Mercenários russos usam migrantes como arma para desestabilizar Itália e condicionar eleições

A partir das costas da Líbia, os mercenários do Grupo Wagner, uma organização militar privada com profundos laços à Rússia, estarão a conduzir operações de desestabilização de Itália e, consequentemente, da Europa.

A Líbia está sob o controlo de milícias militares sob o comando do General Khalifa Haftar, cujo poder tem sido apoiado por, pelo menos, dois mil mercenários do Wagner, revela a imprensa italiana. De acordo com o ‘La Reppublica’, fontes dos serviços de segurança de Itália afirmam que “a Líbia é um canhão apontado à campanha eleitoral italiana: a imigração é, talvez, a arma mais poderosa para quem tem interesse em desestabilizar e, assim, interferir nas eleições gerais de setembro”.

Nos últimos dias, as secretas italianas têm observado o aumento do número de migrantes que chegam às costas de Itália desde a Líbia, principalmente dos portos de Derna e Tobruk, que estariam praticamente desativados, mas que têm vindo a acolher cada vez mais pessoas que pretendem chegar à Europa.

Segundo as informações avançadas, desses dois portos têm partido embarcações em muito mau estado de conservação, nas quais se amontoam entre 500 e 600 pessoas e que atravessam o Mar Mediterrâneo, em condições de segurança precárias e em que o risco de naufrágio é bastante alto. Os migrantes são de várias nacionalidades: egípcios, sírios e palestinianos.

Na semana passada, num dos barcos foram identificadas cinco pessoas que terão morrido de fome e de sede durante a travessia.

Entre 24 e 26 de junho, a guarda costeira italiana recolheu 72 barcos insufláveis cheios de migrantes da Líbia e da Tunísia que deram à costa da ilha de Lampedusa. Só este ano, já chegaram a Itália 38.778 migrantes ilegais, face aos 27.771 que se registaram em todo o ano de 2021.

Na semana passada, foi divulgado que o centro de acolhimento temporário de migrantes na ilha de Lampedusa estaria sobrelotado, estando 500% acima da sua capacidade, com centenas de migrantes a chegar a esse território italiano só nos últimos dias. O centro tem capacidade para acolher 350 pessoas, mas atualmente alberga cerca de 1.900.

Aponta o ‘La Reppublica’ que logo desde os primeiros dias da guerra que a Rússia lançou contra a Ucrânia, a 24 de fevereiro, que os serviços de segurança italianos alertaram que Moscovo poderia fazer uso da sua grande influência em países do Norte de África, através do Grupo Wagner, para instrumentalizar a migração ilegal como arma contra a Europa.

Desde que o Primeiro-ministro Mario Draghi formalizou a sua demissão do governo, no final de junho, depois de ter perdido o apoio dos seus parceiros de coligação, que os partidos italianos entraram em modo de campanha, num clima de grande conturbação política.

Com as eleições agendadas para o próximo dia 25 de setembro, a corrida está a ser marcada por debates sobre a segurança e a ordem pública, com os partidos de direita, que as sondagens preveem que deverão sair vencedores, a usar o tema da migração ilegal como uma das suas maiores bandeiras.

Giorgia Meloni, líder do partido “Irmãos de Itália”, já defendeu que devem ser estabelecidos “bloqueios navais” na costa da Líbia para impedir que barcos com migrantes possam chegar a Itália.

Por sua vez, Matteo Salvini, presidente do partido “Liga”, também de extrema-direita, acusa a atual ministra da Administração Interna, Luciana Lamorgese, de ser “totalmente incapaz” e de fracassar na gestão e defesa das fronteiras italianas. Contudo, e já com os olhos numa eventual posição no governo de direita que deverá formar-se após as eleições, Salvini garante que o próximo responsável com essa pasta tomará um rumo mais decisivo.

“Clandestinos e falsos refugiados, narcotraficantes e violadores: todos em casa a partir de 25 de setembro”, declarou o líder da “Liga”, citado pelo ‘ABC’.

O aumento da migração ilegal que alcança as costas italianas deverá galvanizar o eleitorado de direita e também outros segmentos da população que receiam que as vagas de ilegais possam colocar em causa a segurança pública. A alimentação desses receios poderá ditar o destino de Itália nas próximas eleições legislativas e, caso os partidos da extrema-direita venham a formar governo, reforçar os ataques à coesão da União Europeia, aos princípios da solidariedade e ao regime de acolhimento de refugiados.

Uma sondagem do ‘Politico’ mostra que o partido “Irmãos de Itália” e o Partido Democrático estão ombro-a-ombro nas intenções de votos, com 24% e 23% respetivamente. O “Liga” conta com 14% das intenções. Se se coligarem, é provável que os dois partidos da extrema-direita consigam conquistar a liderança de Itália no dia 25 de setembro.

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