
Como as escolas de negócios estão a preparar os executivos do futuro? Eis o que esperam os seus líderes para 2025
Num cenário de rápidas transformações tecnológicas, desafios económicos globais e uma crescente necessidade de lideranças estratégicas e inovadoras, as escolas de negócios têm um papel crucial no desenvolvimento de executivos preparados para enfrentar as exigências do futuro.
Para 2025, a formação de executivos exigirá uma abordagem mais abrangente, focada em competências que integrem o digital, a sustentabilidade e a gestão de equipas diversas.
A Executive Digest falou com os líderes das escolas de negócios portuguesas para perceber como estes perspetivam o crescimento da formação de executivos para 2025 e qual o foco que deve ser adotado pelas escolas de negócios.
Nuno Moreira da Cruz, Dean para a Formação de Executivos da Católica Lisbon School of Business & Economics
A educação, em todas as suas formas, é um dos pilares fundamentais do progresso humano. Nos dias de hoje, tanto o ensino superior quanto a formação executiva desempenham um papel crucial não apenas no desenvolvimento de competências, mas também na construção de um futuro mais consciente, sustentável e equitativo. Essa transformação reflete-se nas crescentes expectativas de empresas e sociedades, que veem a educação como uma ferramenta estratégica para enfrentar desafios globais e locais.
No contexto global, onde crises como as alterações climáticas e as desigualdades sociais colocam desafios sem precedentes, a educação universitária e a formação contínua emergem como ferramentas indispensáveis para moldar líderes responsáveis e comprometidos com o bem comum.
As universidades têm a responsabilidade de preparar cidadãos capazes de tomar decisões que considerem o impacto social, ambiental e económico das suas ações. Esta missão vai além da transmissão de conhecimento técnico; trata-se de inculcar valores éticos, senso de cidadania e uma compreensão profunda dos desafios globais.
As escolas de negócios desempenham um papel fundamental neste processo, promovendo uma cultura de aprendizagem ao longo da vida que não apenas responde às necessidades de mercado, mas também molda agentes de mudança. Essa aprendizagem contínua torna-se ainda mais crítica numa era de rápidas transformações, permitindo que executivos e profissionais se adaptem, inovem e liderem com propósito.
Longe vai o tempo em que a formação executiva se restringia ao desenvolvimento de competências técnicas ou comportamentais. Atualmente, ela é entendida como uma extensão da estratégia corporativa, oferecendo soluções práticas e personalizadas para alcançar os objetivos de negócio. Creio que há três dimensões que têm moldado essa nova abordagem:
Em primeiro lugar a necessidade de uma Integração Estratégica, a formação deve estar alinhada à realidade e às metas específicas das organizações. Isso exige uma abordagem consultiva por parte das escolas de negócios, garantindo que os programas sejam desenhados com base em diagnósticos aprofundados e que entreguem valor tangível.
Em segundo lugar o tema cada vez mais relevante da Medição de Impacto, onde demonstrar resultados claros e mensuráveis se tornou indispensável. A definição de indicadores de desempenho (KPIs) e a apresentação de relatórios que avaliem melhorias operacionais, culturais ou financeiras são agora práticas comuns, reforçando o valor estratégico da formação.
Envolvimento dos Colaboradores é a terceira dimensão crucial. O sucesso de qualquer programa depende da motivação e do envolvimento dos participantes. Isso implica criar experiências de aprendizagem memoráveis, com estratégias eficazes de mobilização antes, durante e após os programas.
Em resumo diria que a educação e a formação executiva deixaram de ser ferramentas isoladas de desenvolvimento e tornaram-se motores de transformação organizacional e social. Para as empresas, ela é uma alavanca estratégica com impacto direto nos resultados. Para a sociedade, é uma plataforma para moldar líderes conscientes e responsáveis, capazes de enfrentar os desafios globais.
Investir em educação é investir no futuro. Cabe às universidades e escolas de negócios liderar este movimento, criando experiências que inspirem crescimento contínuo e valores sólidos, alinhados à construção de um mundo mais sustentável e equitativo.
João Pinto, Dean da Católica Porto Business School
Para 2025, esperamos que a formação de executivos continue a crescer, impulsionada pela necessidade crescente de adaptação às novas realidades tecnológicas e sociais, nomeadamente nas áreas de ciência de dados e inteligência artificial, sustentabilidade e regeneração, liderança e ética, bem como toda a consequente transformação dos negócios. O aumento da introdução de soluções de inteligência artificial e outras tecnologias em todos os setores está a transformar o panorama empresarial, exigindo que os executivos adquiram novas competências.
As escolas de negócios, como a Católica Porto Business School, devem focar-se em áreas chave para responder a estas necessidades. É essencial continuar a integrar as mais recentes competências digitais e tecnológicas nos programas de formação, refletindo a nova realidade do ponto de vista tecnológico. No entanto, e especialmente na nossa escola de cariz humanista, as competências sociais e emocionais, como a liderança, a empatia e a capacidade de inspirar equipas, serão sempre muito relevantes. Adicionalmente, num momento em que as mudanças são enormes e rápidas, o desenvolvimento de ofertas formativas que reforcem competências dos gestores para liderarem processos de transformação (digital, para a sustentabilidade, para processos de sucessão, etc.) são fundamentais.
Além disso, em 2025, a promoção da sustentabilidade e a adaptação às preocupações sociais e ambientais continuarão a ser prioridades na Católica Porto Business School. Contamos já com vários programas e pós graduações. E com edições sempre cheias. Além disso, a recente contratação de Wayne Visser, fellow do Institute for Sustainability Leadership da Universidade de Cambridge e ex-Diretor dos Serviços de Sustentabilidade da KPMG, como o primeiro Professor de Práticas em Negócios Regenerativos, Inovação e Tecnologia no meio académico, vai permitir apresentar algumas novidades na formação e capacitação de empresas e organizações.
Acreditamos que a formação customizada e/ou incompany irá também crescer. E aí a colaboração e proximidade às empresas e outras instituições, nomeadamente as PME e associações empresariais, será crucial para garantir que a formação oferecida é prática, personalizada e orientada para resultados reais. Em resumo, o foco das escolas de negócios deve ser a oferta de programas que combinem competências tecnológicas e humanas, promovam a sustentabilidade e estejam alinhados com as necessidades do mercado numa fase de rápida transformação dos negócios. A Católica Porto Business School está bem posicionada para liderar neste contexto, oferecendo formações que preparam os executivos para os desafios do futuro.
Maria João Cortinhal, Dean da Iscte Business School
Para 2025, será expectável que a formação de executivos tenha uma procura crescente, impulsionada por várias tendências emergentes no ambiente corporativo. É premente a necessidade de formar pessoas capazes de liderar em ambientes/cenários cada vez mais complexos e dinâmicos. Por esse motivo, as escolas de negócios devem focar-se em algumas áreas-chave e preparar executivos para os desafios futuros.
Primeiramente, a digitalização e a transformação tecnológica continuarão a ser um foco central. As escolas de negócios devem incorporar nos seus programas tecnologias emergentes, como inteligência artificial e análise de dados, de modo a garantir que os executivos estejam preparados para liderar num mundo digital
Além disso, a liderança inclusiva e diversificada será essencial. É hoje reconhecida a necessidade e a importância de criar ambientes de trabalho inclusivos que valorizem a diversidade. As escolas de negócios devem, portanto, enfatizar a formação em competências de liderança inclusiva, promovendo a compreensão e a valorização das pessoas.
Outro foco importante será a sustentabilidade e a responsabilidade social. Com a crescente pressão por práticas empresariais sustentáveis, os executivos precisam de saber como implementar estratégias que não só gerem lucro, mas também contribuam positivamente para a sociedade e o meio ambiente.
Por fim, a adaptação e a resiliência serão competências cruciais. O ambiente de negócios está em constante mudança, e os executivos necessitam de se adaptar rapidamente a novas circunstâncias e desafios. As escolas de negócios devem, portanto, focar sua formação na resolução de problemas e na gestão de mudanças.
Em resumo, para 2025, as escolas de negócios devem adotar um enfoque holístico que combine tecnologia, inclusão, sustentabilidade e resiliência para preparar executivos capazes de liderar com eficácia num mundo em constante e rápida mudança e evolução.
José Crespo de Carvalho, Presidente do Iscte Executive Education
A formação de executivos está a passar por uma transformação crítica, e vai continuar a passar no futuro próximo, quer em formatos quer em conteúdos. Isto para além de estar a ser muitíssimo impulsionada por duas dimensões que vieram para ficar, tanto a dimensão tecnológica quanto o “perfil de consumo” e suas necessidades. Para 2025, é normal que se perspetive a atividade centrada nestas duas dimensões.
A tecnologia irá trazer-nos mais Inteligência Artificial e mais “no code approaches” o que fará com que tenhamos não apenas de ser utilizadores frequentes como mais conhecedores como, mais que tudo, criando incrementos de produtividade e eficiência por utilização das tecnologias.
Depois, com a mutação do perfil de clientes e de interesses e expressões difíceis de segmentar como as segmentávamos, teremos de entrar num ritmo de personalização que vai ter de ser conseguido à custa de puzzles de conteúdos e de formatos.
Isto dito, torna-se muito mais importante a trajetória de aprendizagem e o centro na pessoa enquanto elo entre conhecimento e experiência do que jamais foi. Mas será assim em 2025 como para os anos seguintes. As trajetórias dos profissionais serão diferentes, os formatos das formações serão mais “à la carte” e as experiências serão o resultado das composições que daqui saírem.
É igualmente crítico começar pelas fundações, não apenas tentando formar líderes com características próprias e em resultado das suas características de base mas, também, do percurso formativo a que são expostos (líderes não nascem, vão-se criando). E tudo começa pelo mais elementar que todos julgamos saber até à hora da verdade: auto-conhecimento. Sem auto-conhecimento ninguém lidera ninguém. Não se consegue gerir a si mesmo, não consegue encontrar as diferenças comportamentais que importam para potenciar uma equipa e não consegue gerir e liderar outros.
E se as fundações têm estado muito centradas na liderança é não menos importante perceber, e formar, seguidores. Seguidores fortes podem tornar um líder forte. Seguidores fracos tornam o líder mais fraco e o todo cairá ao primeiro tropeção, à primeira contrariedade.
Finalmente, uma palavra para a forma como trabalhamos no Iscte Executive Education. Ou seja, trabalhamos a pessoa como um todo. Não trabalhamos a pessoa apenas como um produto e que deve ser detentora de conhecimento. Procuramos, antes, trabalhar pessoas que o sejam de forma inteira: lado profissional e lado humano. Afinal de contas defendemos, todos os dias, que devemos ajudar as pessoas que por nós passam a colocar o coração do lado certo. Porque é pelo lado certo que se deve fazer caminho e se deve construir vida.
Procuraremos, para rematar, não ceder à pressão do imediato e do facilitismo, ou das buzzwords de moda, porque um ser inteiro é um ser cada vez mais completo e que não altera as fundações, fundamentos e valores, só porque se arranjou um novo nome para batizar o que já é conhecido há anos e anos. E infelizmente vemos cada vez mais incautos cair nas teias de armadilhas de nomenclatura bonita e fácil mas pouco eficaz ou sem aplicação prática. Sendo que nós, do nosso lado, enveredamos sempre pelo lado da aplicabilidade e da função utilidade perante determinado instrumento. Por isso o nosso motto é real life learning. Porque nos procuramos colocar do lado das soluções e não tanto do debate exaustivo – e tantas vezes estéril – dos problemas e respetivos diagnósticos.
Joana Santos Silva, CEO do ISEG Executive Education
“O crescimento da formação de executivos em 2025 será definido pela capacidade das escolas de gestão responderem a um mercado cada vez mais dinâmico e exigente, sendo para a inovação fundamental para isso.
A inovação no ensino executivo desempenha um papel essencial na preparação de líderes e profissionais capazes de enfrentar os desafios dinâmicos do mercado global. A aplicação de metodologias diferenciadoras, como aprendizagem baseada em problemas, estudos de caso e simulações práticas, promove uma experiência educacional mais rica e significativa. Essas abordagens personalizadas não apenas estimulam a participação dos participantes, como também facilitam a aquisição de competências práticas, tais como pensamento crítico, resolução de problemas e colaboração, que são cruciais no ambiente corporativo atual.
Além disso, as metodologias inovadoras são a base do conhecimento aplicado, permitindo que os profissionais conectem conceitos teóricos a cenários reais. Ao integrar ferramentas tecnológicas, como plataformas digitais interativas e inteligência artificial, o ensino executivo torna-se mais adaptável às necessidades individuais e às transformações do mercado. Assim, a inovação educativa não apenas eleva a qualidade da aprendizagem, mas também contribui para o desenvolvimento contínuo e sustentável do talento da organização.
Julgo que será através deste misto de inovação de temas e de metodologias aplicadas que conseguiremos criar um real “business case” de investimento na formação, seja a nível individual ou empresarial. Além disso, ao personalizar as metodologias para responder às necessidades específicas de diferentes indústrias e perfis de liderança, o ensino executivo torna-se mais relevante e impactante. Os participantes e empresas são cada vez mais criteriosos no que diz respeito ao retorno do investimento e à adequação da aprendizagem ao contexto de cada um.
No ISEG Executive Education temos feito um caminho de maior customização e aproximação a essa realidade, e continuaremos com o nosso compromisso de criar valor através das nossas formações.”
Pedro Brito, Professor convidado & Associate Dean na Nova SBE, responsável pela Executive Education Business School
A definição de crescimento pode ser diferente para cada escola de negócios. Pode estar mais relacionado com indicadores financeiros, com desenvolvimento das suas equipas, ou mesmo com impacto na sociedade.
Mas qualquer que seja a interpretação, o crescimento da formação de executivos depende em grande medida de três variáveis:
- Impacto: As escolas devem-se focar na criação de valor para os executivos e para as empresas que as procuram. Para que isso aconteça, é preciso sair da sala de aula com a genuína intenção de ouvir. Ouvir os executivos para perceber o que esperam de um programa educativo, porque nem sempre a resposta é “aprender”. Ouvir as organizações para compreender as necessidades e desafios do seu negócio. Ouvir a sociedade civil para compreender como é que uma escola de negócios pode contribuir para uma sociedade mais equilibrada através da educação. No fundo, cada escola deve perguntar-se “que impacto quero ter na sociedade?”.
- Parcerias: Os recursos das escolas são limitados. No entanto, através de parcerias estratégias, as escolas podem complementar as suas competências, alargar a sua rede e canais de distribuição e ter acesso a recursos para investir onde consideram poder ter maior impacto, seja ele financeiro ou na razão da sua existência. A pergunta que devem colocar, neste caso, é “quem são os parceiros que me vão ajudar a ter o impacto desejado?”
- Ambição: O crescimento da formação de executivos também depende da ambição e visão das suas lideranças. Quando esta ambição está aliada a um propósito forte, a capacidade de as escolas mobilizarem a sua comunidade interna e externa é maior. Para reflexão: “Será a nossa ambição e propósito suficiente para mobilizar os parceiros certos para o impacto que desejamos criar?”
Miguel Ângelo Rodrigues Diretor da UMinhoExec
Perante os desafios atuais, a formação executiva deixou de ser apenas uma mais-valia para se transformar numa necessidade quer para os profissionais, quer para os empregadores que queiram manter-se atualizados num mercado laboral em constante mutação.
Efetivamente, estamos a atravessar um período de transformação e adaptação constante. A evolução das tecnologias e da inteligência artificial veio criar uma grande necessidade de atualização e desenvolvimento de novas estratégias por parte das organizações e que as escolas de negócios serão obrigadas a acompanhar. Empresas e os seus profissionais procuram dota-se de novas ferramentas que permitem acompanhar a evolução do mercado.
Estes desafios estão alinhados com a missão da EEG “proporcionar percursos de aprendizagem inovadores e transformadores”. Esta jornada de conhecimento é contínua, pois a inovação gera constantemente novas necessidades, criando assim oportunidades para o desenvolvimento de novas ofertas de formação executiva.
No que concerne à UMinhoExec, temos vindo a fortalecer a proximidade com as empresas e as suas necessidades formativas, sobretudo na região minhota, marcada pelo seu elevado nível de empreendedorismo e exposição aos mercados internacionais. Esta colaboração tem encontrado muita recetividade, permitindo-nos ser parceiros estratégicos na superação dos desafios constantes, tanto de natureza empresarial como profissional. Por essa razão, manter e aprofundar esta proximidade com as organizações e empresas continua a ser essencial para nós.
Assim, estaremos atentos ao mercado, através de uma visão estratégica e muito personalizada de modo a conseguir boas práticas de gestão e boa governação que serão cada vez mais exigentes com os avanças das tecnologias. A tecnologia virá ajudar os executivos na consecução dos resultados organizacionais e as escolas de negócios serão o hub do conhecimento.