“Matam por 10 cêntimos”: autoridades nacionais estão preocupadas com novos grupos de narcotraficantes a operar em Portugal, em particular a Máfia Síria

Portugal tem sido uma ‘casa aberta’ para a entrada de cocaína e haxixe por parte de narcotraficantes mas a chegada de novos grupos, que atuam com “violência extrema”, tem preocupado as autoridades. Entre os visados está a Máfia Síria, que terá sido responsável pelo assassinato de Tiago Danu, um jovem de 20 anos, em Setúbal, em novembro de 2022.

Markus Turker, de 27 anos, e Deniel Altynkya, de 39, aterraram em Lisboa em novembro de 2022 para controlar e assegurar as atividades ligadas ao tráfico internacional de drogas no porto de Setúbal e os dois sírios (com passaporte sueco) terão sido responsáveis pelo crimes. De acordo com a Polícia Judiciária, segundo revelou esta quinta-feira a revista ‘Visão’, não foi um ato isolado: a Máfia Síria ter-se-á associado às organizações criminosas marroquinas para potenciar o tráfico internacional de cocaína, haxixe e heroína através dos portos europeus, incluindo Portugal.

Estes grupos utilizam a Península Ibérica – as principais portas de entrada das drogas no continente europeu – para introduzir haxixe do Norte de África, muitas vezes com recurso a potentes lanchas, quase impossíveis de acompanhar mas, sobretudo, apanhar pelas autoridades nacionais. O reforço policial em Espanha desviou estes grupos para a costa algarvia e vicentina. Os números sustentam esta ‘preferência’: se em 2022 foram apreendidas 23 toneladas de haxixe, só no primeiro trimestre de 2023 foram 20 toneladas.

Mas estes grupos trazem também “uma violência extrema, marca da forma como costumam atuar”, explicou uma fonte da PJ à revista semanal. “Estes grupos de sírios e marroquinos são, neste momento, a grande preocupação da PJ. Estamos a falar de pessoas que matam por 10 cêntimos”, revelou. As forças policiais têm noção que a violência associada ao narcotráfico tem vindo a aumentar significativamente. Além da Máfia Síria, há outras organizações confirmadas em território nacional e com capacidade de pôr em risco a ordem pública.

Depois dos galegos, turcos e marroquinos, há agora grupos da América Latina a assumir o controlo do tráfico internacional de cocaína – o mais rentável, que se multiplica por 10 quando chega à Península Ibérica. Em Portugal, há elementos com ligações aos italianos da ‘Ndrangheta’, a máfia de Régio da Calábria, ou a grupos como os albaneses da Kompania Bello e os brasileiros do Primeiro Comando da Capital (PCC) e do Comando Vermelho (CV), também conhecidos pela violência com que exercem a sua atividade.

“À semelhança do que tem vindo a ocorrer noutros países europeus, também em Portugal se tem registado um aumento de atos de violência, entre pessoas, associados ao tráfico de estupefacientes, o que constitui uma fonte de preocupação e de exigência acrescidas para as autoridades”, apontou o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2022.

“Considerando a criminalidade violenta e grave inserida no contexto do tráfico de estupefacientes, a mesma pode ser potenciada por disputas entre grupos que se dedicam, em território nacional, às etapas de transporte, distribuição ou, de forma mais visível e localizada, à
venda a retalho”, pôde ler-se no relatório. “Os primeiros grupos e os respetivos episódios costumam ser mais violentos, já que têm como
atores grupos organizados com ligações a organizações criminosas transnacionais.”

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