Marcelo quer evitar candidatura presidencial de Gouveia e Melo: PR receia ser sucedido por alguém que vê como populista autoritário
Marcelo Rebelo de Sousa vai fazer tudo ao seu alcance para travar uma possível candidatura à Presidência da República do almirante Gouveia e Melo, avançou esta sexta-feira o jornal ‘Expresso’: o Presidente acredita que tem potencial não só para ser bem-sucedida, mas também vai dar representação ao mais alto nível no Estado a formas de populismo autoritário contra as quais Marcelo tem produzido sucessivos alertas.
O Presidente associa Gouveia e Melo a alguma forma de populismo, embora o almirante já tenha saído em defesa da democracia. “Vivemos um momento crítico das democracias, devemos estabilizar o que são os pilares da democracia e esses pilares devem estar estáveis”, já salientou, em entrevista, alertando para “muitos oportunistas que gostariam de desestabilizar esses pilares com falsas promessas, falsas soluções, soluções rápidas que podem ser contagiosas em determinados cenários”.
No entanto, na visão de Marcelo, a candidatura de Gouveia e Melo, que o Chega poderá vir a apoiar, iria dividir o eleitorado à direita do PS, o que poderá comprometer as hipóteses de Luís Marques Mendes, o seu candidato preferido. Para tal, está disposto a utilizar os poderes conferidos pela Constituição, embora não o possa fazer sozinho – necessita da colaboração do primeiro-ministro Luís Montenegro.
Se o almirante Gouveia e Melo for reconduzido como Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), no final de dezembro, para um segundo mandato até final de 2026, ficaria inviabilizada uma candidatura presidencial do almirante no ato eleitoral que vai definir o sucessor de Marcelo Rebelo de Sousa, em janeiro de 2026.
Marcelo, por lei, pode nomear os chefes dos ramos militares: mas a Lei Orgânica de Bases da Organização das Forças Armadas determina que essa nomeação só pode ocorrer depois de proposta pelo Governo (um processo muito idêntico ao das escolhas do responsável da Procuradoria-Geral da República e do presidente do Tribunal de Contas). Ou seja, para reconduzir Gouveia e Melo é necessário que Marcelo e Montenegro estejam alinhados. No entanto, nada impede o almirante de recusar ser reconduzido, para se poder afastar das Forças Armadas e trocar o camuflado militar pela carreira política.
Dito de outra forma: para reconduzir o almirante — e assim retirá-lo do jogo presidencial — é necessário que Marcelo e Luís Montenegro estejam alinhados na vontade de o fazer. Mas, de qualquer forma, nada impede o chefe da Armada de recusar ser reconduzido, para depois se poder afastar das Forças Armadas, trocando de vez o camuflado militar pelo fato e gravata dos políticos à caça de votos.