Mais de 45% das famílias portuguesas estão endividadas
Em 2017, 45,7% de famílias portuguesas tinham dívida. “A percentagem de famílias com dívida atingia um valor máximo de 50,3% na classe de riqueza intermédia e um valor mínimo de 37,0% na classe de riqueza mais baixa.”, segundo o ‘Inquérito à Situação Financeira das Famílias’ divulgado hoje pelo INE.
Os mesmos dados mostram que, no mesmo ano, 31,8% de famílias tinham empréstimos garantidos pela residência principal, sendo este o tipo de dívida mais comum em todas as classes de riqueza líquida, exceto na mais baixa. “Nesta classe, o tipo de dívida mais frequente é o dos empréstimos não garantidos por imóveis”, sublinha o INE, acrescentando que a dívida associada a cartões de crédito, linhas de crédito e descobertos bancários “era detida por 8,6% das famílias, sendo igualmente mais frequente nas famílias que pertencem às classes de riqueza líquida mais baixas.”
No período em análise, segundo os números do INE, o valor mediano da dívida para o conjunto de famílias endividadas era 35 mil euros, sendo cerca de 50 mil euros tanto nas hipotecas sobre a residência principal, como nas hipotecas sobre os outros imóveis. Por outro lado, o valor mediano das dívidas não garantidas era bastante mais reduzido (4,4 mil euros nos empréstimos e 500 euros nas dívidas associadas a cartões de crédito, linhas de crédito e descobertos bancários).
“A participação relativamente elevada das famílias em empréstimos garantidos pela residência principal, assim como o valor elevado deste tipo de dívida, determinam que estes empréstimos representem mais de 80% do total da dívida das famílias”, pode ler-se no relatório do INE.
Maioria das famílias portuguesas é solvente
Para avaliar a importância da dívida para a situação financeira das famílias o INE analisou também a sua relação com o rendimento e com o valor dos ativos.
Os dados do INE mostram que, em 2017, o valor mediano do rácio entre o serviço da dívida e o rendimento era de 14,4%, menos 2,4 p.p. que em 2013 (16,8%). No mesmo sentido, o rácio entre a dívida e o rendimento também se reduziu, registando em 2017 um valor de 132,6%, bastante inferior ao observado em 2013 (198,5%).
Nas famílias da classe de rendimento mais baixa, o valor mediano do rácio entre o serviço da dívida e o rendimento apresentava um máximo de 43,6%. “Esta situação sugere que estas famílias terão maior dificuldade do que as restantes em pagar as prestações da dívida apenas com base no seu rendimento”, aponta o Inquérito à Situação Financeira das Famílias.
Já nas famílias em que o indivíduo de referência tem menos de 45 anos, nas famílias da classe de rendimento mais baixa e nas famílias pertencentes à segunda classe de riqueza, o rácio entre a dívida e o rendimento atingia valores medianos superiores a 200%. “Os valores elevados deste rácio estão, em grande parte, associados a situações em que existem empréstimos para compra de imóveis contratados há pouco tempo e, portanto, com valores em dívida elevados”, salienta o INE.
Por fim, em todos os grupos analisados, a maioria das famílias era solvente, uma vez que o rácio mediano da dívida em relação aos ativos era inferior a 100%. O valor mediano deste rácio apresentava níveis máximos nas famílias da classe de riqueza líquida mais baixa e em que o indivíduo de referência é mais jovem.
6,9% de famílias tinham restrições de acesso ao crédito
O acesso ao crédito é também um aspeto relevante na análise da situação financeira das famílias. O ‘Inquérito à Situação Financeira das Famílias’ inclui um conjunto de perguntas qualitativas relativas à procura de crédito e às restrições no acesso ao crédito, nos três anos anteriores à realização da entrevista.
“Em 2017 cerca de 20% de famílias efetuaram um pedido de crédito. De entre o total de famílias que efetuaram pedidos de crédito, 8,2% tiveram os pedidos recusados”, indica o estudo. Adicionalmente, 5,6% de famílias desejavam ter pedido um empréstimo mas não o fizeram por anteciparem que este seria rejeitado.
Considera-se que uma família está sujeita a restrições no acesso ao crédito quando, pelo menos, uma destas situações ocorre. Nos três anos anteriores à data da entrevista, 6,9% de famílias estavam nesta situação.