Leilão solar flutuante foi “certidão de óbito” do mercado de energia, diz antigo presidente da ERSE

O antigo presidente da ERSE Jorge Vasconcelos considerou hoje que os resultados do leilão solar flutuante foram a “certidão de óbito” do mercado de energia, com produtores dispostos a pagar para gerar eletricidade, o que prova a sua disfuncionalidade.

“Apareceram produtores de eletricidade dispostos, não só a não receber nada, como até a pagar para gerar eletricidade. Se alguém tinha dúvidas da disfuncionalidade do mercado de eletricidade tem aqui a prova. Isto foi uma certidão de óbito”, defendeu Jorge Vasconcelos, que participou esta manhã na conferência “A Energia no novo mapa geopolítico”, promovida pela agência Lusa, juntamente com o presidente executivo (CEO) da Endesa Portugal, Nuno Ribeiro da Silva, e o CEO da GreenVolt, João Manso Neto.

O Governo leiloou, na segunda-feira, a exploração de 263 megawatts (MW) de energia solar em sete barragens do país, tendo adjudicado um total de 183 MW, segundo avançou o Ministério do Ambiente e da Ação Climática.

o Governo afirmou que o leilão foi “um sucesso”, atingindo o preço mais baixo da energia mundial, com um lote ao preço fixo de -4,13 euros por megawatt-hora (MWh), equivalente a um desconto de 110% à tarifa de referência fixada inicialmente pelo Governo.

Para o também presidente da Newes – New Energy Solutions, este “episódio quase anedótico” demonstra que a “falência do mercado da energia está associada, neste momento, a um novo mercado – um falso mercado – o da capacidade de transporte [de eletricidade], que também é escasso e é por isso que há empresas que decidiram pagar para que alguém fique com a sua eletricidade”, esperando, assim, “benefícios na ligação à rede”.

“Quando decidirmos, em grande escala, apostar na descentralização e geração descentralizada de eletricidade, essa escassez [de ligação à rede de transporte] deixa de existir”, considerou Jorge Vasconcelos.

Para o responsável da Newes, só em conjunto com Espanha se poderá tratar o problema do disfuncionamento do mercado.

“Temos a eletricidade ‘verde’ mais barata da Europa, assim a saibamos aproveitar”, realçou Jorge Vasconcelos, lembrando que os custos do quilowatt-hora fotovoltaico na Península Ibérica são cerca de metade dos do norte da Europa.

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