Mais de metade dos trabalhadores diz ter sofrido de algum problema de saúde relacionado com o trabalho nos últimos 2 anos

Baixos salários, longas jornadas de trabalho, vínculos precários, estagnação profissional, chefias autoritárias, entre outros motivos, explicam há vários anos o baixo grau de satisfação com o trabalho em Portugal. Dados reunidos pela Eurostat em 2021 sobre a satisfação laboral já revelavam que, em Portugal, menos de um quarto dos trabalhadores estavam felizes com a sua profissão (21,6%), um valor que colocava o país em último lugar dos 27 países da EU, com grande distância ao seu valor médio (43,8%).

De acordo com o estudo “A Saúde dos Portugueses, 2024: Um BI em nome Próprio”, só 22% dos trabalhadores reconhece muita satisfação com a vida profissional, alinhando com aqueles resultados. Em qualquer dos estudos, a falta de entusiasmo é mais evidente entre profissionais qualificados, com pelo menos o ensino superior.

Se o desalento com o trabalho se sente há vários anos, o mesmo não pode dizer-se do seu nexo de causalidade com a saúde. No presente estudo, quase 1 em cada 3 trabalhadores considera que o tipo ou o ritmo de trabalho é ‘bastante’ ou ‘muito’ prejudicial à sua saúde, sendo esse dano duplamente mais sentido ao nível da saúde mental do que da saúde física (vide página seguinte).

Do mesmo modo, mais de metade (54%) dos trabalhadores indica pelo menos um problema de saúde relacionado com o trabalho nos últimos dois anos, sendo a ansiedade ou stress o mais comum (37%); neste problema, em particular, há uma significativa distância entre géneros – 44% das mulheres vs. 27% dos homens reconhecem-no – e entre idades, com os trabalhadores mais jovens a reportar maior incidência.

Não podem atribuir-se à pandemia todas as mudanças na forma como se vive e perceciona a vida. Mas é indubitável que, seja pela forma como desencadeou o interesse (e o reconhecimento de problemas) em saúde mental, seja pelas implicações que teve nos modelos de trabalho, a experiência de confinamento trouxe uma nova perspetiva sobre o lugar do trabalho na vida e sobre a sua ligação ao bem-estar. Para muitos dos que pela primeira vez experimentaram trabalhar a partir de casa – na primeira ronda do inquérito do Eurofound, feita em abril e maio de 2020, 40% dos trabalhadores em Portugal afirmava ter iniciado o trabalho em casa em consequência da Covid-19 -, o trabalho remoto ou híbrido, seja pelo que poupou de esforço ou pelas rotinas que proporcionou, provou ser uma fórmula de bem-estar.




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