Mercados: Vem aí um boom da inflação? As criptomoedas foram enterradas pela especulação? Eis as respostas
Nas últimas semanas, o preço do ouro spot – isto é, comprado em bolsa eletrónica ou fisicamente – subiu 0,2%, para os 1.520,52 euros a onça, o maior patamar atingido desde o dia 10 de fevereiro. Este preço ultrapassa ainda a média dos últimos 200 dias, o que leva acreditar que este metal consiga atingir os 1.550 euros a onça.
A prata seguiu-lhe os passos, subindo 70% num só ano e promete continuar este crescimento, sobretudo devido à procura tecnológica, e ao que tudo indica, promete continuar. Muitas commodities batem recordes, e nem a soja escapa. Por outro lado, toda a classe de criptoativos sofreu uma queda histórica, com a Bitcoin a cair 30% num só dia e 50% numa semana.
O mercado está a correr sem conseguir respirar, a procura está a aumentar. Vem aí um boom dos preços? E a frustração em torno das criptomoedas veio para ficar?
Para respondermos a estas questões, a Executive Digest foi ao encontro de Ricardo Evangelista, responsável pela mesa internacional da ActivTrades e Diretor Executivo Sénior (SEO) da ActivTrades Dubai.
Quais são as suas perspetivas relativamente à inflação? Para já a Europa não tem sentido a “asfixia” do aumento do índice de preços, mas ao que tudo indica o último trimestre pode mesmo exigir a intervenção do BCE. Há um fim à vista?
Temos neste momento duas perspetivas opostas. Por um lado, encontramos os que acham que as atuais políticas expansivas dos principais bancos centrais podem, se prolongadas no tempo, vir a gerar uma subida descontrolada da inflação. No campo oposto, encontramos os que acham que a subida dos preços no consumidor é apenas um fenómeno transitório que ocorre na sequência do alívio nos confinamento e subsequente explosão da atividade económica, e que o fim prematuro das atuais políticas monetárias e de compra de ativos seria prejudicial para a recuperação económica.
Tudo vai depender dos dados que forem saindo, neste momento a perspetiva dominante é de que o caminho atual de políticas dovish será para manter pelo menos até 2023/24.
É de esperar um boom no petróleo nos próximos tempos?
É de esperar que a procura aumente acompanhando a reabertura das economias. No entanto não é líquido que possamos falar de um boom, já que os hábitos de consumo não irão necessariamente regressar, tal como eram no pré-pandemia.
A bolha especulativa das commodities vai rebentar e afetar o setor da construção?
A meu ver, apesar de algumas matérias-primas estarem a ser negociadas a máximos de vários anos, não será ainda apropriado falar de uma bolha, já que a escalada dos preços se deve sobretudo ao aumento da procura devido a explosão nos níveis de atividade económica no pós-pandemia, em linha com o que se passa na economia em geral. Com a perspetiva de continuação da procura, devido aos programas de estímulo das principais economias que deverão manter as atuais condições durante vários anos, será talvez inapropriado falar em bolha. Penso que se trata de um ciclo de crescimento, que deverá durar vários anos.
A queda das criptomoedas é um sinal de correção para consolidação, ou um sinal de claro que não vale a pena o investimento neste ativo?
As criptomoedas continuam demasiado voláteis para serem utilizadas como meio de pagamento corrente. Por outro lado, o risco de intervenção por parte de reguladores, como aconteceu na semana passada com a China, pode provocar mais caídas.
Não iria tão longe a ponto de dizer que não vale a pena investir nesta classe de ativos, mas recomendaria muita cautela.
A fuga da Bitcoin para o ouro é inteligente?
Uma das razões apontadas para os ganhos da bitcoin durante os últimos meses tem sido a utilização do ativo como cobertura face ao risco de uma escalada da inflação.
A partir dessa ótica, poderá fazer sentido, agora que a volatilidade da criptomoeda torna o ativo menos apetecível para alguns investidores, considerar o ouro como alternativa, uma vez que o metal precioso também oferece proteção face a uma potencial subida dos preços ao consumidor.