porque são rapidamente combatidos pelos russos. Por exemplo, utilizámos mísseis de cruzeiro Storm Shadow e SCALP [fornecidos pela Grã-Bretanha e França] com sucesso – mas apenas por um curto período. Os russos estão sempre a estudar e não nos dão uma segunda chance. E eles têm sucesso nisso.”

“Não acreditem no ‘hype’ de que eles simplesmente jogam tropas no moedor de carne para serem abatidas”, acrescentou. “Eles também fazem isso, é claro – maximizando ainda mais o impacto de seus números superiores – mas também aprendem e refinam.”

“Mas muitas vezes simplesmente não recebemos os sistemas de armas no momento em que precisamos deles – eles chegam quando não são mais relevantes”, referiu um oficial superior, dando o exemplo dos caças F-16 – é expectável que cerca de uma dúzia de F-16 estejam operacionais neste verão. “Cada arma tem o seu tempo certo. Os F-16 foram necessários em 2023; eles não estarão certos em 2024”, garantiu.

E isso porque a Rússia está pronta para combatê-los: “Nos últimos meses, começámos a notar mísseis a serem disparados pelos russos a partir de Dzhankoy, no norte da Crimeia, mas sem as ogivas explosivas. Não conseguíamos entender o que eles estavam a fazer e então descobrimos: eles estão a entender distâncias”, explicou. O oficial lembro que a Rússia está a calcular onde é melhor implantar os seus sistemas de mísseis e radar S-400, a fim de maximizar a área que podem cobrir para atingir os F-16, mantendo-os longe das linhas de frente e dos centros logísticos da Rússia.

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