Mais carros danificados e com mais quilómetros adulterados: mercado de usados em Portugal perde transparência, denuncia estudo

Ainda que o mercado de veículos usados tenha estabilizado e regressado a níveis pré-pandémicos na maioria dos países, a transparência continua a ser um problema expressivo. Todos os anos, milhares de pessoas compram inadvertidamente veículos com anomalias disfarçadas e quilometragem falsificada, muitas vezes sem saberem que estão a pagar a mais por um veículo que se encontra em mau estado.

A ‘carVertical’, empresa de dados automóveis, publicou o seu estudo anual sobre a transparência do mercado, que avalia o risco de compra de um veículo usado nos diferentes países. Este ano, Portugal desceu duas posições na classificação, passando do 9º lugar do ano passado para o 11º este ano, num estudo que avalia 25 países. A vizinha Espanha ficou em 13º lugar, ao passo que a Itália e a França ficaram em 2º e 6º lugares, respetivamente.

Este ano, registaram-se mais casos de falsificação da quilometragem em Portugal

A investigação realizada pela ‘carVertical’ entre outubro de 2023 e setembro de 2024 revelou que, em Portugal, 2,2% dos automóveis têm quilometragem falsificada, com um desvio médio de 70.694 km. Este valor pode facilmente duplicar a quilometragem de um carro que tenha poucos anos. Embora as taxas de falsificação no ano passado tenham sido semelhantes, o número médio de quilómetros falsificados foi inferior – 60.769 km, o que pode justificar a descida da classificação de Portugal registada este ano.

Como o preço de um veículo depende diretamente da sua quilometragem, os clientes acabam por pagar muito mais por veículos que tenham conta-quilómetros adulterados. Embora a probabilidade de se comprar um carro com quilometragem adulterada em Portugal seja menor do que noutros países, convém manter a cautela.

As estatísticas relativas aos veículos danificados são preocupantes: mais de um terço (35,9%) de todos os veículos verificados na plataforma da ‘carVertical’ em Portugal já tinham sofrido acidentes, com um valor médio de danos de 4.281 euros. No ano passado, 38,3% dos veículos verificados tinham sido danificados, com um valor médio de danos de 4.994 euros.

Em Portugal, a compra de veículos importados é um risco elevado para os automobilistas, já que 65,3% de todos os carros usados são importados de outros países. Segundo Matas Buzelis, especialista automóvel e Diretor de Comunicações da ‘carVertical’, os automóveis que circulam em transações transfronteiriças têm até quatro vezes mais probabilidades de ter o conta-quilómetros falsificado. A elevada taxa de importação registada em Portugal realça a necessidade de se proceder a verificações cuidadosas do historial dos veículos de forma a evitar defeitos ocultos ou registos falsificados.

A idade média dos veículos adquiridos em Portugal é de 8,5 anos, o que reflete uma frota de veículos relativamente jovem em comparação com outros países europeus.

Mercado britânico mantém posição de liderança

Tal como em anos anteriores, o Reino Unido revelou-se o mercado de veículos usados mais transparente de todos os países participantes. Apenas 2,1% dos automóveis tinham quilometragem falsificada e 17,8% dos veículos tinham sido danificados. Ao contrário da Europa continental, o Reino Unido utiliza predominantemente automóveis com volante à direita, que circulam no país durante toda a sua vida útil, sendo que apenas 2% dos veículos examinados eram importados. Os cinco países mais transparentes incluem também a Itália, a Suíça, a Alemanha, e a Suécia.

“Quem compra um automóvel na Europa Ocidental e na Escandinávia tem menos probabilidades de se deparar com fraudes de quilometragem ou defeitos dissimulados. Leis mais rigorosas garantem que os compradores podem confiar no historial e na qualidade do veículo”, afirmou Buzelis.

Entre os países do Leste Europeu, apenas a Eslovénia conseguiu entrar no “top 10”, ocupando a 10ª posição.

Transparência na Europa de Leste mantém-se inalterada

Os países menos transparentes do estudo foram a Ucrânia, a Letónia, a Lituânia, a Roménia, e a Estónia. No ano passado, estes mercados também tinham registado as classificações mais baixas. A elevada proporção de veículos com quilometragem e danos falsificados, o envelhecimento da frota automóvel e as taxas de importação elevadas contribuem para que estes mercados sejam considerados muito pouco transparentes e altamente arriscados.

“A situação no mercado de veículos usados da Europa de Leste mantém-se inalterada. Como só alguns burlões são punidos por falsificarem a quilometragem ou por omitirem defeitos nos veículos, é provável que esta prática danosa persista por muito tempo. Além disso, a percentagem de veículos a gasóleo que circulam da Europa Ocidental para Leste é significativa, o que indica que a disponibilidade de veículos a gasóleo pode ficar comprometida a longo prazo”, explicou Buzelis.

O maior número de casos de fraude de quilometragem entre os países europeus foi registado na Letónia (11,1%) e na Ucrânia (9,6%). A maior proporção de veículos danificados foi encontrada na Polónia (62,1%) e na Eslováquia (60,5%).

Como foi calculado o Índice de Transparência do Mercado?

O estudo da ‘carVertical’ analisou relatórios históricos de veículos, que foram adquiridos pelos utilizadores da empresa entre outubro de 2023 e setembro de 2024. O Índice de Transparência do Mercado foi calculado com base em seis indicadores:

● percentagem de conta-quilómetros com valores falsificados;
● média de quilometragem falsificada (em quilómetros);
● percentagem de veículos danificados;
● valor relativo dos danos;
● percentagem de veículos usados importados;
● idade média dos veículos verificados.

Dado que estes indicadores não têm o mesmo impacto na transparência do mercado, foram atribuídos diferentes pesos a cada indicador. Por exemplo, o número de quilómetros falsificados é mais importante do que a idade média dos veículos verificados num país.

A ‘carVertical’ exerce a sua atividade em 28 países e recolhe dados de mais de 900 bases de dados mundiais, tais como autoridades policiais, registos nacionais/estatais, instituições financeiras, e anúncios. Ao processar milhões de relatórios históricos de veículos por ano, a empresa consegue apresentar tendências, previsões abrangentes, e informações únicas sobre o mercado de veículos usados.

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