Lisboetas protestam esta tarde contra construção de hotel de luxo na Graça
O coletivo Stop Despejos realiza esta tarde uma concentração de protesto contra a construção de um hotel de luxo no Quartel da Graça, em Lisboa, num imóvel classificado como Monumento Nacional desde 1910, defendendo que o edifício deve ser destinado à comunidade – a menos de 50 metros do quartel, o Convento das Mónicas foi também concessionado para um hotel de luxo.
A ação está agendada para as 18 horas no Largo da Graça, em Lisboa.
Classificado como Monumento Nacional desde 1910, o Quartel da Graça constava da lista de imóveis históricos a reabilitar no âmbito do programa Revive, que foi apresentada em julho de 2019 pelo então Governo do PS. Três meses depois, em outubro, o executivo anunciou que a concessão do Quartel da Graça seria entregue ao grupo Sana, por um período de 50 anos, para a instalação de um hotel de cinco estrelas, correspondendo a uma renda anual de 1,79 milhões de euros.
O investimento estimado para a instalação do hotel, com 120 quartos, foi de 30 milhões de euros, com a abertura prevista para o final de 2022, prazo que não foi cumprido. E, apesar de já terem passado mais dois anos, o hotel no Quartel da Graça ainda não abriu.
Propondo que o Quartel da Graça “não seja mais um hotel de luxo na cidade”, o coletivo Stop Despejos defende a revogação da concessão atribuída em dezembro de 2019 ao grupo Sana, por considerar que é “um negócio prejudicial” para o bairro da Graça e para a freguesia lisboeta de São Vicente, até por promover a “especulação imobiliária”.
“A população exige que o Quartel da Graça, património do Estado, seja destinado à comunidade, que poderá gerir este espaço de forma autónoma para satisfazer as suas necessidades”, refere o coletivo pelo direito à habitação e à cidade.
Em 30 de novembro, o Stop Despejos convocou a primeira assembleia pública do bairro da Graça, com cerca de 120 cidadãos que propuseram “múltiplas e diversas” alternativas de ocupação do edifício, nomeadamente para biblioteca, ludoteca, oficinas, ateliês de artes, espaço para ciências e investigação, ginásio, cozinha comunitária, balneário público, salas para coletivos e associações, espaços intergeracionais de convívio, lazer e bem-estar para jovens e terceira idade, acesso a serviços, habitação e alojamento temporário de gestão cooperativa.
A concentração agendada para esta terça-feira no Largo da Graça acontecerá na data em que passam cinco anos sobre a assinatura do contrato de concessão com o consórcio vencedor do concurso público, constituído por duas empresas do grupo Sana.
O coletivo questiona ainda se a renda do valor anual estipulado de 1,79 milhões de euros está a ser paga. “Preocupados não só com as questões relacionadas com este edifício e com este bairro, este conjunto de habitantes reivindica que cesse a atribuição de licenciamento de hotéis e alojamentos locais na cidade de Lisboa, já estrangulada pelo turismo e que edifícios públicos como estes não sejam concessionados para fins privados e turísticos”, afirma o Stop Despejos.
Na perspetiva do coletivo, a falta de habitação “é um problema urgente”, assim como a falta de espaços urbanos comuns e de acesso livre para lazer, convívio, apoio mútuo, serviços essenciais à vida, educação não formal, artes, ofícios e cultura.
Lançado em 2016, o Revive é um programa conjunto dos Ministérios da Economia, Cultura e Finanças, que visa promover a recuperação e a requalificação de imóveis públicos classificados que estão sem uso, através da concessão a privados para exploração para fins turísticos.