Médicos a receitarem livros para cuidar da saúde mental? Livraria Lello lança petição para que medida chegue ao Parlamento

A Livraria Lello, no Porto, lançou uma campanha inovadora  e  arrojada que pretende transformar a leitura numa ferramenta terapêutica no âmbito da saúde mental em Portugal. A iniciativa inclui uma carta aberta e uma petição pública, ambas lançadas hoje, e que visa permitir que os médicos prescrevam livros como parte do tratamento de doenças mentais, psicológicas e sociais, propondo ainda que o custo dos livros prescritos possa ser deduzido nas despesas de saúde no IRS. Esta ação surge em linha com o Dia Internacional da Saúde Mental, celebrado a 10 de outubro, data escolhida estrategicamente pela livraria para o lançamento da petição.

Aurora Pedro Pinto, administradora da Livraria Lello, reforçou a importância desta proposta para o bem-estar da população, afirmando em entrevista ao Público que “os livros não curam, mas ajudam”. A petição, disponível para assinatura no site Petição Pública, intitula-se “Leia, pela sua saúde!” e pretende, com o apoio de um número significativo de subscritores, ser levada ao Parlamento para discussão. O objetivo é claro: incluir a leitura nas prescrições médicas como uma forma de promoção da saúde mental, combate ao isolamento e à exclusão social. A petição pode ser assinada aqui.

A prática de prescrever livros já é uma realidade em países como o Reino Unido, onde o NHS (Serviço Nacional de Saúde) integra a leitura em tratamentos para doenças mentais, demência e problemas relacionados com os jovens, como o bullying. Aurora Pedro Pinto acredita que Portugal pode seguir o mesmo caminho, argumentando que “a implementação de um sistema semelhante seria uma resposta poderosa às crescentes necessidades de apoio emocional e psicológico”. A administradora recorda que, durante a pandemia, o papel dos livros foi amplamente reconhecido, com a UNESCO e a Presidente da Comissão Europeia a sublinharem o seu valor como um bem de “primeiríssima necessidade”, capaz de nos conectar com outros mundos e proporcionar evasão num período de grande incerteza.

A Livraria Lello recebeu milhares de encomendas de livros nos primeiros meses da pandemia, um reflexo da procura de conforto emocional e alívio do isolamento por parte do público. “O livro tem um poder terapêutico”, defende Aurora Pedro Pinto, que considera que a leitura pode ser uma ferramenta eficaz no combate a condições como a ansiedade e a depressão. O lançamento da petição no mesmo dia da apresentação do Orçamento do Estado no Parlamento não é uma coincidência. A carta aberta da livraria justifica a escolha da data, afirmando que, além de a saúde mental ser uma prioridade, “o Orçamento do Estado tem o dever incontornável de cuidar da nossa saúde mental”.

Em Portugal, já existem algumas iniciativas que integram a leitura nos cuidados de saúde. Entre fevereiro de 2023 e janeiro de 2024, uma parceria entre o Plano Nacional de Leitura (PNL), a Direção-Geral da Saúde, a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar e outras entidades permitiu que centenas de crianças recebessem livros prescritos na sua primeira consulta em várias unidades de saúde do país. Para Aurora Pedro Pinto, este tipo de iniciativa confirma que “os livros são um alicerce insubstituível de saúde mental”. A administradora acredita que a prescrição de livros deve ser expandida para incluir todas as idades e patologias ligadas à saúde mental.

A petição da Livraria Lello propõe que a prescrição de livros seja tratada como uma despesa de saúde, dedutível em sede de IRS, comparando o livro a “um medicamento para a alma e para a mente”. A carta aberta apela aos deputados para que incluam esta medida nas negociações orçamentais, afirmando que “esta é uma oportunidade imperdível para os nossos representantes demonstrarem que se preocupam com a saúde mental dos seus concidadãos”.

Assim, a Livraria Lello convoca todos os que acreditam no poder dos livros para promover a saúde mental e o bem-estar social a assinarem a petição. A proposta sublinha que os livros podem ser uma ferramenta eficaz no combate ao bullying, à solidão, à ansiedade e à exclusão social, condições que afetam especialmente os jovens e os mais vulneráveis. “Queremos que os livros façam parte da receita para uma vida mais saudável”, conclui Aurora Pedro Pinto.

A petição já está disponível online e pode ser assinada no site Petição Pública. A Livraria Lello espera que a proposta alcance o número necessário de assinaturas para ser debatida na Assembleia da República, dando assim um passo importante na valorização da leitura como parte essencial do tratamento médico em Portugal.

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