Massachusetts Institute of Technology: O cenário emocional da liderança

De um lado, está uma equipa que procura orientação e inspiração; do outro, os superiores hierárquicos analisam cada decisão. Esta viagem não se limita a assumir responsabilidades acrescidas, como a gestão de equipas e a coordenação de projectos; trata-se também de entrar numa arena de emoções que inclui alegria, orgulho, ansiedade, medo e, ocasionalmente, dúvidas.

À medida que os novos líderes sobem na hierarquia organizacional, enfrentam tanto as alegrias do sucesso como o fardo do fracasso, e o significado das suas decisões é ampliado no seu papel mais visível. Na nossa pesquisa — que será publicada na revista “BMJ Leader” — cerca de 67% dos novos líderes afirmaram sentir um orgulho imenso quando a sua equipa alcançou um marco importante. Do mesmo modo, 72% referiram alegria quando os seus conselhos tiveram um impacto positivo no crescimento de um membro da equipa.

Por outro lado, as pressões também são evidentes. Cerca de 58% dos inquiridos confessaram sentir ansiedade quando confrontados com a tomada de decisões críticas, enquanto quase metade (49%) afirmou sentir-se apreensiva com a possibilidade de os passos em falso serem vistos de forma reprovável pelos superiores. Curiosamente, 53% dos líderes principiantes expressaram dúvidas ocasionais, realçando a importância da orientação e do apoio dos colegas para navegar neste intrincado terreno da liderança.

Subjacente a estes desafios está o domínio essencial, mas frequentemente negligenciado, da regulação emocional, que se destaca como um factor determinante da eficácia da liderança. Enquanto um colaborador individual pode destacar-se apenas com proezas técnicas e conhecimentos da área, a liderança exige um nível elevado de inteligência emocional — não apenas a capacidade de regulação emocional pessoal, mas também a capacidade de reconhecer e gerir as emoções dos outros. Esta competência emocional na liderança desempenha um papel fundamental na formação da dinâmica da equipa. Um líder com um elevado nível de inteligência emocional promove a motivação, o moral e o desempenho. Em contrapartida, aqueles que vacilam neste domínio arriscam-se a criar um ambiente contraproducente e potencialmente tóxico, dificultando a criatividade e impedindo o progresso organizacional.

É inegável que outras competências e aptidões são essenciais na liderança; no entanto, é a capacidade de lidar e compreender as emoções que distingue um líder próspero de um que se limita a sobreviver ou que chega a tropeçar. Reconhecendo esta subtileza significativa e as suas implicações para o desenvolvimento da liderança, a nossa equipa de pesquisa visou colmatar esta lacuna de conhecimento. Utilizámos uma metodologia em duas fases: um inquérito inicial abrangente, seguido de entrevistas qualitativas. O questionário online foi dirigido a mais de dois mil novos líderes, principalmente aqueles com dois a cinco anos de experiência em liderança. As respostas foram recolhidas ao longo de três meses para obter informações sobre as suas experiências com as emoções no trabalho. Depois, para obtermos uma noção mais profunda, seleccionámos 100 líderes recentes para participarem em entrevistas pormenorizadas.

REGULAR AS EMOÇÕES NO TRABALHO: GUIA PARA LÍDERES DE PRIMEIRA VIAGEM

A nossa pesquisa analisou de modo abrangente os desafios práticos que os líderes enfrentam e as estratégias que usam na área da regulação emocional. Identificámos tendências e percepções comuns que servem de base para as seis melhores práticas seguintes.

1 – Compreender o papel da autoconsciência.

A base para uma regulação emocional eficaz na liderança é a autoconsciência. Os líderes devem fazer regularmente uma introspecção, perguntando a si próprios: “Como me sinto neste momento?” e “Esta emoção serve ou prejudica a minha liderança?” Ao abordarem activamente estas perguntas, os líderes podem compreender e regular melhor as suas reacções emocionais. Na nossa pesquisa, os líderes que adoptaram esta abordagem introspectiva registaram uma melhoria de 45% no moral da equipa e um aumento de 38% na eficiência da tomada de decisões. Além disso, as organizações registaram um aumento de 32% na produtividade global quando os seus líderes praticaram uma autoconsciência consistente. A adopção desta abordagem não só reforça as capacidades de liderança, como também beneficia de forma tangível toda a equipa e a organização.

2 – Reforçar a visão por feedback diversificado.

A viagem de um líder não se faz sozinha; o feedback de pessoas de confiança pode fornecer pontos de referência inestimáveis. A criação de um círculo de mentores, pares e até mesmo subordinados receptivos permite aos líderes obterem conhecimentos para além das suas perspectivas imediatas. Esses pontos de vista externos podem iluminar pontos cegos emocionais, promovendo o crescimento e a adaptabilidade. A nossa pesquisa sublinha a importância desta abordagem de colaboração: os líderes que procuraram activamente e integraram o feedback registaram um aumento de 60% na sua resiliência e uma melhoria de 45% nas relações interpessoais no seio das suas equipas. No panorama dinâmico da liderança, este diálogo constante revela-se uma pedra angular para o sucesso sustentado.

3 – Estabelecer limites para uma liderança sustentável.

Assumir um papel de liderança implica responsabilidades acrescidas. No entanto, estar perpetuamente à disposição pode levar ao burnout e à diminuição da eficácia. Estabelecer limites claros, tanto para si próprios como para as suas equipas, garante que os líderes tenham momentos dedicados para descomprimir, ref lectir e regressar com vigor renovado. Os nossos resultados sublinham as vantagens pragmáticas desta abordagem: os líderes que estabeleceram e comunicaram limites claros registaram um aumento de 59% na sua própria produtividade e um aumento de 51% nos níveis de satisfação da equipa. Além disso, estes líderes notaram uma diminuição de 42% nos seus próprios problemas relacionados com o stress. Estabelecer limites não tem tanto a ver com criar distância como com cultivar um ambiente no qual os líderes e as equipas possam funcionar da melhor forma.

4 – Abraçar a autenticidade — a força da vulnerabilidade.

O manto da liderança vem muitas vezes acompanhado de expectativas erróneas de estoicismo ou de uma fachada emocional, mas a verdadeira força da liderança pode ser encontrada na autenticidade e na vulnerabilidade. Ao reconhecerem os seus sentimentos pessoais e ao partilharem-nos ponderadamente, os líderes podem colmatar lacunas, promover ligações mais profundas e gerar confiança nas suas equipas. A nossa pesquisa revelou que os líderes que abraçaram a vulnerabilidade testemunharam um aumento de 66% nos níveis de confiança da equipa e um aumento de 49% na coesão da equipa. Além disso, estes líderes autênticos registaram uma melhoria de 38% na sua própria satisfação profissional. No domínio da liderança, a vulnerabilidade não é uma responsabilidade; é um activo que alimenta a confiança e as relações autênticas.

5 – Ter estratégias extracurriculares para lidar com a situação — a chave para o equilíbrio.

À medida que a liderança se intensifica, a necessidade de equilíbrio torna-se primordial. Desenvolver mecanismos de sobrevivência fora da esfera profissional não é um luxo, mas uma necessidade. Quer seja através da actividade física, da escrita num diário, de actividades criativas ou de momentos com os entes queridos, estas actividades proporcionam um equilíbrio emocional essencial. Segundo a nossa pesquisa, os líderes que se envolveram activamente nessas estratégias extracurriculares de sobrevivência registaram uma redução de 56% nos níveis de stress relacionados com o trabalho e um aumento de 47% no bem-estar geral. Além disso, estes líderes registaram uma melhoria de 43% nas suas capacidades de resolução de problemas no local de trabalho. Cultivar mecanismos eficazes de sobrevivência é vital para o crescimento holístico de um líder e para a sua resistência no cargo.

6 – Praticar a respiração e o mindfulness — âncoras no caos.

No mundo acelerado da tomada de decisões, a solução, por vezes, reside na simplicidade: tirar um momento para respirar. Uma única respiração profunda pode proporcionar clareza imediata no meio do caos. A incorporação de práticas de mindfulness e de meditação breve na rotina diária estabelece uma base de calma. Ao ancorarem-se no presente, os líderes podem enfrentar cenários complexos sem serem consumidos por emoções avassaladoras. A nossa pesquisa revela benefícios tangíveis: os líderes que integraram práticas regulares de mindfulness nas suas vidas registaram um aumento de 50% na sua resiliência emocional e um aumento de 40% na clareza durante situações de alta pressão. Esta concentração no aqui e agora é a pedra angular do sucesso da liderança moderna.

O ESFORÇO DE EQUILÍBRIO CONTÍNUO

Apelamos a todos os líderes emergentes para investirem na formação em inteligência emocional e envolverem-se regularmente na auto-reflexão, de modo a dominarem as suas emoções e, assim, liderarem com clareza e convicção. Considere tomar estas medidas, a partir de hoje:

Reflicta regularmente. Comprometa-se a dedicar cinco a 10 minutos diários de reflexão introspectiva, dissecando activamente como as suas emoções conduzem as suas decisões. Registe as suas ideias num diário e esforce-se por estabelecer ligações entre sentimentos e acções. À medida que os dias se transformam em semanas, irá detectar padrões recorrentes que moldam as suas escolhas. Aproveite esta autoconsciência recém-descoberta e canalize-a proactivamente para tomar decisões melhores e mais informadas na sua vida quotidiana.

Ouça activamente vozes variadas. Comece cada mês com a intenção de diversificar os seus canais de feedback: seleccione um colega, um membro da equipa e um mentor para obter as suas opiniões. Aborde estas conversas de coração aberto, refreando deliberadamente o instinto de justificar ou contrariar as perspectivas da outra pessoa. Ao absorver as suas palavras e compreender os seus pontos de vista, concede a si próprio um espelho rico e multifacetado da forma como é visto. Utilize este feedback valioso como uma bússola direccional que o pode orientar para o desenvolvimento pessoal e profissional. E partilhe as suas próprias experiências com a sua equipa: discutir uma lição pessoal que aprendeu ou como lidou com um desafio pode promover um ambiente onde os outros se sintam seguros para partilhar e aprender.

Defina os limites do trabalho digital. Dê prioridade ao seu bem-estar estabelecendo “horas de expediente” inequívocas em ambientes digitais, como, por exemplo, não responder a mensagens ou emails relacionados com o trabalho depois das 19 horas: dar o exemplo da importância do equilíbrio entre a vida profissional e pessoal pode inspirar os membros da equipa a estabelecerem os seus próprios limites digitais e a protegerem o seu tempo pessoal. Esta abordagem proactiva não só defende o bem-estar individual, como também reforça o respeito colectivo pelos limites no local de trabalho.

Descubra o seu mecanismo de reinicialização pessoal. Reserve, no mínimo, uma hora por semana para se dedicar a um passatempo ou paixão não relacionados com o trabalho, seja pintar, correr ou ler um romance emocionante. Reconheça este tempo como a sua hora sagrada de “reinicialização” — um santuário para a sua mente e alma. Abrir-se sobre as suas experiências e os benefícios refrescantes que colhe pode motivar os membros da sua equipa a também encontrarem e abraçarem as suas próprias paixões de “reinicialização”. Esta dedicação proactiva não só enriquece o bem-estar individual, como também promove uma cultura de equilíbrio holístico na equipa.

Comece com um trabalho de respiração calmante. Dê início ao seu dia ou reuniões importantes dedicando os primeiros dois minutos a exercícios deliberados de respiração profunda. Assuma a liderança e dê o exemplo, guiando a sua equipa através do ritmo e dos benefícios desta prática calmante. Ao promover activamente este ritual, não só rejuvenesce as mentes individuais, como também cultiva um sentido colectivo de serenidade. Aproveite esta base tranquila para orientar discussões, decisões ou tarefas com maior concentração e uma abordagem unificada.

Embora a regulação emocional possa parecer um componente pequeno no grande esquema da liderança, é fundamental para determinar a eficácia de um líder. As emoções, se não forem controladas, podem toldar o julgamento, criar conflitos ou levar a decisões impulsivas. Por outro lado, quando bem controladas, podem inspirar, motivar e conduzir uma equipa à grandeza. No actual ambiente de trabalho acelerado, em que as linhas entre o pessoal e o profissional muitas vezes se confundem, é mais crucial do que nunca que os líderes, principalmente os que assumem o papel pela primeira vez, dominem a arte de regular as emoções no trabalho.

 

Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 215 de Fevereiro de 2024

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