Mercenários fora de controlo na Rússia: Putin tenta legalizar cerca de 30 grupos paramilitares russos

A crise aberta na Rússia pela insurreição do grupo Wagner colocou a descoberta uma complexa rede de dezenas de milhares de mercenários, autorizados pelo Kremlin: as empresas paramilitares russas implantadas em todo o mundo são cerca de 30 – a maioria das quais com mais de 500 soldados, algumas com dezenas de milhares – mobilizadas em diversos países.

Há cerca de 20 que lutam na Ucrânia, apesar de estar proibido pelo Código Penal da Rússia, mas também estão presentes no Médio oriente e em África. O que durante anos foi a fórmula encontrada pelo Kremlin para ampliar e fortalecer a influência política, económica e militar além-fronteiras ‘transformou-se’ numa guerra híbrida que expõe as fraquezas de Moscovo.

Para Igor Tishkevich, investigador do Instituto Ucraniano para o Futuro, em declarações ao jornal espanhol ‘El País’, o Kremlin vive no receio de perder o controlo dessas empresas paramilitares, permitidas e promovidas por Vladimir Putin.

A recente tentativa de regularizar este mercado mercenário, obrigando-os a assinar um contrato sob a égide do Ministério da Defesa russo, juntamente com as dúvidas sobre a eficácia do exército na campanha ucraniana, tem sido o rastilho da atual crise na Rússia. O objetivo de Moscovo é “mais cedo ou mais tarde” legalizar essas empresas “como a maneira mais fácil de obter o controlo da indústria e subjugar aqueles que não aceitam esse controlo”.

Há nomes bem menos conhecidos do que o grupo Wagner: há os cossacos, os veteranos das forças de segurança unidas, a legião imperial ou os lobos do czar, sendo que a maioria opera em simultâneo na Ucrânia e em outros territórios. Há também grupos militares ligados às grandes empresas russas, como o caso da petrolífera Lukoil – o grupo Lukom foi criado por agentes do KGB e têm por funções não apenas proteger a empresa mas também realizar trabalhos de espionagem em benefício do Estado. A Rosneft, a maior petrolífera russa, tem o seu próprio grupo paramilitar.

É uma realidade na ordem do dia na Rússia dominada por Putin desde o início do século XXI. Para além da Ucrânia e da Síria, os grupos paramilitares realizaram missões em cerca de 30 países em quatro continentes, entre os quais Venezuela, Líbia, República Democrática do Congo, Madagáscar, Sudão, Mali, Moçambique e Afeganistão.

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