Médio Oriente: Futuros confrontos Israel-Irão serão diretos, alertam analistas

A rivalidade entre Israel e Irão evoluiu de confrontos envolvendo terceiros para enfrentamentos diretos, como o ataque iraniano do passado fim-de-semana, enquadrando a forma da aguardada resposta israelita, afirmaram dois analistas de assuntos internacionais da BMI Politics.

“A decisão do Governo iraniano responder ao ataque israelita ao complexo diplomático [iraniano] na Síria (a 01 de abril), que é tecnicamente solo iraniano e protegido pela Convenção de Viena, com um ataque direto a Israel marca uma escalada e um afastamento da guerra paralela que tem estado em curso entre os dois Estados há mais de uma década”, sublinhou Ramona Moubarak, chefe de Risco País do Banco Global dos Estados do Médio Oriente e do Norte de África (MENA), num webinar sobre as tensões no Médio Oriente organizado pela BMI.

Para a analista, os mais de 300 ‘drones’, mísseis balísticos e de cruzeiro que foram lançados em direção a Israel, a maioria deles do Irão e com a participação de grupos apoiados por Teerão no Líbano, Iraque, Iémen e Síria, representa uma “clarificação” dos países e grupos que são membros do Eixo da Resistência.

“O Irão intensificou a retórica e tentou aproveitar a ameaça de um ataque direto para pressionar um cessar-fogo em Gaza. Isso teria permitido reivindicá-lo como uma vitória e evitar retaliações. Mas, quando isso falhou, e quando os países ocidentais se recusaram a condenar o próprio ataque israelita ao consulado iraniano, o Irão teve de cumprir a ameaça e planeou uma retaliação que cumpriu três objetivos: mostrar capacidades militares, posicionar-se como parceiro confiável e comprometer a doutrina de dissuasão de Israel”, sustentou.

Para Moubarak, o Irão “calibrou” o ataque para mostrar força, mas com danos físicos limitados, podendo dizer-se que ou foi de forma intencional ou apenas sorte.

Para a analista, a ativação do Eixo de Resistência desde 07 de outubro e agora a retaliação direta iraniana sobre Israel “mostrou a extensão das capacidades militares do Irão”, desenhando-se agora uma posição “bem mais clara” da capacidade de Teerão.

“Encorajou o Irão e os grupos que apoia na região, pelo que veremos um esforço maior por parte de Israel e seus aliados para enfraquecê-los. Estabeleceu um precedente e criou uma nova regra de envolvimento, o que significa que os futuros confrontos terão em conta ataques diretos israelitas ou iranianos uns aos outros”, argumentou.

O ataque iraniano, prosseguiu Moubarak, mostrou também que há “uma aliança de segurança” contra Teerão a emergir na região, que provavelmente irá evoluir e fortalecer-se ao longo dos próximos anos, especialmente porque a guerra entre Israel e o Hamas mostrou as capacidades e os riscos decorrentes do Irão e da sua rede na região.

Para a analista, o ataque iraniano põe em risco a doutrina de dissuasão de Israel, que moldou o equilíbrio de poder durante décadas, apesar de Telavive se mostrar “mais vigoroso e enérgico ao lidar com ameaças à segurança, usando alguma força desproporcional na maioria dos casos para a estabelecer”.

“Tudo está dentro do contexto mais amplo de várias zonas quentes na região MENA: a guerra de Israel em Gaza, as tensões na fronteira com o Líbano, a violência dos colonos na Cisjordânia, os protestos na Jordânia, os riscos maiores de segurança na Síria e no Iraque, a tensão política interna em Israel e a interrupção das rotas marítimas no Mar Vermelho”, resumiu Moubarak.

Por seu lado, Samer Talhouk, analista sénior na mesma instituição, observou o “risco elevado” das tensões internas dentro do próprio Irão, equiparando-as às que podem aumentar ainda mais no caso de o Irão enfrentar consequências económicas significativas pelo envolvimento numa altercação mais ampla com Israel.

“Olhando para o quadro mais amplo, estas tensões surgem num momento de elevado risco geopolítico em toda a região MENA, e isto torna as próximas semanas e meses ainda mais importantes para determinar como estes eventos evoluirão a partir daqui e moldar o futuro da região”, sustentou.

Para o analista, em relação à questão como irá Israel responder ao ataque do Irão, há várias opções: Israel nada fará, por enquanto, embora possa responder no futuro, ou ataques cirúrgicos a representantes iranianos dentro e fora do Irão.

 “Os riscos de uma escalada continuam elevados e dependem também do desenvolvimento da guerra em Gaza e das tensões com o Irão, e também da determinação de Israel ou da extensão da sua determinação em proteger a sua fronteira norte. Isto também surge num contexto de elevadas tensões internas no Líbano, especialmente após o assassínio de um membro anti-Hezbollah do partido cristão de extrema-direita das forças libanesas”, concluiu Talhouk.

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