Mais de 36 mil cidadãos ‘perderam’ médico de família nos últimos dois meses: abril bate recorde negativo de 2016

Há mais 36 mil cidadãos sem médico de família, segundo dados do Portal da Transparência do Serviço Nacional de Saúde (SNS), num total de 1.565.880 pessoas, avança esta quarta-feira o jornal ‘Público’: esta subida contraria a tendência dos últimos meses, que resultou da limpeza de ficheiros dos centros de saúde iniciada em 2023 pelo anterior Governo.

Este processo de limpeza foi responsável pela saída de quase 300 mil pessoas inscritas nos centros de saúde face a julho de 2023, quando foram batidos recordes em Portugal continental, com mais de 10,6 milhões – já em abril, estavam inscritas 10,354 milhões.

“Isto está a acontecer, provavelmente, por duas razões: por um lado, porque alguns utentes que tinham ficado registados como inativos, por não terem todos os dados atualizados, completaram entretanto os dados e passaram de novo a ativos e, por outro lado, por causa da imigração. Todos os dias há entradas e saídas”, frisa António Luz Pereira, vice-presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF).

Nuno Jacinto, presidente da instituição, salienta que “muitos dos utentes que foram inativados não desapareceram e, quando vieram às unidades completar os dados, voltaram a ser inscritos”. “Agora, é natural que não se atinja o número de inscritos anterior porque havia inscrições duplicadas, óbitos não retirados e cidadãos que foram para o estrangeiro. Mas o número vai voltar a subir porque os utentes não desapareceram. Não perdemos de um momento para o outro entre 200 e 300 mil utentes em Portugal”, refere.

De acordo com dados do Portal da Transparência do SNS, apesar desta diminuição, o número de pessoas com clínico assistente nos centros de saúde não aumentou: em abril último, foi mesmo o número mais reduzido desde 2016.

“Essa é a prova de que não pusemos mais médicos de família no sistema. O número de médicos vai diminuindo porque há colegas que se vão reformando, que vão saindo, e nas duas grandes épocas de recrutamento anuais, muitos recém-especialistas optam por não ficar no SNS”, avança Nuno Jacinto, apontando serem necessários cerca de mil especialistas para dar médico de família a todos os residentes.