Máfia brasileira controla mais de 100 operacionais em Portugal: prisões são principais pontos de recrutamento
Uma das mais perigosas organizações criminosas da América do Sul, com sede em São Paulo, tem utilizado cada vez mais Portugal para lavagem de dinheiro do lucrativo tráfico internacional de cocaína: de acordo com o jornal ‘Expresso’, os brasileiros do Primeiro Comando da Capital (PCC) tem mais de 100 operacionais em Portugal, sobretudo em Lisboa e no Porto.
As atividades do grupo criminoso estendem-se a várias áreas: construção civil, imobiliário, aviação privada, importação de frutos exóticos, restauração ou até de barbearias. Segundo fonte judicial consultada pelo semanário, muitos dos negócios nem sequer são rentáveis. “Há barbearias ou restaurantes a funcionar em locais com rendas altas e sem clientes suficientes para ter lucro. Seriam precisos centenas de cortes de cabelo a menos de 10 euros para pagar as despesas”, apontou: o objetivo, no entanto, é só “fazer circular o dinheiro” do tráfico internacional.
Segundo a publicação, muitos dos donos destas empresas de fachada que fazem parte do ‘polvo’ do PCC – alguns dos quais saídos da faculdade e treinados pelo cartel – são utilizados como células adormecidas durante dois ou três anos: ou seja, têm uma atividade normal no dia a dia, como qualquer outro empresário do setor. No entanto, estão disponíveis para serem ativados a qualquer momento, assim que o cartel decida, para atividades criminosas mais exigentes.
Com a chegada a Portugal e à Europa, o PCC tem-se adaptado, apostando no cibercrime e nas burlas informáticas, já com um domínio extenso nos mercados de criptomoedas. “As ligações do PCC com outras máfias têm-lhes permitido ter acesso a novas técnicas de lavagem de dinheiro. E têm trabalhado com criptomoedas, que permitem pagamentos internacionais com muito mais facilidade e sem fiscalização, ampliando a capacidade de transporte de capital”, referiu o jornalista brasileiro Bruno Paes Manso.
Recorde-se que esta semana o jornal ‘Público’ revelou que o ‘polvo’ do PCC já chegou ao futebol, através da tentativa da compra da SAD de um clube nortenho do escalão secundário, depois de outras tentativas falhadas: há também um conhecido empresário de futebol que trabalha no mercado internacional de transferências que é tido como um funcionário do grupo paulista. Porém, segundo o ‘Expresso’, os negócios neste meio são mais extensos, passando por empresas e empresários de Lisboa.
Tal como no Brasil, o PCC tem ‘batizado’ novos membros nas prisões portuguesas, que se tornaram um dos principais pontos de recrutamento: em troca de pertencerem ao grupo, recebem proteção especial. “A Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais informa que acompanha e avalia as informações e ocorrências respeitantes ao sistema prisional nas suas diversas cambiantes, dando particular atenção às referentes à segurança, cujos resultados e procedimentos não são, naturalmente, suscetíveis de partilha pública”, apontou a direção prisional.
“Contando com os integrantes e outros elementos próximos do grupo — brasileiros e portugueses — acredito que o PCC tenha em Portugal cerca de uma centena de pessoas, já a contar com os batismos recentes”, explicou um alto responsável da área da segurança. “A violência do PCC no Brasil pode vir a ser importada para Portugal no espaço de dez anos, altura em que é provável que também passem a controlar o patamar da distribuição interna da droga. Para já, dominam as remessas e a entrada da cocaína em Portugal e até alguma da receção desses estupefacientes. Mas a distribuição, que gera conflitos diários entre diferentes fações, ainda não”, concluiu a fonte.